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ES perdeu mais de 70 agências bancárias em cinco anos

ES perdeu mais de 70 agências bancárias em cinco anos

Só em 2025, 26 agências foram fechadas em municípios capixabas e, até o fim do ano, mais cinco devem deixar de funcionar

João Barbosa

Repórter / [email protected]

Publicado em 9 de outubro de 2025 às 18:01

Agência da Caixa, Centro
Agência da Caixa Econômica Federal, no Centro de Vitória Crédito: Ricardo Medeiros

Nos últimos cinco anos, pelo menos 72 agências bancárias foram fechadas no Espírito Santo. Até o fim de 2025, o número deve chegar a 77. O movimento — também observado em outros estados brasileiros — é apontado pelas instituições financeiras como uma ação de modernização e digitalização dos processos de atendimento e também para redução dos custos, frente à concorrência de bancos que já nascem digitais e não dependem de espaço físico para prestar atendimento.

Por outro lado, clientes e funcionários apontam preocupações com a ausência das agências físicas. Enquanto alguns ainda apresentam dúvidas quanto à utilização dos canais digitais, quem representa os trabalhadores do setor alerta sobre demissões e acúmulo de funções.

Levantamento do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo (Sindibancários-ES) revela que, desde o início deste ano, 26 agências foram fechadas em diferentes municípios capixabas e, até o fim de 2025, mais cinco devem encerrar as atividades.

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ES perdeu mais de 70 agências bancárias em cinco anos

O Bradesco foi o que fechou mais agências no Espírito Santo desde 2020, com 40 unidades encerradas, sendo que mais uma deve deixar de funcionar até o fim de 2025 em Baixo Guandu, na Região Noroeste.

Nos últimos cinco anos, o banco fechou mais de 25 mil postos de trabalho em 1.800 agências em todo o país, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro. Especificamente no Espírito Santo, só em 2025, foram cerca de 40 demissões.

Agência do Bradesco em Baixo Guandu, Noroeste do Espírito Santo
Agência do Bradesco em Baixo Guandu fechará as portas até o fim de 2025 Crédito: Reprodução/Google Maps

Em nota enviada à reportagem, o banco destacou que esse é um processo que vem sendo adotado há algum tempo, visto que 98% do total de operações feitas pelos clientes acontecem por meio dos canais digitais.

“Dentro desse processo, algumas agências passam por adequação do seu tamanho físico e outras, por uma unificação. Os clientes são redirecionados para agências próximas à região e continuam tendo acesso aos principais serviços bancários através das unidades do Bradesco Expresso, rede de correspondentes bancários disponíveis em estabelecimentos comerciais que funcionam em horário ampliado ao das agências, além dos canais digitais do Bradesco, pelo aplicativo e internet banking”, divulga o banco.

O Itaú vem logo depois no ranking de fechamento de agências no Estado, com nove unidades encerradas nos últimos cinco anos, seguido pelo Banco do Brasil, que fechou oito agências de 2020 a 2021. Depois vem o Santanter, com sete unidades fechadas. 

Procurada pela reportagem, a gestão do Itaú foi a única que não enviou retorno sobre a suspensão de atividades no território capixaba.

Em nota, o Banco do Brasil explica que, desde 2021, manteve a estrutura em 82 agências no Estado, 9 postos de atendimento e 3 Postos de Atendimento Bancário (PAB). Além disso, informa o banco, houve avanço na disponibilização de soluções nos canais digitais para suporte aos clientes. Até o fim de 2025, não há previsão de novos fechamentos da instituição no Espírito Santo.

Já o Santander, também em nota, reafirma que o encerramento de atividades está ligado à reestruturação da rede de atendimento. Destaca, ainda, que os clientes podem continuar utilizando os serviços normalmente via aplicativo, internet banking, telefone, chat, além das demais lojas da rede física do banco.

A instituição espanhola, que fechou três agências em 2025, não informou se mais unidades serão encerradas e quantos pontos físicos continuam em funcionamento no Estado.

Agência Santander, Avenida Vitória
Agência do Santander fechada na esquina da Avenida Vitória com a Marechal Campos, em Vitória Crédito: Ricardo Medeiros

Outros bancos apostam na readequação dos espaços, transformados em “agências de negócios”. Caso do Banestes, que, desde 2019, fez 32 reformas em diferentes municípios capixabas.

A instituição divulga que preza por uma melhor experiência tanto dos clientes quanto dos empregados, com ambientes mais seguros e modernos se comparados às antigas agências.

Segundo o levantamento do Sindibancários, o Banestes fechou uma agência no Centro de Vitória em 2020 e outra de negócios em Linhares, na Região Norte, em abril deste ano.

Quando agências fecham, situação é preocupante

Além dos bancos privados, há também o movimento de encerramento de atividades em agências físicas da Caixa Econômica Federal. No Espírito Santo, seis estabelecimentos deixaram de funcionar em 2025 e há previsão do fechamento de mais quatro até o fim de outubro.

