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Black Friday: lojas parcelam em até 36 vezes e engordam os cashbacks

Black Friday: lojas parcelam em até 36 vezes e engordam os cashbacks

Diversas facilidades são oferecidas aos clientes para estimular as compras. Especialistas alertam, no entanto, que é preciso tomar cuidado com o endividamento

Publicado em 27 de novembro de 2020 às 16:20

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Black Friday: Consumidores vão às compras mesmo com a pandemia para aproveitar descontos de lojas
Black Friday: Consumidores vão às compras mesmo com a pandemia para aproveitar descontos de lojas. (Ricardo Medeiros)

Muitas empresas que aderiram às promoções da Black Friday deste ano buscam dar mais facilidades aos consumidores, que devem aproveitar os preços baixos até o início de 2021, para aumentar o volume de vendas. Entre alguns desses benefícios, estão o parcelamento das compras, em alguns casos, chegam a 36 vezes e os cashbacks ("dinheiro de volta", em tradução livre) de até R$ 950. 

Nas lojas Submarino e Americanas, as compras podem ser parcelas em até 12 vezes sem juros no cartão de crédito do cliente. Mas, caso ele faça o cartão próprio de qualquer uma das lojas, poderá garantir parcelas de até 36 vezes, exclusivas para adquirir produtos que custem, em média, mais de R$ 1 mil.

Por causa de uma parceria com bancos digitais, as duas empresas também oferecem o benefício do cashback, que consiste em receber uma porcentagem do dinheiro pago de volta. Uma TV de 85 polegadas que custa R$10 mil na Submarino, por exemplo, se tiver o cashback de 10%, pode sair com o desconto de R$1 mil. É possível achar outros produtos que oferecem esse recurso no site da loja.

Outra empresa que apostou nos cashbacks nesta Black Friday foi a Magazine Luiza. No aplicativo da loja, dá para encontrar geladeiras, celulares e televiões com retornos de até R$ 200 para a sua conta. Para acessar esse benefício, no entanto, é preciso ter instalado uma das carteiras digitais que operam com esse tipo de serviço, como é o caso do PicPay e da Ame Digital.

Além dessas, as lojas Extra, Ponto Frio, Casas Bahia e Carrefour também oferecem parcelamento de até 18 vezes no cartão da própria loja, além de 12 vezes no cartão de crédito do consumidor. Durante o período da Black Friday, a maioria apostou ainda no frete grátis, incluindo para o Estado. 

No Espírito Santo, vale citar as facilidades de compra nos sites Ricardo Eletro, que permite compras divididas em até 12x; Dalla Bernardina, que traz frete grátis para toda a Grande Vitória; e Sipollati, cujos descontos são de até 50% em 10 vezes no cartão de crédito. Essas lojas não oferecem cartão próprio da empresa. 

Black Friday: fila para entrar em loja em shopping no ES(Ricardo Medeiros)

PERIGOS DOS PARCELAMENTOS LONGOS

Apesar desses benefícios serem atrativos à primeira vista, segundo o economista Mário Vasconcellos, é preciso ficar atento. Isso porque, durante a pandemia, muitos postos de trabalho foram perdidos, o que diminuiu o poder aquisitivos das famílias. Devido à vacinação ainda não ter data marcada e os casos de Covid-19 estarem aumentando em todo o país, incluindo no Espírito Santo, esse cenário deve continuar instável pelos próximos meses.

“Quem não tem a certeza sobre como estará daqui alguns meses, se ainda terá emprego ou não, deve tomar cuidado. Quando nós compramos algum produto parcelado, prestamos atenção apenas às primeiras prestações, sem levar em conta que ainda temos mais 10 ou 20 meses pela frente. No entanto, muita coisa pode acontecer até lá, inclusive ficarmos sem renda”, explica o especialista. 

Vasconcellos esclarece, ainda, que podem existir muitas armadilhas por trás de um parcelamento. Embora o valor das parcelas não seja alterado até o fim do pagamento, elas escondem uma porcentagem de juros que já foi embutida. "Mesmo que você não saiba, está pagando a mais por aquele produto. Nenhuma empresa oferece facilidades sem ganhar alguma coisa em troca. Ainda que seja um valor pequeno, como 2%, tem um juros inserido ali", conta.

