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Vitória afirma que investigação sobre vermes aquáticos aponta fato isolado

Vitória afirma que investigação sobre vermes aquáticos aponta fato isolado

Segundo o secretário de Meio Ambiente Ademir Filho, a presença das Poliquetas em Camburi se deu por uma sequência de fatores climáticos e meteorológicos; biólogos pedem mais estudos

Publicado em 7 de julho de 2020 às 20:58

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O gênero de Poliquetas encontradas na Praia de Camburi é o Owenia sp
O gênero de Poliquetas encontradas na Praia de Camburi é o Owenia sp. (Daniel Motta)

Após o aparecimento das Poliquetas na Praia de Camburi no último dia 24, a Prefeitura de Vitória afirmou que tem feito um monitoramento diário da presença dos vermes aquáticos no local. O secretário de Meio Ambiente do município, Ademir Filho, informou que uma junta técnica composta por biólogos, oceanógrafos e engenheiros ambientais não encontrou mais esses anelídeos na areia e refutou a ligação das Poliquetas com poluição na praia.

A conclusão da investigação, de acordo com o secretário, é que a aparição das Poliquetas no local foi um fato isolado, decorrente de uma sequência de fatores climáticos e meteorológicos. Além disso, Ademir Filho afirmou que os testes conduzidos pela prefeitura indicam que a água da Praia de Camburi é limpa.

“Nós fazemos teste de balneabilidade da Praia de Camburi semanalmente. Esse teste faz uma análise que aponta bactérias que se alimentam de matéria orgânica. Os dados de balneabilidade mostram que em quase 90% do período testado de nove meses não foi identificada presença de matéria orgânica significativa”, disse.

Foto da parte anterior da espécie de Poliqueta encontrada na Praia de Camburi
Foto da parte anterior da espécie de Poliqueta encontrada na Praia de Camburi. (Daniel Motta)

Ademir Filho também alegou que o monitoramento da qualidade da Praia de Camburi é feito semanalmente e não depende da presença ou não das Poliquetas. Para ele, a matéria orgânica é base da alimentação de outras espécies e, em pequena quantidade, não é alarmante.

“A praia é diariamente monitorada e, se algo sair do controle, faremos um estudo mais aprofundado, o que não é o caso. Foi o aparecimento de um ser que é natural do assoalho marinho, presente em qualquer lugar do mundo. As Poliquetas se alimentam de matéria orgânica, que está presente em todo o oceano. Provavelmente, é o alimento de toda a base da cadeia alimentar oceânica, faz parte de toda a cadeia alimentar. Os estudos que a Secretaria de Meio Ambiente faz demonstram que, naquele local, não há matéria orgânica em excesso, muito pelo contrário”, concluiu.

O secretário também garantiu que a presença das Poliquetas não tem relação com a obra e engordamento da faixa de areia da praia, concluída no mês passado. Segundo o secretário, o material utilizado é constituído por 98% de areia e não possuía matéria orgânica em sua composição.

“A areia usada no engordamento é de grande qualidade, não há matéria orgânica. É um material com 98% de areia. Todo o processo de engordamento foi acompanhado. Se houvessem esses vermes aquáticos na areia utilizada, eles estariam em toda a praia, e não em um local específico”, disse.

ESPECIALISTAS PEDEM MAIS ESTUDOS

Para os biólogos Daniel Motta, biólogo que trabalha na Ethica Ambiental, empresa especializada em análises e estudos laboratoriais ambientais, e Karla Gonçalves da Costa, bióloga com doutorado em Oceanografia Biológica pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a presença das Poliquetas em grande quantidade pode sim ser um indicativo de poluição.

Daniel identificou que a espécie encontrada na praia pertence à família Oweniidae, que se alimenta da matéria orgânica presente na coluna de água ou nos sedimentos que precipitam e ficam no fundo do oceano. Por isso, nesse caso, segundo Daniel, não há como afirmar de onde esses resíduos podem ter vindo, já que há diferentes formas de produção e deposição de matéria orgânica no local. Ele afirma que a prefeitura deveria fazer também análise dos sedimentos, não só da água.

