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"Não aguentava mais ver pessoas morrendo", diz ex-vizinha de hospital na Serra

"Não aguentava mais ver pessoas morrendo", diz ex-vizinha de hospital na Serra

Após sofrer com depressão e desenvolver outros transtornos devido ao fluxo incessante de ambulâncias com pacientes com Covid-19, Fernanda Garschagen, que morava em frente ao Hospital Dr. Jayme Santos Neves, mudou de cidade

Publicado em 25 de junho de 2021 às 17:49

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Domingos Martins
Fernanda se mudou do apartamento em frente ao Hospital Jayme, na Serra, por não suportar conviver com a realidade de pessoas perdendo a vida para a Covid-19. (Arquivo pessoal)

"Eu não aguentava mais ver pessoas morrendo ou lutando pela vida em frente à minha casa". Essas são as palavras da gerente administrativa Fernanda Garschagen, de 43 anos, que há um ano foi personagem de A Gazeta ao relatar a incessante e triste movimentação de ambulâncias que chegavam ao Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, com pacientes acometidos com a Covid-19. Após precisar de tratamento psicológico por conviver com essa cena, ela mudou de cidade e, consequentemente, de vida.

Diariamente e em todos os turnos, o som estridente das sirenes era o indicativo de que mais uma ambulância chegava às pressas com um paciente com o coronavírus, já que o hospital é referência para o tratamento da doença no Estado. Da janela do apartamento, localizado em frente à unidade, mas do outro lado da Avenida Paulo Pereira Gomes, em Morada de Laranjeiras, Fernanda presenciava as cenas se repetindo inúmeras vezes. Ela relata que, por vezes, ocorria engarrafamento de ambulâncias à espera de uma vaga, que muitas vezes não vinha.

Presenciar tão de perto, da janela do apartamento, a situação da pandemia no Estado e a luta de pacientes para sobreviverem à doença levou a auxiliar administrativa a adquirir transtornos.

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Era uma cena repetida, aquilo não saía da minha cabeça em nenhum minuto. O isolamento social me forçava a ter de ficar em casa, então não tinha como me abster. Fui adoecendo, desenvolvi síndrome do pânico, estava com medo de dirigir e tive depressão. Estava me vendo em uma maca como aquelas pessoas que lá chegavam. Foram meses assim, engordei muito devido aos remédios e precisei de ajuda psicológica. Precisava mudar ou então não sei o que seria de mim

Fernanda Garschagen
Ex-vizinha do Hospital Jayme Santos Neves
Aspas de citação

Após tanto sofrimento por conviver com a dureza imposta a poucos metros de casa, o destino ofereceu um novo caminho à Fernanda. Em dezembro do ano passado, quando já estava com o nível de saturação com o cotidiano de pandemia muito acima do tolerável, ela recebeu uma proposta de emprego. A oferta marcava o início da guinada que ela deu na própria vida e que a salvou, como mesmo definiu.

COMO ERA...

"Eu não estava suportando mais conviver daquela forma, até que em dezembro eu recebi um convite para ser gerente de uma pousada em Pedra Azul (Domingos Martins). Digo sem dúvidas que foi minha salvação. Conversei com meu marido e nos mudamos para lá. Da forma que eu vivia, sufocada, eu ia acabar em uma maca daquelas. Não queria isso para mim. Tudo piorou depois que perdi familiares para a doença (tio e primo). Tinha que sair dali de qualquer forma", explicou Fernanda.

... E COMO ESTÁ

Focada em mudar de vida, a família se mudou em definitivo para Domingos Martins. Fernanda assumiu a gerência de uma pousada rural orgânica, que fica em uma área de Mata Atlântica. Já o marido, trabalha na manutenção geral do local. Até o filho deles, o pequeno Henrique, de 2 anos, já notou a diferença da virada de vida que todos tiveram há sete meses.

Domingos Martins
Junto da família, Fernanda não convive mais com o cotidiano pesado da covid que presenciava da sacada do apartamento. (Arquivo pessoal)

"Tudo mudou, sem exagero. A começar pelo espaço. Saímos de um apartamento de menos de 60 metros e moramos agora em uma área de um milhão de metros quadrados. Aqui temos paz, tranquilidade, contato com a natureza, animais, bosques, e inúmeras atividades, mas o melhor é não conviver com o barulho das ambulâncias. Em pouco tempo voltei ao meu peso normal, parei de tomar remédios controlados e não tenho mais síndrome do pânico. Não voltaremos para o antigo endereço", enfatizou ela.

Atualmente, o apartamento em frente ao hospital está alugado após a saída da família e já foi colocado à venda.

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