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Por que asfalto da Grande Vitória enche de buraco depois da chuva?

Por que asfalto da Grande Vitória enche de buraco depois da chuva?

Clima e qualidade do material usado são alguns dos motivos listados por especialistas para buracos tomarem conta das vias após dias de muita chuva

Publicado em 30 de novembro de 2022 às 20:13

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Buraco
Buraco na Rua Roberto Luiz, Bairro Vasco da Gama, Cariacica. (Carlos Alberto Silva)

As fortes chuvas que atingem o Espírito Santo causam estrago e prejuízo e também trazem à tona um problema recorrente: os buracos nas vias da Grande Vitória. Entra ano, sai ano, ruas e avenidas ficam repletas de crateras, fendas e rachaduras que podem representar perigo e danos aos motoristas. E a pergunta que fica é: por que toda vez que chove o problema aparece?

A resposta depende de vários fatores, desde o clima no Brasil até a falta de fiscalização em obras, de acordo com especialistas ouvidos pela reportagem.

“O primeiro é o próprio clima do Brasil. Vivemos em um país tropical. No mesmo dia que chove forte, pode terminar com calor. Ou tudo pode ocorrer de modo simultâneo. Isso cria um problema em qualquer material da natureza, por conta da retração. O asfalto incha quando chove ou o tempo fica úmido. E, quando vêm calor e sol, ele retrai. Com o solo abrindo e fechando, com o tempo aparecem as trincas”, explica o professor Tarcísio Bahia de Andrade, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes.

O mesmo ponto é defendido pelo engenheiro civil especializado em Infraestrutura e professor de Fundações e Projetos de Estradas, Aprigio Barreto, que acrescenta que, quando chove, a água se infiltra pelas rachaduras que aparecem no solo após dias de sol, reduzindo a resistência desse solo.

Por que asfalto da Grande Vitória enche de buraco depois da chuva?

“Aquele solo compactado para aguentar o fluxo do trânsito em cima do pavimento perde a resistência e começa a esfarelar. Depois disso, o material vai perdendo o volume e aparece um buraco. Esse buraco ocorre porque o pavimento deveria ser impermeável”, diz Aprigio.

O segundo problema apontado pelo professor Tarcísio Bahia de Andrade é em relação aos contratos de licitação no Brasil, onde vence a empresa que oferece o menor preço para executar os serviços.

“A empresa, então, tende a fazer uma obra economizando em materiais. Mesmo que esteja com os materiais bem especificados, vai executar o trabalho tentando obter um lucro. Então você pode ter uma obra com erros de execução; e a fiscalização é bem fraca”, aponta Tarcísio.

Para Aprigio Barreto, a solução para evitar esse tipo de problema de forma tão recorrente seria fazer uma manutenção de forma mais eficiente, para não deixar ocorrer trincamentos e rachaduras no solo, ou adotar outro tipo de pavimento que aumente a resistência.

Aspas de citação

Uma das coisas que considero inteligente é usar um pavimento certo para a condição certa. O pavimento flexível, que é o asfalto, é uma capa de baixa resistência e ideal para um fluxo de trânsito baixo. Quando se tem um volume de trânsito alto, o ideal é que tenha um pavimento rígido, com concreto e aço. Já que tem a técnica, por que não usar a certa?

Aprigio Barreto
Engenheiro civil especializado em Infraestrutura e professor de Fundações e Projetos de Estradas
Aspas de citação

O professor cita como exemplo a obra na Avenida Vitória, onde foi usado concreto. "Provavelmente, o motorista deve observar que a avenida está tendo menos problemas do que as avenidas feitas de asfalto", destaca. 

Ainda segundo Barreto, a cratera que se abriu na madrugada de domingo (27) na Avenida Audifax Barcelos, na Serra, provavelmente ocorreu por conta de um sistema de drenagem que está abaixo da pista e pode ter quebrado. Essa drenagem levou o material sob o asfalto. Com isso, a base granular (argila e brita) entrou na drenagem e chegou ao pavimento, abrindo uma cratera no solo. Esses casos, de acordo com o engenheiro civil e professor, não acontecem com frequência. 