"Como houve esse bloom, uma quantidade massiva de uma espécie ou de um grupo no ambiente, sugere um desequilíbrio ambiental. No caso, por esses animais se alimentarem de matéria orgânica, indica uma grande quantidade desse material no ambiente. No final de Camburi tem o Rio Camburi, então já tem uma deposição de matéria orgânica ali", disse. 

Aspas de citação

A gente não sabe o porquê dessa grande quantidade, não sabe nem se já havia Poliquetas lá antes, porque as prefeituras não fazem análise de sedimentos, só de água. Então não tem como saber se já tinha esse bichos lá antes ou não. Não temos como fazer um comparativo

Daniel Motta
Biólogo
Aspas de citação

O biólogo afirmou que a faixa de areia segue exposta, já que ainda está em Maré de Sigízia, mas não encontrou mais as Poliquetas no local. Segundo Daniel, a ressaca do mar, reflexo do ciclone bomba que atingiu o Sul do país, aumentou o volume de ondas e pode ter lavado o sedimento. Daniel contou também que a falta de um estudo prévio no local torna a abundância das Poliquetas na Praia da Camburi um mistério.

"Como os bichos estavam ali no sedimento, a praia foi 'limpada'. Agora, voltando com o mar mais calmo, eles podem vir ou não, ainda não temos como saber. Não sabemos nem por que eles estavam em grande quantidade ali, ou se existiam ali em menor quantidade e, com a disponibilidade de alimento, conseguiram se alimentar e se reproduzir mais. Não temos como fazer um comparativo", alegou.

Praia de Camburi cheia de poliquetas na manhã desta quarta-feira (24)
Praia de Camburi cheia de poliquetas na manhã desta quarta-feira (24). (Internauta)

INDICATIVO DE PRAIA POLUÍDA

As Poliquetas não apresentam perigo aos banhistas, mas a presença delas pode indicar um importante fator em relação à praia: a propriedade para banho. Daniel explicou que os bicho podem sugerir que o local está impróprio para banhistas, já que a grande quantidade deles indica um descontrole ambiental.

"Eles podem sugerir que o local está impróprio para banho, mas não fazem mal para os seres humanos. Isso porque como há um bloom deles e eles se alimentam de matéria orgânica, indica um descontrole ambiental. Isso pode sugerir uma baixa qualidade da água", complementou.

NECESSIDADE DE ESTUDO NO LOCAL

A presença de fato das Poliquetas dessa família no local, como afirmou Karla Gonçalves, é normal. O que chamou a atenção dos biólogos foi a abundância dos bichos em uma faixa pequena de areia. Além disso, Karla explicou que parecia que os bichos haviam sido revirados do fundo do mar, o que pode indicar que vieram de outro local.

"Essa família é comum no local, não significa nada demais. O estranho foi aquele tanto. Precisa monitorar pra ver se vai continuar, estamos na lua cheia e volta a ter as marés baixas que ocorreram naquela época. Precisa ver se vai acontecer novamente. Essas Poliquetas vivem enterradas. Da forma como estava no vídeo, parecia que eles foram revirados do fundo. Não dá pra afirmar que elas estavam exatamente naquele local ou se foram levadas de algum lugar próximo", disse.

Karla alegou ainda que, caso as Poliquetas não voltem a aparecer de forma tão abundante, nada impede que tenha sido de fato um fenômeno natural. A bióloga, porém, reitera a necessidade de um estudo no local, para entender os impactos ambientais que ocorrem na Praia de Camburi.

"Por isso a importância de conhecer como é o ambiente, saber que animais vivem ali e como eles vivem, pra conseguir identificar quando acontece algo fora do normal. É preciso fazer um estudo do local, qualidade da água, análise de químicos e matéria orgânica no sedimento e também acompanhar o sedimento que estão engordando a praia. Tanto o local onde ocorre a retirada quanto o local onde estão colocando. Depois comparar tudo", finalizou.

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