Por isso, a principal recomendação do especialista é que, ao fazer uma compra, ela seja quitada à vista. “Muitas empresas dão desconto se a compra de algum determinado produto for à vista. E isso é algo a ser levado em conta. Quando o pagamento é na hora, não há incertezas do futuro que atrapalhem. Você pode até perder seu emprego, sua forma de sustento, mas ele continuará ali”.

Outra dica para pagar menos e, ao mesmo tempo, manter o controle das contas, é fazer um planejamento financeiro. Com frequência, Vasconcellos recomenda que os gastos desnecessários sejam revistos, tanto dentro de um núcleo familiar quanto entre quem mora sozinho. "Se a pessoa quer adquirir uma TV, por exemplo, por que não abrir mão da academia? Tudo tem que ser colocado na balança, senão haverá um endividamento", questiona.

Mesmo assim, caso o indivíduo consiga se endividar,  a primeira consequência que ele deve sofrer é ter o nome incluído no Serasa, que impede a abertura de empréstimos e créditos. Ao quitar a dívida, também terá problemas para fazer novas compras, por causa do histórico que fica disponível aos comerciantes.

"Caso você seja uma pessoa que paga tudo atrasado, terá uma pontuação baixíssima dentro do 'Cadastro Positivo', ao qual todas as empresas têm acesso. Quando chegar em alguma loja, o vendedor verá essa condição e, com medo de levar prejuízo, pode elevar a taxa de juros", explica o economista.

plataforma "Cadastro Positivo", que pertence ao Serasa, permite que as empresas para as quais você pede crédito enxerguem todo o seu comportamento como pagador, ou seja, tanto os seus deslizes quanto os seus acertos. É o contrário do que acontece hoje com o cadastro negativo, quando as empresas analisam só as contas que você deixou de pagar, sem levar em consideração situações de emergência ou imprevistos.

Nesses casos, Vasconcellos sugere que os endividados recorram à própria empresa antes de ficar com o "nome sujo". "Vá até o seu credor e tente renegociar aquela dívida. Se estiver desempregado, por exemplo, fale sobre a sua situação e tente chegar em um acordo. Com esse envolvimento do cliente, é possível criar uma boa imagem".

CASHBACKS SÃO BONS, MAS ESCONDEM ARMADILHAS

Uma das principais apostas deste ano na Black Friday é o uso do cashback, que começou a popularizar-se há cerca de dois anos. Geralmente a premiação ocorre por causa das compras feitas pelo celular, na maioria das vezes. O serviço permite que os clientes tenham o reembolso de uma porcentagem do valor gasto, que vai para a carteira digital do cliente. Especialistas avaliam que é um dos recursos mais vantajosos do mercado atual, seja para os empresários, seja para o consumidor.

"No geral, o negociante nunca tem prejuízos com o cashback, apenas tem uma queda no lucro de cada produto. Só que, ao invés de vender 5 unidades, por exemplo, ele vende 15. Ou seja, ele ganha em volume de vendas, não no valor de cada peça. Ao mesmo tempo, o cliente pode receber uma parte do dinheiro investido de volta", explica Vasconcellos.

Para a doutora em Finanças e Contabilidade Neyla Tardin, esse tipo de estratégia já existia há muito tempo, mas recebeu esse nome quando surgiram o Picpay e outras empresas de banco digital. "É uma forma de atrair e ainda fidelizar os clientes, pois todo mundo gosta de sentir que está pagando menos", explica. 

Nos próximos anos de Black Friday, segundo Tardin, a expectativa é que outras empresas percebam a prática e, por verem que os consumidores estão mais antenados com a tecnologia, tentem replicar a prática. "A pandemia acelerou a transformação digital, pois muitas pessoas foram forçadas a consumir, pesquisar, tudo pelo celular ou pela internet. Então, a tendência é que o cenário do comércio mude daqui para frente", afirma a especialista.

Apesar de ser algo bom, comprar só para ganhar cashback tem que ser avaliado. Além disso, em algumas lojas que oferecem a bonificação, o produto pode estar mais caro do que em outra que não tem a mesma compensação. É preciso fazer contas para verificar se o valor devolvido é realmente mais vantajoso.

*Maria Fernanda Conti é residente do 23º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, sob a supervisão da editora de Economia Mikaella Campos.

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