Grande Vitória

Percorrendo a Grande Vitória, não é difícil encontrar buracos nas vias, que prejudicam motoristas e se tornam perigosos, como na movimentada Avenida Carlos Lindenberg, em Vila Velha, na altura do bairro Ibes. 

Buracos na Avenida Carlos Lindenberg, em Vila Velha
Buracos na Avenida Carlos Lindenberg, em Vila Velha. (Diego Sant’ana)

No mesmo município, em Cobilândia, moradores também reclamam de problemas nas pistas. Em Cariacica, Serra e Vitória, a queixa é a mesmo: muitos buracos em vias, principalmente nas mais movimentadas, que colocam condutores em risco. 

A Prefeitura de Vila Velha esclareceu que a Secretaria de Obras trabalha de forma preventiva com manutenções, substituindo pavimentos que apresentam desgaste. O órgão explica que o asfalto, em sua composição, sofre com a ação do tempo (seco ou chuvoso) e com o tráfego intenso e pesado. A ruptura de manilha em rede de drenagem também é causa de buracos, uma vez que o aterro cede e provoca o espaço vazio.

"Aliado ao serviço de recapeamento, as equipes de operação Tapa-Buracos atuam nas vias realizando os serviços paliativos para evitar acidentes. Além dos reparos com asfalto quente, o asfalto frio é utilizado em dias de chuva moderada. A população pode solicitar o serviço pelo telefone da Ouvidoria Municipal, no 162", informou a prefeitura, por meio de nota.

A Secretaria de Serviços da Serra disse que os buracos surgem de forma natural e que no município é realizada manutenção diária de pavimentação dentro do cronograma de serviços. No entanto, em períodos chuvosos, as equipes responsáveis por esse trabalho ficam impossibilitadas de realizar o serviço com a frequência devida.

A secretaria informa ainda que os pontos onde a pavimentação foi mais afetada pela chuva são as principais vias da cidade, onde o tráfego é mais intenso, e ainda vias dentro dos bairros, onde há passagem de veículos pesados, como ônibus do transporte público, por exemplo.

Desde que o volume de chuvas diminuiu, na terça-feira (29), as equipes da operação Tapa-Buraco da Secretaria Municipal de Serviços de Cariacica (Semserv), estão atuando em vários bairros do município. Foram usadas 40 toneladas de asfalto na terça e outras 40 nesta quarta-feira (30).  O trabalho vem se concentrando nas principais avenidas, como a Mário Gurgel e Rodovia Leste-Oeste, e depois se estenderá para a parte interna dos bairros. 

Buracos na Avenida Leitão da Silva, VItória(Carlos Alberto Silva)

Investimento em melhorias

Já Vitória ficou no centro da discussão por conta dos buracos na Avenida Leitão da Silva, uma das mais importantes da Capital e cujas obras foram inauguradas há cerca de três anos. Desde o dia 22 de novembro, A Gazeta acompanha a situação, que envolve o governo do Estado, responsável pela obra, e a prefeitura, pela localização da avenida.

O secretário da Central de Serviços de Vitória, Leonardo Amorim, explica que a prefeitura vem trabalhando para evitar maiores problemas para os motoristas neste período de grande volume de chuvas. As equipes estão trabalhando com asfalto ecológico nesse primeiro momento e, quando o tempo voltar a abrir, vão utilizar o asfalto quente para reconstruir os trechos com buracos.

"Nesse período, registramos muitos acidentes, principalmente com motocicletas. Trabalhamos para facilitar a circulação nas avenidas e, quando tivermos a possibilidade, em um dia seco, começamos com asfalto quente e fazemos a reconstrução", disse o secretário, que ainda acrescentou que a prefeitura está fazendo investimentos em um contrato com algumas novidades e com itens que vão prevenir os buracos. 

"Há alguns produtos que evitam que, no período da chuva, essa umidade chegue ao asfalto. Vamos investir com inovação e prevenção no tratamento das vias de Vitória", concluiu. 

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