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Publicado em 3 de novembro de 2025 às 18:30
- Atualizado há 11 dias
Considerado a causa mais provável do surto de infecção no Hospital Santa Rita de Cássia, em Vitória, segundo a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa), o fungo histoplasma é bastante comum em fezes de aves e morcegos e pode contaminar até mesmo quem não tem comprometimento imunológico.>
Segundo a professora Sarah Gonçalves Tavares, do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no meio ambiente, ele tende a ser encontrado em solos enriquecidos com fezes desses animais, em ambientes com pouca iluminação (como cavernas, galerias, entre outros) e temperatura não muito elevada, em torno de 18 °C e 21 °C.>
A professora explica que a maioria dos fungos não causa doenças. E que, para isso acontecer, o paciente precisa ter alguma deficiência imunológica. Entretanto, essa regra não se aplica ao histoplasma, que é um patógeno primário, que pode adoecer até mesmo quem tem um bom sistema imunológico.>
“Pelo simples fato de eu inalar uma carga fúngica alta, eu posso ficar doente. Se estou naquelas galerias ou estou num ambiente com ar-condicionado contaminado, por exemplo, e, por ventura, inalo essas estruturas desse fungo, dependendo da quantidade de carga fúngica, posso ficar doente. E as síndromes clínicas mais frequentes são justamente as pulmonares.”>
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Ainda segundo Sarah, a maioria dos pacientes contaminados pelo fungo tende a não apresentar sintomas, mas, em média, 5% evoluem para quadros de pneumonia, seja de forma leve, moderada ou grave.>
A evolução dependerá, sobretudo, de quanto fungo foi inalado e do paciente, de qual era o quadro de saúde quando foi contaminado. Uma pessoa imunodeprimida ou com algum tipo de comorbidade tende a vivenciar situações mais delicadas. >
“A pessoa pode ter sintomas semelhantes a um simples resfriado ou não perceber que ficou doente, e alguns pacientes podem ter sintomas mais agudos. Febre, calafrio, dor de cabeça, dores no corpo, tosse, cansaço… Também podem desenvolver artrite, artralgia, e podem ter um quadro mais delicado, inclusive evoluindo para óbito, dependendo do quadro. Isso é o que acaba acontecendo", aponta.>
Em casos leves a moderados, o tratamento com antifúngicos pode durar de seis meses a um ano. Já em casos mais graves, ela explica que é necessário fazer o medicamento de forma intravenosa, durante internação hospitalar.>
No caso de pacientes imunocompetentes (sem deficiências imunológicas), como dos funcionários afetados, a evolução do quadro tende a ser uma pneumonia autolimitada, que o próprio corpo cura, sem necessidade de antifúngico.>
Ainda não está claro nem comprovado, mas a coordenadora de Controle de Infecção Hospitalar do Santa Rita, a infectologista Carolina Salume, acredita que o contato com o fungo pode ter relação com frestas ou vedações ineficientes de janelas. Para a especialista, é baixa a chance da entrada do fungo ter acontecido pelo ar-condicionado. >
"Todo o ar-condicionado do hospital passou por manutenção e limpeza de filtro pouco antes do surto. Além disso, as amostras recolhidas nele foram negativas. Por isso existe a possibilidade de ter vindo pelas janelas, alguma fresta que tenha ficado aberta inadvertidamente. Isso porque as janelas de hospital não são abertas. É hipótese, mas acreditamos que ocorreu contato do meio externo com o meio interno do hospital", explicou Salume. >
A especialista afirma que toda vedação necessária para evitar a entrada de partículas foi feita de acordo com os protocolos. "Nós temos comissão de obra, inclusive no hospital. A gente segue todas as diretrizes junto à engenharia e à CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar), mas aconteceu alguma coisa que a gente ainda não sabe explicar", explicou.>
Embora o quadro clínico dos contaminados seja compatível com a histoplasmose, os testes realizados no Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES) e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, ainda não permitem afirmar de forma definitiva a origem do surto, por isso, as investigações continuam.>
Em uma amostra retirada de um bebedouro da unidade, por exemplo, também foi encontrada uma bactéria (Burkholderia cepacia), mas a infectologista avalia que a hipótese de que essa seja a causa do surto é pouco provável, uma vez que ela traria casos mais graves do que os apresentados pelos contaminados.>
“A gente não acredita que seja o motivo porque só foi encontrada em um ponto e, principalmente, porque temos 27 hemoculturas, de 27 pacientes, e todas elas foram negativas. E para essa bactéria ter chegado no pulmão, teria que passar pela corrente sanguínea. Se fosse um surto por Burkholderia, a gente esperaria um número maior de pacientes internados, de quadros graves, com sepse (infecção generalizada), porque é uma bactéria comum, a gente tem em todos os hospitais, e os quadros não são tão brandos quanto esses.”>
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