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Pandemia: capixabas contam como é ter vida "normal" em outros países

Pandemia: capixabas contam como é ter vida "normal" em outros países

Sem uso obrigatório de máscaras, sem distanciamento social. Capixabas contam como é voltar à rotina em países que estão conseguindo controlar a pandemia

Publicado em 19 de junho de 2021 às 10:47

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A  jornalista Thaís Brêda vive na Nova Zelândia
Thaís Brêda vive na Nova Zelândia: dia a dia sem máscara e sem distanciamento. (Arquivo Pessoal )

"Eu me senti muito privilegiado. Sabia que estava vivendo um momento histórico e único". A declaração  é do produtor de cinema capixaba Gabriel Carpanedo, de 34 anos, após participar de um show da banda Six60 com outras 50 mil pessoas na cidade de Auckland, na Nova Zelândia, em abril deste ano.  

A possiblidade de comparecer a um grande evento cultural não é possível no Brasil - e na maior parte do mundo - desde o início da pandemia do coronavírus, em março de 2020. No entanto, alguns países já experimentam o retorno de algumas atividades abandonadas ao longo dos últimos 14 meses. 

"Aqui a vida está normal. Nenhuma restrição e tudo funcionando. Minha vacina está agendada para julho desde janeiro. Não vacinei ainda, mas isso não faz muita diferença na Nova Zelândia, visto que há meses o país não tem casos de transmissão comunitária", conta Gabriel.

O produtor de cinema, que tem família em Vitória, mas mora na Nova Zelândia há quatro anos, chegou a experimentar duas realidades bem diferentes da pandemia. Em 2020, logo no começo do ano, Gabriel viajou para o Brasil e ficou 10 meses.  Em dezembro, ele precisou voltar para  Auckland. 

“O Brasil nunca combateu a pandemia, o governo federal até hoje nega tudo. A Nova Zelândia levou a sério e cortou o mal pela raiz no início. São duas realidades completamente diferentes. São apenas cinco milhões de pessoas aqui, e o país tem dinheiro, mesmo assim muita gente se pergunta se ainda vamos sofrer financeiramente. Mas por enquanto tudo está funcionando muito bem.”

Ao voltar para Nova Zelândia, Gabriel precisou fazer quarentena de 15 dias em um hotel. “Ela é obrigatória para quem chega. As fronteiras estão fechadas desde março de 2020. Apenas cidadão e residente podem entrar. Todos que chegam são obrigados a passar 15 dias em isolamento em hotéis designados e gerenciados pelo governo e pelo exército”, explicou.

MÁSCARA SÓ NO TRANSPORTE PÚBLICO

A jornalista Thaís Brêda, de 38 anos, também é residente de Auckland e atualmente trabalha como assistente de gerência em uma empresa de hospitalitalidade. Ela contou que por conta do trabalho não pôde ir ao show. 

“O evento movimentou a cidade. Foi um marco para a banda e também viralizou por serem 50 mil pessoas reunidas em um estádio. Vi que muita gente ficou chocada porque as pessoas não usavam máscara, mas é porque elas não vivem a realidade daqui. Não precisamos usar máscaras mais, só no transporte público mesmo”, contou Thaís. 

A capixaba explica que participa de eventos com muitas pesssoas enquanto está trabalhando. “São eventos para 800 pessoas como jantares, premiações, e também menores como casamentos, aniversários e outros. Não é preciso usar máscara e não há regras de distanciamento”, detalha. 

 LOCKDOWN FEZ A DIFERENÇA

A primeira-ministra do país, Jacinda Arden, adotou medidas rigorosas para conter o coronavírus ao longo de 2020. Atualmente, existe um decreto determinando que, cada vez que uma região registrar um novo caso de Covid-19, é necessário um lockdown naquele local por pelo menos cinco dias.

Em fevereiro deste ano, por exemplo, a primeira-ministra ordenou que  Auckland, que tem 1,7 milhão de habitantes, voltasse a adotar o confinamento de sete dias após a detecção de novos casos. As restrições  aconteceram duas semanas depois de um confinamento expresso de três dias na cidade, quando uma família de três pessoas foi diagnosticada com a variante britânica. Antes disso, a cidade passou seis meses sem lockdown.

“O país tem níveis de combate à Covid-19 de acordo com cada situação. Atualmente estamos no nível 1, que é vida normal e apenas restrição de entrada nas fronteiras. Mas se tiver transmissão existe grande chance de acontecer um lockdown de alguns dias na cidade onde foi detectado”,  explica Gabriel.

A Nova Zelândia tem cinco milhões de habitantes e registrou, desde o início da pandemia, 26 mortes e pouco mais de 2 mil casos da Covid-19. Para Thaís, a adesão ao isolamento social no início da pandemia fez toda a diferença para a situação atual.

"Quando tivemos o primeiro e longo lockdown aqui, foi realmente cumprido e isso fez toda a diferença. Impediu que o vírus circulasse e se espalhasse. Tudo ficou fechado, só farmácias e supermercados abriam. Todos usavam máscaras, cumpriam o distanciamento. Nem delivery de comida era permitido", recordou. 

Thaís destaca que o governo deu suporte aos trabalhadores para que pudessem se manter no período de lockdown. “O governo pagou subsídio para os trabalhadores e os empresários poderem se manter, estando de portas fechadas. Claro que mesmo assim vemos hoje muitos comércios fechados, que não resistiram à pandemia, porque a Nova Zelândia é um país que tem no turismo um de seus principais geradores de renda. Mas esse suporte financeiro foi muito importante”, destaca.

Além disso, o governo decidiu rastrear todo mundo que tivesse contato com algum infectado com a Covid-19, ainda que de maneira distante. “Quando havia um caso na comunidade, todos os possíveis contatos, próximos ou não, eram chamados para fazer o teste. Por exemplo, se alguém esteve no supermercado no dia em que um infectado com Covid-19 esteve, ele era chamado para ir a um centro de testes. Os contatos próximos logo eram isolados em suas próprias casas ou em hotéis de quarentena”.

A primeira-ministra e o ministro da saúde faziam boletins todos os dias, de acordo com Thaís. O número de casos e internações era repassado para a população ao vivo na televisão. “Essa comunicação com a população sempre foi muito eficiente”, pontuou.

Aspas de citação

Considero-me privilegiada por estar na Nova Zelândia neste cenário de pandemia, já que aqui a situação foi muito bem controlada desde o início. Sei que a liberdade que temos aqui é inimaginável para outras pessoas ao redor do mundo. Podemos frequentar bares e restaurantes, shows, exposições, reunir os amigos, viajar dentro do país e até para outros países que fazem parte da bolha, como as Ilhas Cook

Thaís Brêda
Capixaba que mora na Nova Zelândia 
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Capixaba que mora em Boston é vacinado
Washington Moscon foi vacinado contra a Covid-19 em março deste ano. (Arquivo pessoal )

BOSTON SEM MÁSCARAS

No final do mês de abril, a população da cidade norte-americana Boston, em Massachusetts, estava em contagem regressiva para deixar de usar as máscaras faciais. O equipamento de proteção deixou de ser obrigatório desde o dia 30 daquele mês, como conta o advogado e jornalista capixaba Washington Moscon, 48 anos.

Washington mora na cidade há dois anos. Em março, ele tomou a vacina de dose única da Janssen contra à Covid-19.  Agora, ele se sente aliviado com mais um passo que está sendo dado para um vida mais próxima do que era antes da pandemia. 

“Aqui tudo está voltando ao normal rapidamente porque as metas de vacinação estabelecidas foram cumpridas. Na Flórida, eu até estranhei as pessoas sem máscaras nas ruas, praias, elevadores, hotéis e boates. Estávamos acostumados a ver as pessoas com o rosto coberto”, relatou.

As máscaras continuam obrigatórias no trasporte público e privado, além de terminais de transporte, instalações de saúde e em outros ambientes que hospedam populações vulneráveis.

A cidade também prepara um grande evento pós pandemia - o Boston Summer Festival - que contará, inclusive, com a participação de artistas brasileiros. As duplas sertanejas Jorge e Mateus e Zé Neto e Cristiano estão confirmadas para a festa, em setembro. 

Com o restante da família morando em Vila Velha, Washington lamentou a situação no Brasil, onde mais de 450 mil pessoas já morreram por causa da Covid-19 desde o início da pandemia.  “É lamentável acompanhar as notícias e ver que os números de casos e mortes são altos. Faz um ano e meio que não vejo minha filha”, desabafou.

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