Um tratamento inovador contra o câncer feito com células reprogramadas do próprio paciente foi testado pela primeira vez na América Latina por pesquisadores do Centro de Terapia Celular da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. Conhecida como terapia de células CAR-T, a técnica foi usada para tratar um caso avançado de linfoma difuso de grandes células B o tipo mais comum de linfoma não Hodgkin, doença que afeta as células do sistema linfático. O paciente submetido ao tratamento no Brasil é um mineiro de 63 anos.
Em entrevista à CBN Vitória, o médico hematologista Renato Cunha, coordenador do Serviço de Transplante de Medula Óssea e Terapia Celular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP, responsável por liderar os estudos, explica como a terapia funciona.
O pesquisador detalha que a terapia genética consegue modificar células de defesa do corpo para atuarem em combate às que causam o câncer. Como uma última tentativa, os médicos incluíram o paciente em um protocolo de pesquisa e testaram a nova terapia, até então nunca aplicada no Brasil. A estratégia da CART-Cell consiste em habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de reconhecer o tumor. O ataque é contínuo e específico e, na maioria das vezes, basta uma única dose.
O tratamento desenvolvido ainda não consegue ser aplicado em escala, mas a universidade vem avaliando caso a caso. Para isso os pesquisadores estão disponibilizando o email de contato: [email protected] para pessoas que desenvolveram a doença, já testaram outras formas de tratamento e não tiveram resultados. Através deste contato os médicos estão avaliando caso a caso quem poderá participar do tratamento da terapia celular.
- A partir de amostras de sangue dos pacientes a serem tratados, os pesquisadores isolam um tipo de leucócito conhecido como linfócito T, um dos principais responsáveis pela defesa do organismo, graças à capacidade de reconhecer antígenos (ameaças) existentes na superfície celular de patógenos ou de tumores e desencadear a produção de anticorpos;
- Com auxílio de um vetor viral (vírus com material genético alterado em laboratório), um novo gene é introduzido no núcleo do linfócito T, que passa a expressar em sua superfície um receptor (uma proteína) capaz de reconhecer o antígeno específico do tumor a ser combatido;
- Os leucócitos reprogramados são expandidos em laboratório (colocados em meio de cultura para que se proliferem) e depois introduzidos no paciente. Antes do tratamento, uma leve quimioterapia é administrada para preparar o organismo;
- Cerca de 24 horas após a infusão das células CAR-T, tem início uma reação inflamatória, sinal de que os linfócitos modificados estão se reproduzindo e induzindo a liberação de substâncias pró-inflamatórias para eliminar o tumor, afirma Renato Cunha;
- Além de febre, pode haver queda acentuada da pressão arterial [choque inflamatório] e necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva. O médico deve ter experiência com a técnica e monitorar o paciente continuamente, diz o pesquisador.
[Fonte: USP]
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