Um único número foi registrado como fonte de 4.386 ligações falsas para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) entre 2019 e 2023 no Espírito Santo, o que dá uma média de mais de dois acionamentos por dia. A informação é da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa).
Só no Espírito Santo, o Samu recebeu, desde 2019, 2.859.916 ligações. Desse total, 439.902 foram de trotes, o que representa 15% do total de chamadas. A secretaria não divulgou o número de onde partiram os 4,3 mil trotes, por proteção de dados, mas informou que o telefone fica registrado em sistema.
Com duas décadas de atividade, o Samu é uma importante porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto as ligações falsas ainda são uma realidade no atendimento diário dos profissionais que atuam nesse serviço.
Ocupar um atendente com uma ligação falsa ou, até mesmo, provocar o deslocamento de uma unidade de atendimento pode prejudicar diretamente quem precisa de socorro médico e pode ser considerado crime.
A média anual de ligações totais recebidas pelo Samu, entre 2019 e 2023, ficou em um pouco mais de 571 mil no Estado. São cerca de 1,5 mil ligações por dia. Só de trotes, são 87.980 ligações falsas por ano, no mesmo intervalo de tempo.
Ainda de acordo com a secretaria, os temas das ligações que são considerados trotes são variados, ou seja, não há um padrão de história para a mentira que é contada, exigindo ainda mais atenção dos atendentes que recebem as chamadas.
De acordo com a Sesa, na maioria dos casos, as equipes não chegam a receber a informação de localização, porque a chamada já é identificada como trote logo no início. O responsável por essa triagem é o telefonista auxiliar de Regulação Médica (TARM). O número fica registrado e o profissional consegue fazer a identificação.
A reportagem pediu acesso a algumas dessas ligações, mas a Sesa informou que não poderia enviar o material, em atendimento à Lei de Geral de Proteção de Dados Pessoais.
O serviço realizado pelo Samu foi o primeiro fruto da Política Nacional de Urgências e, atualmente, assiste 85% da população em 67,3% dos municípios do país. Sua importância é reconhecida mundialmente para os atendimentos de urgência.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) está presente em 22 municípios no Espírito Santo. Ele é gratuito e funciona 24 horas, por meio do acolhimento dos pedidos de ajuda médica.
O acolhimento dos pedidos de ajuda médica é feito através de ligações utilizando o número 192, e os contatos são repassados à Central de Regulação Médica das Urgências. O objetivo em todos os casos é garantir o atendimento à pessoa que está em situação de emergência o mais rápido possível e, assim, preservar uma ou mais vidas.
Ao receber a ligação, o médico regulador, presente nessa central de atendimento, ouve a solicitação e faz algumas perguntas para definir o "nível de urgência" do paciente, podendo prestar orientações ou solicitar o envio de unidades móveis, equipadas para prestar o primeiro atendimento no local da solicitação.
Essas unidades, conforme o tipo, são tripuladas por equipes capacitadas que reúnem médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e condutores socorristas.
Em 2023, 179.006 trotes foram passados para o Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes) do Espírito Santo. O número equivale a uma média de 490 chamadas falsas por dia e representa 6,5% do total de ligações feitas para a central, que recebe todos os acionamentos feitos para o 190 e 193 em todo o Estado.
O subsecretário de Comando e Inovação da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp), coronel André Có, explicou que essa quantidade tão expressiva é realmente de trotes, e não estão contabilizados, por exemplo, ligações em que a pessoa desliga quando alguém atende ou as chamadas incompletas.
Ainda assim, em todo atendimento é passada a informação de que a ligação está sendo gravada e arquivada no banco de dados do centro integrado e que o trote pode configurar um tipo de crime. "Se a conversa evoluir para uma questão mais complicada, cabe o acionamento da Polícia Civil", explicou.
"É muito difícil isso acontecer, mas houve, sim, essa tentativa. Nesse caso, a polícia identificou o plano, identificou quem fez o trote, registrou uma notícia crime, fez denúncia na Chefatura da Polícia Civil e a investigação foi feita", explicou.
O coronel disse que o trote configura crime. "Cometer um trote não é uma brincadeira, dependendo do seu potencial de causar problemas na parte operacional das polícias, pode ser um crime tipificado no Código Penal, chamado de imputação inverídica de crime, com pena fixada que pode chegar até a prisão", concluiu o coronel.
* Com informações do g1 ES.
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