Publicado em 25 de maio de 2020 às 15:19
Com as contas no limite devido à crise provocada pelo novo coronavírus, Estados tentam convencer o governo federal a sancionar um trecho do projeto de socorro financeiro aos entes subnacionais que desafogará os governos locais e transferirá à União a responsabilidade de quitar as dívidas com credores internacionais. No entanto, se a medida entrar em vigor, o governo do Espírito Santo não deve transferir a responsabilidade ao governo federal.>
A ideia é evitar que o Estado tenha a imagem manchada diante dos organismos multilaterais e, com isso, passe a ter mais dificuldades de aquirir novos empréstimos para financiar obras de infraestrutura ou pague juros bem mais caros ao contratar essas operações financeiras. Segundo o secretário da Fazenda, Rogelio Pegoretti, o governo chegou a buscar renegociação dos pagamentos com as entidades, mas a mudança na forma de quitação não faz parte das políticas dessas organizações.>
Na última quinta-feira ((21), um novo embate surgiu entre governadores e o Ministério da Economia na discussão sobre o plano de alívio aos Estados e municípios, estimado em R$ 125 bilhões. O dilema tem atrasado a sanção do projeto. Os governadores resistem em perder repasse do Fundo de Participação Estadual (FPE) - que é o fundo pelo qual o Tesouro Nacional transfere dinheiro para os Estados - em troca de a União pagar dívidas com bancos internacionais.>
Segundo dados do Ministério da Economia, o Espírito Santo poderia ter alívio de R$ 122,9 milhões se o governo federal sancionar a suspensão de pagamento das dívidas com os organismos multilaterais internacionais. Mas perderia um valor idêntico de repasse do FPE. Hoje, o Estado é contemplado com transferências que variam entre R$ 120 milhões e R$ 160 milhões por mês. >
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Mas, de acordo com o secretário de Estado da Fazenda, Rogelio Pegoretti, independentemente se a medida for sancionada com ou sem o veto pedido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o Espírito Santo não pretende deixar que União pague suas dívidas com os bancos internacionais.>
Pelas regras do Banco Mundial, se um Estado deixar de cumprir suas obrigações e quem arcar com a dívida for o avalista, que no caso é a União, ele passa a ser considerado inadimplente. Em uma carta enviada pelo Banco Mundial a várias autoridades do país, foi alertado a elas sobre outra regra que proíbe a União de executar contragarantias e garantias de empréstimos. Se os Estados e a União não pagassem ao Banco Mundial, o Brasil seria considerado caloteiro.>
Rogelio Pegoretti
secretário de Estado da Fazenda,O pedido para suspensão das dívidas com os bancos internacionais foi feito pelos governadores na última quinta-feira em conferência com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. >
Mesmo que não suspenda o pagamento aos bancos internacionais, o Estado renegociará os contratos com os bancos públicos nacionais. Essa revisão de prazos e de pagamento deve gerar um fôlego de R$ 320 milhões ao cofre do Tesouro Estadual. Já de acordo com dados do Ministério da Economia, o Estado deve cera de R$ 410 milhões a Caixa e ao BNDES. O governo estadual e os municípios capixabas também conseguirão postergar R$ 71 milhões em débitos com o Tesouro Nacional.>
Vale lembrar que uma decisão no Supremo Tribunal Federal atendeu ao pedido da administração de Renato Casagrande para suspender o pagamento da dívida. Mas assim que o projeto de socorro for publicado pela Presidência da República, o Espírito Santo terá 10 dias para desistir do processo.>
Além da questão da suspensão das dívidas, outro motivo tem tido peso ainda maior no atraso da sanção do socorro financeiro. O governo federal espera a aprovação de proposta ligada à Polícia Federal e à Polícia Rodoviária Federal no Congresso. A demora impedirá que o dinheiro chegue ainda em maio como era planejado aos entes subnacionais.>
Segundo o secretário da Fazenda, o Estado está iniciando a trajetória de redução da arrecadação. Por isso, é importante que esse aporte venha logo. "Nós temos ainda o caixa equilibrado. Mesmo com a queda de arrecadação de 30%, não temos a mesma urgência que outros Estados", diz. >
Rogelio Pegoretti
secretário de Estado da Fazenda,O secretário lembra ainda que o Espírito Santo tem um histórico de gestão fiscal responsável, tendo nota A no Tesouro Nacional desde 2012, primeiro mandato do atual governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). Ele explica que o esse equilíbrio do passado faz com que o Estado tenha capacidade de manter pagamentos, ter preços melhores nas licitações e ter um ambiente mais seguro para a atração de empresas. "Isso nos dá mais força para enfrentar momentos de crise, assim como foi nas chuvas no começo do ano", explica.>
Além da suspensão de repasses do FPE, uma cláusula que impede concursos públicos também está no centro do debate que tem atrasado a sanção da ajuda aos Estados e municípios. >
Segundo o texto, o projeto que aguarda a sanção presidencial, "ficam suspensos os prazos de validade dos concursos públicos já homologados" no dia 20 de março, data em que foi publicado o decreto legislativo que reconhece situação calamidade pública por causa da Covid-19. A suspensão, de acordo com o texto, abrange concursos federais, estaduais, distritais e municipais.>
Outro item que emperra a sanção do projeto de socorro aos Estados e municípios é a reestruturação das carreiras da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal e a contratação de novos policiais. >
O presidente tem até a quarta-feira (27) para assinar o projeto de socorro, mas aguarda análise no Senado de MP, com um texto que já foi aprovado na Câmara, que reestrutura as funções de chefia na Polícia Federal e prevê gratificações ao topo da carreira. >
De acordo com o governo federal, o impacto da medida será de aproximadamente R$ 7,9 milhões para este ano 2020. Além disso, a MP transforma os cargos comissionados em funções comissionadas destinadas. A medida ainda cria outros 516 funções comissionadas, sendo que são gratificações a servidores concursados.>
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