> >
Paralisação dos rodoviários: sufoco também na hora de voltar para casa

Paralisação dos rodoviários: sufoco também na hora de voltar para casa

Por conta da falta de coletivos nas ruas, trabalhadores relataram dificuldades nesta segunda (8)

Publicado em 8 de março de 2021 às 19:10- Atualizado há 3 anos

Ícone - Tempo de Leitura 6min de leitura
 Paralização dos rodoviários, os ônibus foram impedidos por representantes do Sindicato dos Rodoviários de sair das garagens
Os ônibus foram impedidos por representantes do Sindicato dos Rodoviários de sair das garagens nesta segunda (8). (Fernando Madeira)

As fortes chuvas que atingiram a Grande Vitória somadas à paralisação dos rodoviários do Sistema Transcol trouxeram problemas aos trabalhadores capixabas nesta segunda-feira (8). Por conta da interrupção do fluxo do transporte coletivo e dos estragos causados pela tempestade na Região Metropolitana do Estado, muitas pessoas tiveram dificuldades para chegar ao trabalho e em voltar para casa.

Algumas pessoas, inclusive, chegaram a optar por nem tentar ir até o trabalho. É o caso da empregada doméstica Érica de Souza Mendes, de 36 anos, que mora no bairro São Torquato, em Vila Velha e trabalha na Praia da Costa. Ela explicou que foi até o terminal para recarregar o cartão de passe do Sistema Transcol.

"Não consegui pegar o ônibus, nem fui ao trabalho. Vim recarregar meu cartão, como eu moro perto e amanhã vou tentar ir. Pego a viação São Remo, porque trabalho na Praia da Costa e moro aqui em São Torquato", disse.

Já o pizzaiolo Rodrigo Supeleto, de 18 anos, também morador de São Torquato, disse que não sabia da paralisação e que não conseguiu pegar o ônibus para ir ao trabalho. O jeito foi combinar com seu chefe para trocar o dia da folga, que seria na terça-feira (9), para que não houvesse prejuízo para a pizzaria.

"Eu nem estava sabendo que ia ter greve. Perdi o serviço, estava indo pra Alvorada, trabalho de pizzaiolo. Liguei para o patrão, falei que não sabia que ia ter greve. Eu ia folgar amanhã (9), ai vou folgar hoje (8) e amanhã vou ter que ir, troquei o dia da folga. Ainda bem que o patrão é tranquilo", afirmou Rodrigo, completando ainda que vai voltar a pé pra casa, pois mora próximo ao terminal.

Rodrigo Gonçalves, enfermeiro, teve dificuldades para conseguir voltar pra casa nesta segunda (8)
Rodrigo Gonçalves, enfermeiro, contou que pegou uma carona para chegar o terminal de São Torquato. (Carlos Alberto Silva)

Quem conseguiu chegar ao trabalho, relatou dificuldades também para voltar pra casa. O enfermeiro Vitor Gonçalves, de 35 anos, que trabalha em um hospital particular de Vila Velha, contou que recorreu a uma carona para chegar até o terminal de São Torquato, mas que, mesmo assim, ainda não sabe como vai conseguir chegar em Cariacica, onde mora.

"Peguei uma carona com uma colega do setor, liberaram a gente mais cedo. Agora vou tentar pegar um ônibus pra ir pra Porto de Santana. Se não tiver, vou ter que ligar pra algum parente, pegar um táxi… morrer no prejuízo. Vamos ter que arriscar", lamentou.

O QUE QUEREM OS RODOVIÁRIOS E O QUE DIZ O GOVERNO

A categoria quer a volta dos cobradores, afastados de todos os coletivos desde maio de 2020, quando o dinheiro físico deixou de ser usado como forma de pagamento no Sistema Transcol. Em 2019, o governo já planejava a redução do uso do dinheiro no ônibus e o aumento da utilização do cartão GV nos coletivos, com o anúncio da implantação até 2022 de 600 ônibus com ar-condicionado, que não possuem a cadeira de cobrador.

O processo foi intensificado em 2020, com a pandemia. O governo do Estado diz que decidiu tirar notas e moedas de dentro dos ônibus para reduzir a transmissão do coronavírus no transporte público, mas o secretário estadual de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno, revela que vai manter o veto ao uso do dinheiro físico mesmo depois da pandemia para tornar o "embarque mais rápido, com menos filas, e com redução na evasão de receitas". "Dinheiro à bordo não tem mais", declarou o secretário.

