Força Nacional atua no município de Cariacica, no Espírito Santo
Força Nacional atua no município de Cariacica, no Espírito Santo. Crédito: Vitor Jubini - - 30/08/2019

Por que Cariacica não consegue reduzir o número de assassinatos?

Mesmo com a presença da tropa da Força Nacional, o município apresenta os mesmos índices de mortes violentas. Entenda os motivos

Publicado em 15/12/2019 às 18h22
Atualizado em 16/12/2019 às 13h01

Após um pouco mais de três meses de atuação da Força Nacional em Cariacica, numa estratégia do programa federal Em Frente Brasil para redução da violência, o número de homicídios não cai no município. Ao contrário, registrou aumento logo depois do início das operações dos agentes federais. E o questionamento torna-se inevitável: por que Cariacica não consegue reduzir os assassinatos?

Uma pista para essa dificuldade está descrita no Diagnóstico Socioterritorial da Segurança Pública em Cariacica, um estudo coordenado pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) para subsidiar o programa nacional na cidade. Dos dados que podem ser revelados, todos reforçam a condição de vulnerabilidade do município.

Entre os problemas identificados estão a desocupação de jovens de 15 a 24 anos, a falta de acesso ao esporte, lazer e educação, problemas na estrutura familiar dos jovens, desemprego e pouca geração de renda. Coordenador da pesquisa, Dennis Cazeli diz que outro indicador bastante preocupante é o alto índice de fecundidade entre as meninas de 15 a 19 anos. A gravidez na adolescência está muitas vezes relacionada à evasão escolar.

A pesquisa foi realizada em três dos 28 bairros da área de abrangência do programa federal. Moradores de Nova Rosa da Penha, Flexal I e Flexal II receberam a visita dos pesquisadores, bem como lideranças comunitárias fizeram parte de grupos focais do estudo. O levantamento foi feito a partir de maio, e o relatório foi apresentado no final do mês passado para que seja utilizado na definição de estratégias para o enfrentamento da criminalidade e, sobretudo, das condições que levam à violência.

NÚMEROS

A Força Nacional começou as atividades em Cariacica no final de agosto e, naquele mês, o município registrou nove mortes. Nos três meses seguintes, o número de casos foi maior: 11 em setembro, 16 em outubro e 10 em novembro. Especialista na área de Segurança, Pablo Lira diz que um aspecto a se considerar é a sazonalidade pois, segundo ele, o período entre abril e agosto, historicamente, há menos ocorrências. 

Questionado se, pelo fato da Força Nacional estar no município, essa tendência de aumento a partir de setembro não deveria ter sido refreada, Pablo Lira explica que outros fatores contribuem para Cariacica ainda ter tantos registros de homicídios. Um deles é a guerra entre gangues, que provocou várias mortes neste ano, e também o ordenamento territorial. 

"Muitos bairros cresceram de forma intensa e de maneira desordenada. Isso influencia também. São becos, vielas e outras áreas em que o trabalho de prevenção e de repressão policial fica mais difícil", sustenta. 

SEGUNDA FASE

A chegada das forças federais em Cariacica foi a primeira etapa do programa Em Frente Brasil. Uma nova fase vai começar, e contempla projetos e ações com um viés social. O prefeito Geraldo Luzia de Oliveira Junior, o Juninho, acredita que, a partir de então, o município passe a registrar dados mais positivos.

"Muitas pessoas enxergam melhoria na segurança pública se há mais disponibilidade de policiais, viaturas. Mas, se a gente consegue fazer o que está sendo proposto agora, de integração de políticas públicas, será outra realidade. Sabia que a primeira fase era necessária, uma espécie de freio de arrumação, mas o que vai transformar a realidade de uma sociedade é o foco no social", ressalta.

Juninho conta que, dos cinco municípios do país que estão recebendo o piloto do programa federal, Cariacica foi o primeiro a promover as oficinas interministeriais, que aconteceram na última semana. Nesses encontros, que envolveu áreas como a de Saúde, Educação e Assistência Social, foram avaliados os dados da pesquisa conduzida pelo Ifes, para identificar os problemas e discutir as soluções viáveis. "Foi feito um planejamento com metas a serem alcançadas", frisa.

Da série de projetos que estão programados para reduzir a violência em Cariacica, Juninho afirma que alguns estão com o processo mais adiantado. De um deles, o Estação 4.0, a documentação deverá ser assinada nesta segunda-feira (16), e prevê o repasse de recursos federais e equipamentos para a instalação de um espaço de qualificação para jovens na área de tecnologia. A previsão do prefeito é que, ainda no primeiro trimestre de 2020, seja iniciada a seleção da primeira turma. 

Também já está em andamento o projeto para implantação da Casa da Mulher, um local que será referência para as vítimas de violência buscarem apoio, e onde poderão fazer desde o boletim de ocorrência até permanecer, junto com os filhos, em abrigamento temporário. 

O Ministério da Justiça e a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) foram procurados para fazer um balanço sobre a atuação da Força Nacional em Cariacica, mas não quiseram se pronunciar. 

RAIO X DA FORÇA NACIONAL

  • EFETIVO
  • São 100 agentes da Força Nacional, sendo que 80 estão nas ruas e 20 cuidam de investigações e perícias.

  • APARATO
  • Os militares contam com 20 viaturas, 100 fuzis de calibre .556 e 100 pistolas .40. Na Força Nacional, há policiais treinados como atiradores de elite (snipers).

  • BAIRROS ONDE ATUAM
  • Flexal I, Flexal II, Graúna, Padre Gabriel, Alzira Ramos, Castelo Branco, Jardim Botânico, Jardim de Alah, Rio Marinho, Nova Esperança, Nova Rosa da Penha, Bandeirantes, Bela Aurora, Maracanã, Vista Mar e Vila Isabel. Depois, também foram incluídos Cariacica-Sede, Prolar, Aparecida, Porto de Santana, Porto Novo, Itacibá, Nova Brasília, Nova Valverde, Mucuri, Campo Grande e Vila Capixaba

  • INVESTIMENTOS
  • Além das ações da Força Nacional de Segurança, o município de Cariacica vai receber também do governo federal o montante de R$ 200 milhões para investimentos em diversas áreas, como educação, saúde e saneamento.

  • PRESENÇA EM OUTRAS CIDADES
  • Ananindeua (PA), São José dos Pinhais (PR), Paulista (PE) e Goiânia (GO) também contam com tropas da Força Nacional para ajudar na queda dos índices de criminalidade.

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