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Publicado em 22 de outubro de 2020 às 20:32
- Atualizado há 5 anos
No cenário atual, sair do aluguel para comprar um imóvel pode ficar mais barato que manter o contrato de locação . O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), usado no reajuste de contratos de aluguel no Brasil, acumulou alta de 20,56% nos últimos 12 meses, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). >
O mês de outubro ainda não foi encerrado, mas, até setembro, foi registrada alta de 18,2% no ano – percentual que, inclusive, está sendo utilizado por proprietários de imóveis no Espírito Santo para fazer o reajuste.>
O IGP-M é atualizado mês a mês, e, a partir da taxa dinâmica, é apurada a variação dos 12 meses anteriores. Desta forma, o percentual de reajuste para os aluguéis costuma variar de acordo com o período de “aniversário” do contrato, ou conforme outros termos predefinidos.>
Economista especialista em mercado imobiliário, Felipe Ribeiro, que atua junto à Im7, uma plataforma virtual para corretores, explicou que notificou um inquilino do reajuste nesta quinta-feira (22). >
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“Estamos ainda aguardando a aprovação, mas ele já foi notificado do reajuste de cerca de 18% em sua locação. Com a correção, o valor vai passar de R$ 1.205, para R$ 1.468,44.”>
Ele observa, entretanto, que nem sempre o reajuste seguirá o crescimento do IGP-M, e que, geralmente, há uma margem para negociação, nos casos em que o consumidor não consegue arcar com os custos.>
"Conforme a situação econômica vai progredindo, muitas pessoas que haviam pedido redução têm voltado a pagar o valor integral do aluguel. Mas há quem permaneça em situação complicada, seja porque teve redução de renda, seja porque está desempregado." >
Felipe Ribeiro
Economista especialista em mercado imobiliárioO empresário e proprietário do delivery de churrasco GrillBox, Kaique Salles, teve o aluguel comercial reajustado recentemente, entretanto, conseguiu negociar com os proprietários um percentual menor que o do IGP-M acumulado.>
"Acredito que foi porque já peguei o imóvel com um valor reajustado. Em maio, quando o negócio ainda pertencia a outra pessoa, o valor do aluguel subiu. E quando assumi o empreendimento, há pouco mais de um mês, houve um novo acréscimo. Consegui negociar o valor, e o aumento foi de 1% a 2%. Mesmo assim, foram dois reajustes em poucos meses.">
Ele comemora a negociação que, segundo ele, evitou outros problemas. "Como trabalho com carnes, já venho sofrendo com a inflação desse alimento. O arroba do boi encareceu muito e tive que repassar o preço. Não fosse a negociação do aluguel, eu teria que tentar substituir alguns produtos, trocar marcas.">
Em outubro, o IGP-M já registrou inflação de 2,92%. A taxa é inferior aos 4,57% de setembro, mas porque houve influência dos preços no atacado, medidos pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), cuja taxa de inflação recuou de 6,36% para 3,75% na prévia deste mês.>
O IPA, que compõe 60% do IGP-M, é um índice de inflação que calcula a evolução dos preços de produtos do agronegócio e da indústria no setor de atacado. Em outubro, foram detectadas desacelerações de preços de minério de ferro (de 17,01% para -0,34%); café em grão (de 6,74% para -8,25%); milho (de 14,3% para 7,8%), arroz (de 35,4% para 10,2%) e leite in natura (de 9,35% para 3,5%), por exemplo.>
Entretanto, a queda não é exatamente motivo para comemoração, uma vez que se trata de um indicador volátil, suscetível a pressões do mercado interno e externo, conforme destacou o economista André Braz, coordenador do IPC do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), ligado à FGV.>
“O IPA é um indicador muito volátil, muito sensível ao preço de grandes commodities, tanto agrícolas quanto industriais. E essas commodities variam tanto pelo preço em dólar, cotado em bolsas internacionais, como também pela desvalorização da nossa moeda frente ao dólar.”>
Braz observa que, à medida que se recupera da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, a China ampliou as compras de matéria-prima. Esse aumento de demanda pressionou o preço das commodities, cobrado em dólar.>
A esse fator é somada a desvalorização do real, potencializada pela dívida pública e pelo cenário de instabilidade política e econômica no país. Com isso, o custo de produção de certos produtos aumenta, diferente da margem de lucro das indústrias, que recua porque ainda não conseguem repassar o aumento real dos custos aos consumidores, que tiveram a renda afetada pela crise.>
O IGP-M também sofre influência do Índice de Preço ao Consumidor (IPC), que tem peso de 30% sobre o indicador, e do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.>
As variações do IPC são mais perceptíveis, pois englobam despesas com um conjunto de produtos e serviços: alimentação, habitação, vestuário, saúde e cuidados pessoais, educação, leitura e recreação, transportes, despesas diversas e comunicação.>
Com a pandemia, vieram as restrições a atividades - acompanhadas, geralmente, por diminuição da renda. Com escolas fechadas, caiu a inflação da educação. Com cinemas, teatros e espaços de eventos fechados, nada de gastos com recreação. >
Mesmo as despesas com serviços estéticos diminuiu, pois muitos consumidores não se sentiram confortáveis com a ideia de ir ao salão de beleza, por exemplo. Os gastos com transportes também desaceleraram diante da necessidade de isolamento social.>
Por outro lado, com as famílias reunidas em casa, fazendo mais refeições juntas, o consumo de alimentos cresceu. O aumento da demanda, combinado à baixa oferta por problemas de safra, entre outros, fez com que a inflação dos alimentos disparasse – essa, particularmente, foi sentida muito mais diretamente pelos consumidores. >
Conforme as atividades vão sendo flexibilizadas, porém, a tendência é que as demais despesas que compõem o IPC causem uma variação positiva do indicador.>
Também há influência do INCC, ligado à construção civil. Com a Selic – taxa básica de juros do mercado – a 2% ao ano, aumentou a procura por financiamento imobiliário. Com mais obras, aumentou a demanda por produtos, serviços e mão de obra ligados à construção de residências, o que contribuiu para o avanço do indicador.>
Sendo o IGP-M afetado por todos esses fatores, o economista André Braz estima que, apesar das oscilações, o índice, usado para reajustar preço de aluguel, deve encerrar 2020 com taxa anual entre 18% e 20% em 2020.>
“O principal motivo é o problema do gasto público. A dívida brasileira já se aproxima de 100% do PIB (Produto Interno Bruto). O país deve tanto quanto produz internamente. E isso é grave; dificulta atrair capital para investimento e desvaloriza nossa moeda. Precisamos de políticas públicas para reverter essa situação, e aliviar as pressões inflacionárias, principalmente ao produtor, que é de onde vem a principal razão para termos esse IGP alto atualmente.”>
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