Em meio a uma frequência alarmante de problemas envolvendo prédios e condomínios no Espírito Santo nas últimas semanas, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-ES), Jorge Silva, afirmou que tem observado uma "pressão" por parte de bancos e empresas de construção para agilizar a liberação de imóveis com falhas estruturais e interditados.
"Tem existido muita pressão de grandes empresas, grupos econômicos, de próprios banqueiros para que obras sejam desinterditadas imediatamente. Nós não vamos aceitar essa situação", disse em coletiva à imprensa realizada nesta sexta-feira (19) para apresentar o balanço das ações de vistoria e fiscalização que o órgão tem feito.
Como exemplo, ele citou o imbróglio envolvendo o bloco 13 do Residencial Vila Velha, no bairro Jabaeté, evacuado após estrondos e rachaduras na estrutura na noite do último dia 11. Silva lembrou que o edifício chegou a ser interditado pela Defesa Civil do município na sexta-feira (12), em função de problemas estruturais, e a orientação era para que assim ficasse por pelo menos 72 horas, mas foi liberado já no dia 14. No dia 15, após mais estrondos, voltou a ser interditado, e foi liberado novamente no dia 17 pela Defesa Civil.
“Temos que entender que as coisas não podem ser feitas com muita pressa. Elas têm um prazo. Quando nós orientamos para que se esperasse 72 horas para as pessoas retornarem, com 40 horas voltaram com os moradores para lá. E o que aconteceu? Houve outro estrondo à noite, outras avarias. Mas e se essas avarias fossem maiores e causassem um dano?”, questionou.
Segundo o presidente do Crea-ES, isso não seria um caso isolado. Ele destacou que na ação de fiscalização realizada pelo órgão nos últimos dias, denominada Operação Carnaval, foram vistoriadas cerca de 200 obras no Estado e cerca de 85% delas tinha algum tipo de irregularidade, que, no longo prazo, podem comprometer a estrutura das edificações e até mesmo provocar acidentes.
Sobre a liberação do retorno de 16 famílias ao bloco 13 do Residencial Vila Velha, em Jabaeté, a Defesa Civil do município informou que "fez a interdição preventiva do edifício mediante relato dos moradores sobre estalos e barulhos na estrutura, solicitando à Caixa, responsável pelo contrato com a construtora do prédio, um laudo com análise de patologias e diagnóstico. Com a apresentação deste laudo, produzido pela Caixa, atestando a segurança estrutural do prédio, houve a desinterdição."
A Gazeta acionou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sobre a fala do presidente do Crea de que há uma pressão do setor. A Febraban informou que “desconhece qualquer pressão do setor bancário para liberação de obras interditadas.”
Já o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES) também foi acionado, e informou que não vai se pronunciar sobre o assunto neste momento.
Das 200 obras vistoriadas pelo Crea-ES na Grande Vitória e no interior do Estado na última semana, durante a Operação Carnaval, 85% apresentavam algum tipo de irregularidade, segundo o órgão.
“São obras feitas por leigos, obras clandestinas. Observamos vários casos de empresas fabricando materiais utilizados na engenharia não só do Espírito Santo, mas mandando para fora. Casos de produtos vendidos como lajotas de cimento que nada de cimento têm”, relatou o presidente do Crea-ES, Jorge Silva.
Ele reforçou também que há diversas “empresas laranjas” de outros locais atuando no Estado, vendendo equipamentos a preços baixos, mas com especificações inadequadas às necessidades. De acordo com Silva, muitas delas têm atuado clandestinamente no fim de semana.
“No caso dessa empresa fabricando as lajotas, foi constatado o fato, a empresa foi autuada pela infração e estamos preparando um documento para ser levado ao Ministério Público do Espírito Santo para que sejam tomadas as devidas providências. Mas também há casos de outras empresas. A questão é que, em muitos deles, não conseguimos ainda identificar os donos. São fatos que estão sendo analisados.”
Nas ações de fiscalização, o presidente do Crea-ES afirmou que também foram identificadas diversas obras públicas e privadas paradas, em que construções estão sendo corroídas pelo tempo e até mesmo são alvo de vandalismo.
O órgão pretende procurar os governos municipais, estadual e federal e buscar alternativas para resolver essas questões. Jorge Silva explicou que, a fim de minimizar problemas em obras públicas, pretende também realizar um trabalho de orientação e fiscalização em relação às licitações que envolvam obras, serviços de engenharia, agronomia e semelhantes.
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