  • FECHADAS: Hospital Metropolitano (Serra); Posto de Atendimento da Justiça Federal (Cachoeiro de Itapemirim); Posto de Atendimento Bancário de Campo Grande (Cariacica); agências Vale, Bento Ferreira e Vitória Praia (Vitória).

  • PREVISTAS PARA FECHAR: Agência Vila Rubim (Vitória); agências Ibes e Praia da Costa (Vila Velha); e Cricaré (São Mateus).

    * As agências da lista acima devem encerrar as atividades até a segunda quinzena de outubro.

Para a vendedora Nilza Lisboa, cliente da Caixa Econômica, o movimento é prejudicial, sobretudo para idosos, analfabetos e pessoas que têm dificuldade com o meio digital.

“É triste ver isso. A gente vê as agências fechando em todos os cantos, sendo que há problema que deve ser resolvido pessoalmente no banco. Apesar dos aplicativos, eu mesma tenho muitas dúvidas sobre eles e também tenho medo de cair em golpes digitais. Mas infelizmente é isto: o mundo virtual está tomando conta”, lamenta Nilza.

No contexto da digitalização bancária, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulga que 82% das transações no país são feitas pelos canais digitais, que estão se consolidando como o principal ponto de relacionamento financeiro. O órgão divulga que, de um total de 208,2 bilhões de transações feitas pelos brasileiros em 2024, por meio dos diferentes canais de atendimento das instituições financeiras, 75% foram realizadas pelo celular.

“Algumas agências se transformaram em unidades de negócios e visam atender o novo perfil do consumidor, que busca, e encontra, comodidade, segurança e rapidez nos meios eletrônicos dos bancos”, divulga a Febraban.

Ainda assim, quem está diretamente ligado ao setor, lidando com clientes e funcionários diariamente, aponta preocupações com aqueles que ainda não entraram na estatística da federação sobre transações digitais.

Na avaliação de coordenadores do Sindicato dos Bancários, a situação da Caixa é a mais preocupante no contexto do fechamento das agências, já que a instituição opera políticas sociais do governo federal ligadas à habitação, ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e programas de atendimento à população mais vulnerável, público com pouco ou nenhum acesso aos serviços digitais ofertados após o encerramento dos trabalhos nos estabelecimentos físicos.

“Na prática, é uma análise puramente financeira, voltada à redução de custos e de postos de atendimento, sem considerar o papel social do banco. A Caixa alega que o perfil dos clientes é mais digital e que os demais podem ser atendidos em outras unidades, mas sabemos que a grande parte da clientela dos bancos não está inserida no mundo digital”, pondera Ronan Teixeira, secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindibancários.

O que está sendo feito com os clientes?

Segundo levantamento do Sindibancários, as carteiras dos clientes das agências fechadas estão sendo migradas para unidades mais próximas das que encerraram as atividades. A ação, porém, estaria provocando sobrecarga para os bancários e demora no atendimento, gerando filas para quem precisa dos serviços do banco.

“Com essa situação, recomendamos aos clientes o acionamento dos canais de reclamação da Caixa e também do sindicato sempre que houver dificuldade de atendimento”, explica Ronan.

O secretário ainda diz que, embora a Caixa tenha garantido que não haverá desligamentos, há casos de mudanças de unidades que afetam a vida social e financeira dos empregados.

O banco, por sua vez, divulga que realiza avaliações contínuas da rede de atendimento e que, quando há necessidade de reposicionamento de uma unidade, existe preparo para absorver a demanda e manter a qualidade do atendimento.

Em nota enviada à reportagem, a Caixa Econômica destaca que os empregados das unidades fechadas são realocados para agências da região, considerando critérios de proximidade e alinhamento com os interesses do banco e dos empregados, assegurando a continuidade profissional.

“A Caixa disponibiliza atendimento presencial em todos os municípios do Espírito Santo com 85 agências e postos de atendimento, 251 Lotéricas e 129 Correspondentes Caixa Aqui (CCA). Em todo o país, a rede conta com 4,2 mil agências e postos, além de 21,1 mil lotéricas e CCA”, divulga a instituição financeira.

Carlos Pereira de Araújo, coordenador-geral do sindicato, avalia o posicionamento do banco público como um “desrespeito com o cidadão e cliente”. A observação é similar sobre o fechamento de bancos privados.

“Muitas vezes as pessoas vão ao banco resolver questões que não são, necessariamente, ligadas a ser cliente, mas para tirar dúvidas e garantir uma orientação presencial. Quando isso é tirado das pessoas, são abertos precedentes para que a população fique a mercê de golpes digitais”, pondera.

Em meio ao fim do funcionamento de agências da Caixa e dos bancos privados, Ronan e Carlos explicam que há um movimento nacional dos sindicatos para a suspensão do que chamam de “onda de fechamentos”.

“No nosso entendimento, essas ações não podem continuar como estão. Nós passamos por uma pandemia e várias outras tragédias em que foi a Caixa, por exemplo, que teve o papel social de prestar assistência à população. Então, não queremos entrar nesse caminho de fechamento, mas, sim, abrir para absorver os clientes que ainda não estão prontos para o processo digital”, argumenta Ronan.

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