Em maio de 2020, a pasta de Damasceno decidiu afastar os cobradores, com base em recomendações de autoridades sanitárias do Estado. Os profissionais afastados foram incluídos na Medida Provisória do governo Federal com suspensão da jornada de trabalho de maio a dezembro, recebendo um benefício do Ministério da Economia. O programa do governo Federal teve validade até dezembro. Por ele, os cobradores têm direito a 14 meses de estabilidade (o dobro do período da suspensão da jornada), que se encerra em julho.

MAIS 20 MESES DE ESTABILIDADE APÓS JUNHO

Os cobradores afirmam que temem demissão em massa da categoria. O governo do Estado, porém, diz que eles têm mais 20 meses de estabilidade após julho por causa de um acordo firmado em 2019 com a categoria após protesto dos rodoviários contra a implantação dos ônibus com ar-condicionado e sem cobradores. "Por causa da chegada dos ônibus com ar-condicionado eles têm mais 20 meses, não podem ser demitidos nesse período", explicou Damasceno.

E depois deste período, como ficarão os cobradores? Segundo o secretário, parte desses profissionais vai voltar em um novo formato de trabalho, como por exemplo no auxílio da comercialização de créditos do CartãoGV via pagamento com cartão de crédito ou débito. "Eles têm o direito a fazer três cursos dentro das empresas e o Estado ainda está oferecendo 1,5 mil carteiras de motoristas para eles. Não tem sentido o que eles falam (de serem demitidos). Está garantido também um programa de demissão voluntária caso eles queiram optar por isso", garantiu Damasceno.

Manifestação de rodoviários afeta população da Grande Vitória
Manifestação de rodoviários afeta população da Grande Vitória. (Ricardo Medeiros)

A Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi) e a Ceturb-ES também afirmaram, em nota, que a suspensão da atividade do cobrador no interior nos ônibus do sistema de Transporte Público da Região Metropolitana da Grande Vitória (Sistema Transcol) permanece enquanto perdurar o Estado de Calamidade Pública declarado em virtude de Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional, declarado pela Organização Mundial da Saúde em 30 de janeiro de 2020, em decorrência da Covid-19.

Após reunião realizada com a Secretaria Estadual de Saúde/Vigilância Sanitária, onde foi discutido o agravamento da crise de Pandemia no país e no Estado do Espírito Santo, foi orientado que não seja autorizado, neste momento, o retorno da atividade dos cobradores no interior dos ônibus do Sistema Transcol. Desta forma, as medidas de enfrentamento ao novo coronavírus implementadas, entre elas a utilização obrigatória do CartãoGV pelos usuários do sistema de transporte; e suspensão da atividade do cobrador no interior dos coletivos, permanecem enquanto durar o Estado de Calamidade Pública no Estado.

"A Semobi informa ainda que já vem discutindo e está finalizando o plano de retorno dos cobradores às atividades para ser posto em prática quando for encerrado o estado de calamidade e /ou estiver em consonâncias com às autoridades de saúde. Em relação a este plano, a Semobi adianta que o pagamento em dinheiro no interior dos coletivos permanecerá suspensa, mesmo depois do retorno dos cobradores as suas atividades. Os cobradores também devem retornar as suas atividades a bordo apenas em horários pré-determinados, como os de pico para auxiliar na comercialização de créditos do CartãoGV via pagamento com cartão de crédito ou débito", disseram os órgãos

JUSTIÇA DECRETA FIM DA PARALISAÇÃO

A Justiça do Trabalho expediu uma liminar que determina o fim dos bloqueios realizados nesta segunda-feira (8) pelos rodoviários nas garagens dos ônibus do Sistema Transcol. O texto ainda prevê, caso a determinação não seja cumprida, a aplicação de multa de R$ 100 mil por dia para as empresas dos coletivos.

Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) esclareceu que a categoria continua afastada, mas recebendo integralmente salários e benefícios. A suspensão da atividade do cobrador no interior dos coletivos, ainda segundo a nota da empresa, é uma orientação da Secretaria de Estado de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi) como parte das medidas de enfrentamento ao coronavírus.

Este vídeo pode te interessar

O GVBus ainda acrescentou que lamenta a postura do Sindirodoviários, que, também de acordo com a empresa, "mais uma vez pega toda a população de surpresa, com uma paralisação sem justificativa, desobedecendo ao decreto estadual de calamidade pública, e se mostrando insensível no pior momento da pandemia".

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais