Publicado em 23 de junho de 2018 às 00:35
Uma onda de violência tem assustado os estudantes do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória, que são obrigados a conviver com a sensação de medo em sua rotina de estudos. Na última terça-feira, um bandido armado invadiu uma sala de aula e assaltou duas alunas. Já no começo do mês, um homem foi vítima de estupro na universidade.>
O abuso sexual aconteceu no prédio IC 1, no Centro de Ciências Exatas (CCE). A Administração Central da Ufes informou que, assim que foi comunicada sobre o caso, encaminhou a vítima para o Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), em Maruípe, Vitória, onde ele recebeu atendimento clínico e psicológico.>
Ainda segundo a Ufes, representantes da universidade acompanharam a vítima na delegacia, onde foi registrado um boletim de ocorrência. O titular da Delegacia de Goiabeiras, Izaias Tadeu Vieira da Silva, informou que está com o caso. A vítima já foi ouvida. Já recebemos as imagens de videomonitoramento da universidade que foram encaminhadas para a perícia. Agora o material vai ser editado para tentar melhorar a imagem. Assim o suspeito poderá ser identificado, explicou o delegado.>
Na última semana, outra situação de violência assustou estudantes. Um bandido armado entrou em um prédio do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) e invadiu uma sala onde estavam duas alunas de Serviço Social. Ele anunciou o assalto e roubou os pertences das jovens. A equipe de segurança da Ufes foi acionada, mas o suspeito conseguiu fugir do local. Além desse, outros seis casos de assalto foram noticiados por A GAZETA no último ano.>
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A Administração Central da Ufes informou que as estudantes foram encaminhadas para registrar um boletim de ocorrência. Ainda segundo a universidade, as imagens de uma câmera de segurança flagraram a ação do bandido, que foi identificado. Os vídeos foram cedidos à polícia. O caso do assalto também foi registrado na Delegacia de Goiabeiras. As imagens também já foram encaminhadas para a perícia, afirmou Izaias.>
Na avaliação do delegado, a segurança na universidade é muito frágil. Há um trânsito de pessoas estranhas no campus. Essas pessoas não são paradas, abordadas, então o lugar fica propício para a criminalidade. Os alunos ficam vulneráveis. A Ufes é muito grande, tem muitos espaços escuros.>
ALVOS>
Os bandidos que vem aqui já procuram um público certo que são mulheres. Eles ainda aparecem depois das 18h porque aí já está escuro, comentou o estudante de Gemologia Álvaro Curtis Peixoto Junior, 22.>
Com receio de se tornar mais uma vítima de bandidos, a universitária Yasmim Dias, 22, que estuda no CCJE, nem cogita escolher uma disciplina no turno noturno. Meu curso é vespertino, mas tem disciplina optativa que é à noite, só que não tem a menor condição. É muito perigoso, à tarde é mais tranquilo com a luz do dia.>
Para um grupo de alunas do primeiro período de Gemologia, o sonho de estudar em uma universidade federal infelizmente está sendo acompanhado de medo. Nós evitamos andar sozinhas. Andamos sempre juntas para não correr tanto risco de sermos assaltadas, comentou a universitária Aline Lacerda Silva, 19.>
Um dos fatores que aumenta a sensação de insegurança é que qualquer pessoa pode entrar na universidade, já que as cancelas e as portarias não contam com vigias. Não temos um número suficiente de seguranças. Não temos certeza que as câmeras funcionam. De noite não temos luz, é muito complicado. Os alunos reclamam muito de roubo de bicicleta em todos os lugares mesmo durante o dia, e até perto de lanchonetes, afirmou a aluna de Psicologia Heloisa Maria Silva, 20.>
"É PRECISO CONTROLAR AS ENTRADAS 24 HORAS">
Além do trabalho de ronda já realizado pelos seguranças patrimoniais da Ufes, os especialistas ouvidos pela reportagem sugerem que a universidade faça o controle de quem entra e sai da universidade dia e noite. Eles propõem que outros agentes privados fiquem nos pontos de acesso aos campi para inibir a ação dos criminosos.>
É preciso fazer o controle nas entradas e saídas 24 horas. A presença de vigilantes tem efeito de dissuasão dos criminosos, inibe a prática de crimes, explica o professor de segurança pública Pablo Lira.>
Segundo Lira, outras intervenções estratégicas podem aumentar a segurança, como a poda de árvores e aumento da iluminação artificial, já que a noite o risco aumenta, segundo os estudantes. Na região do planetário e da gráfica, por exemplo, a iluminação não dá conta, diz.>
