Publicado em 5 de novembro de 2018 às 18:32
O comerciante Wagner José Dondoni de Oliveira, que estava previsto para sentar banco dos réus, no Fórum de Viana, uma década após o acidente que pôs fim a vida de uma família, alegou que se sentiu ameaçado e não compareceu ao julgamento na manhã desta segunda-feira (05). Para o cabeleireiro Ronaldo Andrade, único sobrevivente da tragédia, faltou coragem a Dondoni. "Não adianta ele tentar fugir da responsabilidade, não tem salvação para ele", afirmou.>
Apesar de Dondoni não ter comparecido, o julgamento foi mantido e a expectativa é de que termine ainda nesta segunda-feira (05). Dez anos depois de perder a esposa e os filhos, Ronaldo diz que confia na Justiça, embora ainda seja muito doloroso reviver as memórias daquele dia 20 de abril.>
"Muito doloroso ouvir certas coisas, reviver isso tudo. Mas tenho certeza que hoje vamos sair daqui com a vitória. As provas são contundentes, vamos sair com essa vitória hoje", disse.>
"MEU DEUS, SEGURA, PORQUE VAI BATER">
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Ronaldo foi o primeiro a depor na manhã desta segunda-feira (05), e afirmou que Dondoni apareceu do nada na frente dele e que, poucos minutos antes da batida, se recorda de dizer para o filho: "Meu Deus, segura, porque vai bater". Depois disso, não se lembra de mais nada.>
Quando questionado sobre qual era a revolta que ele sentia em relação à tragédia, disse: "Quer revolta maior do que perder meus filhos?">
O cabeleireiro prestou depoimento por mais de 50 minutos, bastante emocionado. Em alguns momentos, ele não conseguiu falar. Além de toda tragédia, Ronaldo contou que os pais dele morreram logo após o acidente de tristeza pela morte dos netos.>
DEMORA>
A longa espera pelo desfecho da história decorre dos vários recursos apresentados pelo réu até em cortes de Brasília. O processo só voltou a caminhar no 7 de junho deste ano, quando o Tribunal de Justiça do estado informou à 1ª Vara Criminal de Viana, uma vez que os últimos apelos apresentados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) haviam transitado em julgado - quando não há mais recursos a serem feito.>
Começou então uma nova saga, uma vez que todos os juízes do Fórum de Viana se deram por impedidos ou suspeitos para julgarem o caso. Foi preciso que o Tribunal indicasse um magistrado, Romilton Alves Vieira Júnior. Logo depois houve dificuldades para encontrar o advogado do réu, que contratou novas pessoas para realizarem a sua defesa. Por último até uma testemunha de defesa se recusou a depor e, pode determinação do juiz, vai ser conduzida ao julgamento de forma coercitiva, ou seja, por um oficial de Justiça. E se for necessário, ele poderá pedir apoio da Polícia Militar.>
ACIDENTE>
No dia 20 de abril, a família de Ronaldo Andrade seguia para Guaçuí, no Sul do Estado, para uma visita aos familiares. No carro estavam a esposa, Maria Sueli Costa Miranda, de 29 anos, e os filhos Rafael Scalfoni Andrade, 14, e Ronald Costa Andrade, 4 anos. Na altura do km 304, próximo ao posto Flecha, em Viana, o carro em que viajavam, um Fiat Uno, guiado por Ronaldo, foi atingido pela S10 de Dondoni. Rafael morreu no local. Ronald, horas após ser socorrido. E a mãe, três dias depois. Ronaldo ficou muito machucado.>
Dez horas após o acidente Dondoni foi submetido ao teste etílico, que apontou 6,7 decigramas de álcool por litro de sangue. O limite, na época, era de 2 decigramas de álcool por litro de sangue. O comerciante, que chegou a ser preso após o acidente, foi solto mediante o pagamento de fiança de R$ 2, mil obtido por intermédio de uma vaquinha realizada pelos amigos.>
Dez quilômetros antes Dondoni já havia provocado outro acidente, ao jogar a S10 contra o carro de uma família de turista na altura de Seringal, que teve que desviar e acabou capotando. Ele fugiu do local sem prestar socorro. Um pouco antes ele entrou descontrolado em um posto de gasolina, em Guarapari, e quase colidiu com uma ambulância. Chegou a ser alertado pelos socorristas a não seguir viagem. No dia do acidente a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já tinha sido acionada sobre um motorista que estava ziquezagueando pela pista, mas não chegou a tempo de impedir a tragédia.>
A pronúncia do comerciante - a decisão judicial que o levou à Júri Popular - ocorreu um ano após o acidente, em 2009, mas os recursos acabaram postergando o julgamento. Só este ano, após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) informar que os recursos apresentados pelo réu não foram aceitos é que o processo foi retomado. Enfrentou ainda dificuldades para que um juiz assumisse o caso, já que todos os que atuam em Viana se deram como impedidos ou suspeitos. Foi necessário que o Tribunal de Justiça do Estado indicasse um magistrado, Romilton Alves Vieira Júnior, que marcou para o próximo dia 5 a audiência.>
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