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Por que o ensino infantil pode ser o último a voltar no ES?

Por que o ensino infantil pode ser o último a voltar no ES?

O Governo do Estado anunciou que está discutindo um protocolo específico para autorizar o retorno das crianças com segurança

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 16:07

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Mudança de hábitos na faixa etária de zero a cinco anos pode ser mais complexa. (@jcomp/Freepik)

Ainda não há nenhuma previsão para a retomada das aulas presenciais do ensino infantil no Espírito Santo, suspensas desde março, quando o governo editou o decreto estadual de fechamento devido à pandemia do novo coronavírus.  

Para o ensino superior, foi anunciado o retorno das aulas presenciais no dia 14 de setembro.  Já no ensino médio, há uma expectativa para a retomada a partir de outubro. Porém, o governador Renato Casagrande completou que a educação infantil e o ensino fundamental (do 1° ao 9° anos) ainda não possuem data prevista.

A Gazeta conversou com especialistas e listou os motivos que podem fazer o ensino infantil ser o último a voltar no Espírito Santo.

TENDÊNCIA AO TOQUE E AGLOMERAÇÃO

O médico infectologista Crispim Cerutti Junior explicou que crianças com menos de 7 anos possuem maior tendência para aglomeração e toques.  O risco, nesse caso, se dá pelo fato do distanciamento social ser uma das principais medidas de prevenção contra o coronavírus. "É um comportamento natural. Essa é a forma que a criança tem de relacionar-se com o meio ambiente, através do toque e do contato", explicou. 

Mas para Eduardo Costa Gomes, vice presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espirito Santo (Sinepe/ES), embora seja mais complexo,  é possível fazer adaptações para que crianças possam ter aulas presenciais com segurança.

"Crianças nessa faixa etária possuem suas particularidades. Nessa fase, a estratégia metodológica é a baseada nas brincadeiras e socialização. O desafio é pensar em medidas seguras para que seja possível haver alguma interação, mas com distanciamento. Não é possível retornar com uma sala cheia, com brinquedos compartilhados. Mas sim um retorno de forma gradual, com três ou cinco alunos por turma, seguindo o protocolo de higiene, usando as áreas externas, com atividades que - mesmo individuais, permitem que o aluno esteja em um ambiente escolar e enxergando o outro", afirma. 

DIFICULDADE COM O USO CORRETO DA MÁSCARA

Outra dificuldade, de acordo com o infectologista Crispim Cerutti Junior, é que crianças menores não conseguem aderir o uso da máscara. Para os menores de 2 anos, por exemplo, o utensílio não é recomendado porque a criança poderá tocar no tecido, morder, e fazer uso da forma errada, aumentando ainda mais as chances de contaminação. 

"Crianças entre 2 e 6 anos não aderem à máscara e não colaboram nesse processo. Para volta com as atividades presenciais em creches ou escolas de ensino infantil, precisamos estar em um nível de segurança sanitária muito grande, com ausência de casos", afirmou. 

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Crianças menores não conseguem aderir o uso correto da máscara. (Pixabay)

Já Eduardo Costa Gomes acredita que seria mais eficaz retornar com as aulas presenciais no ensino infantil e das turmas que estão no último ano do ensino fundamental e médio. 

"Para nós, faria mais sentido trazer os mais novos ou os alunos de fechamento do final do ensino fundamental e médio, como aconteceu em alguns países europeus. Sabemos que crianças menores possuem uma impulsividade que a gente não tem controle. Mas estamos trabalhando há meses para esse retorno de forma gradual, com funcionários treinados e usando equipamento de proteção individual. Essa faixa etária exige uma complexabilidade e nem todas as escolas possuem recursos, mas há aquelas que possuem capacidade de fazer isso funcionar com segurança", garante. 

DIFICULDADE EM ASSIMILAR ORIENTAÇÕES

As crianças do ensino infantil ainda possuem uma dificuldade maior de assimilar orientações e colocá-las em prática, de acordo com o infectologista. Em contrapartida,  Crispim Cerutti Junior explicou que as crianças maiores de 7 anos já possuem condições de assimilar essas informações e colaborar, ficando mais fácil incorporar a rotina de afastamento, higiene das mãos e uso de máscaras.

"Crianças com menos de 7 anos representam um risco potencial de interrupção da redução da frequência de casos da pandemia e por isso não devem retornar para as aulas presenciais no primeiro momento", acredita.

 PROTOCOLO SERÁ CRIADO

Na última quarta-feira (26), o governador Renato Casagrande afirmou que ainda é preciso percorrer um caminho para uma redução mais intensa no número de mortes para ser dado um passo seguro dentro da Educação. "Não vou dizer que (educação infantil) será a última a retornar, mas ainda não temos planejamento", disse. 

Para a educação infantil, particularmente, as Secretarias de Estado da Educação (Sedu) e da Saúde (Sesa) estão discutindo um protocolo específico para que seja autorizada a retomada, e que será complementar ao que já foi divulgado pelos órgãos no início do mês para todos os segmentos de ensino. A elaboração do documento já deveria ter sido concluída pelas estimativas do próprio governo, mas mostrou-se mais complicada do que o previsto.

"As conversas da etapa de zero a 5 anos se mostraram um pouco mais complexas, especialmente do ponto de vista técnico, para que a gente definisse as regras com todo o cuidado para uma etapa tão delicada de ensino. Se o ensino superior e o médio têm a vantagem de se tratar de alunos mais velhos, a dificuldade da educação infantil é que estamos falando de crianças para quem a incorporação dos hábitos (distanciamento, uso de máscaras, higienização) pode ser mais complexa", argumentou o secretário da Educação, Vitor de Angelo.

Ele avalia que o protocolo de segurança é o instrumento adequado para equilibrar o desejo da volta às aulas, que é de todos, e a preocupação com o risco de infecção. "É o meio termo para equacionar o medo e a convivência com o vírus. Estamos trabalhando para elaborar e divulgar o documento assim que possível", assegurou o secretário.

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