Desde a última segunda-feira, A Gazeta começou a viver integralmente o processo de transformação digital. No último sábado (05) foi lançado um novo produto, o jornal semanal, que trará um conteúdo atual, analítico e com alta qualidade. O lançamento do novo site - www.agazeta.com.br -, com notícias 24 horas por dia e em tempo real, também faz parte desta mudança.
A transformação, contudo, já é objeto de estudo de veículos de comunicação no mundo todo, que têm adequado, aos poucos, o melhor modelo às necessidades atuais. Para falar sobre esses novos formatos e como eles têm sido explorados no mundo, A Gazeta traz uma entrevista com o norte-americano Ken Doctor, analista da indústria de mídia e autor do livro Newsonomics: Twelve New Trends That Will Shape the News You Get (Doze novas tendências que moldarão as notícias que você recebe). Além do português, o livro também foi traduzido para chinês, mandarim, coreano e russo.
Doctor já trabalhou em seis continentes, prestando consultoria sobre novos modelos sustentáveis de negócios no jornalismo. Atualmente, ele comanda o site newsonomics.com, no qual escreve sobre modelos rentáveis de negócios na mídia dentro da transformação digital. Na entrevista, Ken Doctor fala sobre o cenário mundial das redações, os benefícios dessas transformações para os leitores e a importância de se reinventar em um mercado com novas tecnologias.
Como você vê essa transformação na distribuição de notícias nas redações?
Esta mudança é inevitável e atingirá o mundo todo. Nos Estados Unidos, as grandes empresas de comunicação já estão pensando em modelos de um ou dois dias de jornal impresso e cinco ou seis dias de conteúdo on-line. Eles já têm esses modelos prontos, sabem que em algum momento terão que se adequar, mas o que todos se perguntam é: ‘Qual a hora certa para fazer?’ Não é uma transformação simples, do dia para a noite, precisa ser planejada, bem executada, até porque é preciso mexer várias peças no jornal com essas mudanças e existe um medo grande quanto a isso. O certo é que o jornal impresso diário não vai estar aqui para sempre, novos modelos de distribuição estão surgindo e todas as companhias terão que passar por esta transformação.
Como esses novos modelos têm sido aplicados pelo mundo? Existe uma forma correta para essa mudança?
Vários experimentos estão sendo feitos. Ainda não sabemos o jeito certo de se fazer pois é algo que está sendo estudado, mas manter os jornais impressos no domingo tem sido a estratégia mais utilizada e que parece ser a mais inteligente, já que é o grande dia da semana para anúncios. O número de quantos dias cortar é algo que não está bem definido e cada jornal tem adotado a forma que melhor se encaixa ao que já vem sendo feito nas redações. Para muitos jornais, 75% da receita vem dos impressos, então cortar drasticamente a impressão diária significa um grande débito na receita. Na Europa, há muito tempo os jornais já produzem um jornal só para o fim de semana, em um modelo de sete dias on-line e seis dias impresso. Nos Estados Unidos, jornais locais de grandes cidades já abraçaram esse modelo de 7/1 ou 7/2, com sete dias de produção on-line e um ou dois dias de jornal impresso, assim como A Gazeta. O que é preciso levar em conta nessas transformações é o quanto a empresa está preparada para isso e quais são os riscos que ela quer tomar. Cortar um ou dois dias de jornal impresso vai diminuir o impacto no leitor, mas economicamente não vai fazer tanta diferença. Agora cortar cinco ou seis dias da produção impressa reduz significativamente os gastos, mas gera um impacto maior no hábito do leitor.
O que é importante para passar por esta transformação?
Você já tem que ter uma redação digital funcionando sete dias na semana e produzindo este tipo de conteúdo on-line, além de produtos bons, com credibilidade, que proporcionam o engajamento das pessoas. Grandes jornais, como o New York Times, por exemplo, têm explorado de uma forma incrível as ferramentas digitais, oferecendo conteúdos exclusivos para os leitores. Não acredito que seja um jornal que fará esta mudança logo, até porque os jornais nacionais no mundo trabalham de forma diferente que os jornais locais, mas com certeza eles já estão conscientizando o leitor do potencial da mídia digital. E isso é outro ponto extremamente importante nesta transformação. É preciso preparar o leitor com antecedência, para esta mudança, pois ele precisa entender o que está acontecendo. Conscientizá-lo de que o jornal impresso não vai estar aqui para sempre, porque todos os jornais terão que passar por estas transformações um dia. Essa conversa é fundamental e os leitores valorizam isso.
Ainda existe certa resistência de parte do público em consumir conteúdo digital. Como mostrar as vantagens desse meio?
Algumas pessoas vão rejeitar essa mudança e isso é normal, porque existe uma geração que não consome conteúdo digital porque acha difícil, não sabe como ter acesso. E o papel das empresas nessa transformação é mostrar para os leitores como acessar as informações. É importante fazê-los entender que no digital eles podem customizar o que gostam, o que querem ler. Que aquele colunista que ele seguia no jornal impresso também está no digital, produzindo o mesmo conteúdo, com a mesma credibilidade, mas com mais ferramentas, e isso é uma vantagem para o leitor. As newsletters (boletins de notícias) são interessantes nesse caso porque é uma forma bem direta e objetiva de dizer ao leitor: “Ei, esta é a vantagem do que estamos fazendo. Você pode ler isso, nós também estamos produzindo este conteúdo, você pode se interessar por este assunto.”
Quais são os benefícios dessa transformação nas redações para os leitores?
Os benefícios são inúmeros, mas acho muito importante destacar que esta transformação não é de perda. Muitos leitores acreditam que estão perdendo um produto, que era o jornal impresso diário, mas na verdade eles estão ganhando dois novos produtos, com a mesma ou até mais qualidade do que antes em duas plataformas diferentes. A mídia digital traz mais flexibilidade, permite mergulhar em diversos assuntos, ampliar o alcance e aproxima os leitores dos jornalistas. Isso faz com que as empresas conheçam melhor os leitores e cada vez mais produzam e entreguem o conteúdo que eles querem ler. O jornal impresso, por sua vez, passa a trazer um conteúdo mais analítico, com mais profundidade em reportagens, mais qualidade na informação. Há um nível de recursos enorme com esta transformação e as empresas de comunicação precisam saber aproveitar todo este potencial e trazer experiências diferentes para o leitor.
Como você vê o futuro das empresas de comunicação?
O ser humano, por natureza, é questionador, mas a forma como ele consome notícia está mudando e até mesmo onde ele busca essa notícia. Neste cenário, ter uma marca forte, que conversa com o leitor, é extremamente importante. Ele precisa reconhecer o valor daquela marca, do produto que ele está consumindo e as empresas que não tiverem isso bem consolidado vão ser levadas embora do mercado. Não haverá espaço para quem não utilizar as novas tecnologias. Fazer uso desse potencial digital e oferecer novos produtos é essencial.
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