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Irmãos recebem rins de única doadora e operam no mesmo dia no ES

Irmãos recebem rins de única doadora e operam no mesmo dia no ES

Luciano, de 33 anos, e Adriano, de 32 anos, têm a mesma doença. Cirurgias aconteceram em Vila Velha

Publicado em 16 de maio de 2019 às 23:49

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(Carlos Alberto Silva)

Eram mais ou menos 7h desta quinta-feira (16) quando Luciano Chagas Silvério, 33 anos, estava a caminho de Vitória e recebeu uma ligação do hospital. Quando tinha 25 anos, ele foi diagnosticado com uma doença renal que o obrigava a se submeter à hemodiálise três vezes na semana. No telefonema, uma das melhores notícias que poderia receber em uma manhã despretensiosa: “Achamos um rim compatível para você fazer o transplante”. Se não bastasse, a segunda frase da conversa foi: “E temos um para o seu irmão também”. No fim da tarde, os dois entraram em cirurgia para receber os órgãos de uma mesma doadora.

Luciano e o irmão, Adriano Chagas Silvério, de 32 anos, têm a mesma insuficiência renal e há oito e 12 anos, respectivamente, iam às segundas, quartas e sextas filtrar o sangue em máquinas – coisa que o rim deles já não fazia há muito tempo. “Fazer a hemodiálise é muito ruim. Acho constrangedor e é uma situação muito complicada”, lamenta Adriano.

Quando recebeu o telefonema, Luciano não pensou duas vezes em dizer que aceitava a cirurgia. Correndo, voltou para Movelar, bairro de Linhares onde moram os irmãos, para buscar Adriano e ir correndo para o Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), onde as cirurgias foram feitas.

A relação dos dois é de uma forte ligação. Tanto que moram na mesma casa e decidiram enfrentar o problema juntos. “Eu fui diagnosticado primeiro. Depois, o meu irmão foi. Quando isso aconteceu, decidimos que íamos enfrentar tudo juntos, porque acreditamos que seria mais fácil de lidar com os obstáculos”, diz Adriano.

A DOADORA

A doadora dos rins é uma jovem, de 28 anos, que morreu na noite da última quarta-feira vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). “Queria conhecer a família para agradecer, porque pouco se fala da importância da doação”, comenta Adriano.

O ALÍVIO

Cada um dos irmãos tem três filhos e esposa. Segundo eles, é um alívio para a família e amigos saber que a partir dos próximos dias podem ficar tranquilos sem depender da hemodiálise. “Estamos muito felizes. Queremos comemorar quando sairmos do hospital e com todos. Quero viajar, conhecer o Brasil, não ficar mais preso a uma máquina”, diz Adriano.

(Carlos Alberto Silva)

SINTOMAS

Tanto Adriano quando Luciano se sentiam com um cansaço fora do normal, tinham náuseas e às vezes até dores em algumas partes do corpo. Adriano descobriu a doença crônica aos 19 anos e começou a tratar desde então. À época, também entrou para a lista de espera por transplante de rim. Anos depois, reparou que o irmão, então com 25 anos, estava com sintomas suspeitos e o recomendou um especialista.

“Fiz exames, os resultados mostraram o problema e até repeti algumas análises”, lembra Luciano. Em seguida, ele também começou a fazer a hemodiálise e entrou para a fila da doação de órgãos.

Para os dois, o transplante era a esperança maior. “Mesmo com a diálise temos muitas restrições. Nem água à vontade podemos tomar”, conta Luciano.

CASO DE COMPATIBILIDADE É RARO

O caso dos irmãos não é inédito, mas é bastante raro. É que não é comum um mesmo órgão servir para duas pessoas que têm um parentesco tão próximo, como é o caso de Adriano e Luciano.

“Isso aconteceu, de eles conseguirem essa compatibilidade, porque a carga genética deles é idêntica. O que também indica que esse problema deles pode ter um fator da família”, esclarece e nefrologista Luciana Assis, que é coordenadora do Centro de Nefrologia do Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV). Ela que geriu a entrada dos dois no centro cirúrgico do local.

De acordo com a médica, assim que chegaram lá os irmãos foram submetidos a exames que mostraram que eles realmente podem passar pela cirurgia. Em seguida, começaram os procedimentos para que o transplante fosse feito. Cada cirurgia dessa pode durar até quatro horas, dependendo da complexidade.

(Carlos Alberto Silva)

NÃO É CURA

Segundo a nefrologista, o fato de eles realizarem o transplante não exclui futuros cuidados. Isso porque, de acordo com a especialista, essa cirurgia não é a cura para a doença renal. “Eles terão que continuar acompanhando a saúde deles e também tomarão remédios imunossupressores, para evitar a rejeição do novo órgão, que farão com que o sistema imunológico deles seja mais frágil, ou seja, sempre de olho”, relata.

Ela detalha que o que melhora muito é a qualidade de vida dos pacientes transplantados. Segundo a médica, eles terão mais liberdade para se alimentar, já que hoje até a água é contada, e também ficarão livre para viajar quando quiserem. “Os pacientes que fazem os outros tratamentos, como a diálise, têm que ficar presos às máquinas, porque dependem delas. O órgão novo dá essa liberdade, que é muito bom em todos os casos. Mas não é cura”, reitera.

Luciana comenta que logo após à cirurgia os irmãos farão consultas duas vezes por semana e, depois, acompanhamento mensal. 

PAI E AVÓ TINHAM MESMA DOENÇA

Adriano e Luciano não são os únicos da família que enfrentam os problemas renais. Antes deles, o pai dos dois e a avó também lutaram contra os males da doença crônica até morrerem. O pai até chegou a fazer transplante, mas não resistiu.

A nefrologista esclarece que, nesse caso, há um forte indício de que, mesmo crônica, a doença pode ter um aspecto genético na família dos irmãos.

Cada um dos dois tem ainda três filhos. Todos passaram a fazer exames periódicos para monitorarem a saúde depois que Adriano e Luciano foram diagnosticados com a insuficiência.

Luciano lembra que o pai deles fazia hemodiálise no Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV) e chegou a ser submetido à cirurgia no mesmo local. A avó só passava pelas sessões de diálise.

“Nosso pai teve esses mesmos sintomas e, anos depois, a nossa avó também descobriu a doença igual. A avó foi diagnosticada mais tarde, mas também conseguiu chegar a iniciar o tratamento”, detalha.

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Ainda com esse histórico, os irmãos garantem que têm esperança e comemorarem a chegada dos rins. “Estamos felizes, em festa e com muita esperança. A vida vai ser diferente”, comemoram.

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