O perigo à noite, inclusive, fez o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) reduzir o horário de funcionamento de áreas administrativas, em fevereiro. As secretarias dos cursos fechavam às 19h, segundo publicado pela coluna Leonel Ximenes na época.>
RONDAS>
Desde agosto passado, a Polícia Militar é autorizada a fazer rondas dentro do campus de Goiabeiras. Essa era uma demanda antiga dos alunos e professores. No entanto, os casos de roubo e estupro seguem acontecendo.>
Lira aponta fatores que facilitam a ação dos bandidos como a localização do campus, com saídas para o mangue e para o Canal de Camburi, e até a geografia dos prédios, que são muito espaçados. São características que potencializam o crime, principalmente a noite.>
O especialista de segurança pública Jorge Aragão concorda que a Ufes não é um local protegido. Quem não conhece os caminhos, pode acabar no meio do mangue, ou em um local ermo e escuro, e ser alvo fácil dos bandidos, diz.>
Para ele, a reitoria tem que ver com as autoridades competentes para que se abra uma possibilidade de contratar mais segurança privada.>
UFES CONTA COM 415 CÂMERAS DE SEGURANÇA>
O campus de Goiabeiras da Ufes conta com vigilantes armados próprios e terceirizados, segundo a Administração Central da Universidade. Além disso, 415 câmeras foram instaladas e funcionam 24 horas, sendo monitoradas em tempo real pela equipe de segurança da instituição.>
Em caso de movimentação suspeita, vigilantes são imediatamente acionados, informou a universidade, por meio de nota.>
Ainda segundo a Ufes, o campus está inserido na programação de rondas da Polícia Militar. Procurada, a PM informou que atende ocorrências no local quando é acionada via Ciodes.>
Já em relação à iluminação, que é uma reclamação constante dos estudantes, a Prefeitura Universitária explicou que já levantou os pontos onde há deficiência de iluminação para providenciar o reparo.>
Ainda segundo a prefeitura do campus, em caso de roubo ou de ameaça à segurança as pessoas devem comunicar à Gerência de Segurança por meio do telefone 4009-2727, que funciona 24 horas. A equipe também pode ser acionada pelo aplicativo Alerta Ufes, no qual os usuários enviam um alerta para a central de videomonitoramento avisando sobre qualquer problema, desde a deficiência na iluminação de determinada área até a ocorrência de um acidente ou situação suspeita.>
CASOS RECENTES>
Junho de 2018>
Um homem foi estuprado e duas alunas do curso de Serviço Social foram assaltadas por um bandido armado dentro de uma sala, em Goiabeiras.>
Maio de 2018>
Uma estudante do curso de Cinema e Audiovisual teve o celular roubado em Goiabeiras por dois bandidos quando ia para a teria aula.>
Dezembro de 2017>
Bandidos armados saíram do mangue e renderam três trabalhadores do Departamento de Engenharia Ambiental do Centro Tecnológico. Como não tinham celulares e dinheiro, foram agredidos com socos na cabeça.>
Setembro de 2017>
Um professor de Engenharia Ambiental foi assaltado por três criminosos armados que saíram do mangue, em Goiabeiras. Celular, relógio e notebook foram roubados.>
Agosto de 2017>
DENTRO DA SALA>
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Bandidos armados saíram do mangue e assaltaram uma pesquisadora de Engenharia Ambiental dentro de uma sala, em Goiabeiras.>
FARDADOS>
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Bandidos armados e com fardamento do Exército assaltaram dois seguranças do campus de Maruípe. As vítimas tiveram as armas, coletes e radiocomunicadores levados pelos assaltantes.>
FACA>
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Uma doutoranda em Química teve o celular, o computador, e cartões de crédito roubados por dois bandidos que saíram do mangue, em Goiabeiras. Um dos bandidos a ameaçou com uma faca.>
POLÍCIA DIZ QUE SÓ VAI A CAMPUS QUANDO É ACIONADA>
Apesar da Administração Central da Ufes informar que o campus de Goiabeiras faz parte da programação de rondas da Polícia Militar, a PM respondeu, por meio de nota, que apenas vai ao local quando recebe um acionamento via Ciodes, pelo número 190.>
Questionada sobre a quantidade de rondas, de ocorrências, de detidos e se o campus de Maruípe também faz parte da programação de rondas, a PM se limitou a responder que atende ocorrências no local todas as vezes que há um acionamento. Por isso é importante que, em casos de suspeita ou ocorrência de crime, uma viatura seja acionada.>
A reportagem também perguntou à PM se há algum plano de segurança sendo elaborado para solucionar os problemas de violência que têm perturbado os estudantes e servidores, mas a corporação não respondeu sobre o assunto.>
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