Publicado em 24 de junho de 2020 às 20:03
Um habeas corpus coletivo foi apresentado ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ-ES) solicitando a reavaliação de todas as medidas aplicadas aos adolescentes internados nas unidades socioeducativas do Estado. A proposta é que os adolescentes sejam liberados, com a substituição de suas medidas de internação por outras em meio aberto, com a suspensão ou extinção delas. O pedido é voltado aos jovens de grupos de risco, que estiverem com suspeita ou que testaram positivo para o novo coronavírus. >
A ação foi movida pela Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo (DPES) e vai atingir as seguintes varas: 2ª Vara de Infância e Juventude dos municípios de Linhares e Cachoeiro de Itapemirim e 3ª Vara de Infância e Juventude de Vitória. Foi pedido que seja determinada a reavaliação das medidas socioeducativas de internação e que elas sejam substituídas por medida em meio aberto, suspensão ou extinção da medida de internação imposta a todos os internos.>
Até a última segunda-feira (22), 50 adolescentes estavam internados. Segundo a defensora pública do Núcleo da Infância da DPES, Camila Dória Ferreira, o pedido contempla todos os adolescentes, mas ainda está sendo levantado, dentre o total, quantos estão em grupos de risco. >
Estariam em grupos de risco adolescentes cardiopatas, asmáticos, obesos. Muitos adolescentes, por sua condição social, não possuem um laudo identificando uma doença. Apresentam sintomas, mas nunca foram ao médico, relata.>
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De acordo com os últimos dados do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), 37 socioeducandos testaram positivo para o novo coronavírus, dos quais 11 já se recuperaram e 26 ainda estão em isolamento médico. Há ainda outros 20 casos em análise. Do total de 140 adolescentes testados, 79 deram negativo para a Covid-19 e quatro receberam liberação médica.>
A doença também afetou os servidores que atuam nas unidades. De um total de 197 agente socioeducativos e membros da equipe técnica queforam testados, 92 apresentaram resultado positivo. Destes, um morreu. Dentre os demais, 51 se recuperaram e os demais seguem em isolamento. Há ainda um total de 62 testes em análise.>
O argumento é o de que o aumento do número de casos de socioeducandos e servidores contaminados pela Covid-19 e também a ausência da estrutura necessária para prevenção, contenção e tratamento à doença nas instalações das unidades.>
De acordo com a Defensoria Pública, as unidades de internação possuem estrutura arquitetônica inadequada ao atendimento dos jovens, com alojamentos pequenos e pouco arejados. Na grande maioria das unidades os alojamentos são compartilhados, em média, por quatro adolescentes.>
Além disso, alojamentos e espaços comuns são higienizados pelos próprios adolescentes, que realizam as tarefas nas instalações com recursos escassos e em periodicidade inferior ao que necessário em tempos de pandemia viral.>
Segundo as defensoras, os adolescentes que compartilham alojamentos e espaços em comum com outros socioeducandos com suspeita e contaminação não realizam testagem para a COVID-19 se não apresentarem sintomas gripais. Por isso, mesmo que tenham contraído a doença e se mantenham assintomáticos, há um alto risco de contaminação para os outros internos, para os servidores, suas famílias e toda a sociedade.>
O pedido de HC coletivo acompanha a recomendação 62 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que traz orientações sobre as pessoas internadas ou detidas no país. Ela foi renovada no último dia 12 e estabelece que seja feita a reavaliação das medidas socioeducativas dos menores que tenham cometido atos infracionais sem grave ameaça ou violência (casos de furto, tráfico, receptação)", afirmou a defensora pública do Núcleo da Infância da DPES, Adriana Peres.>
Segundo a defensora, desde o início da pandemia já foi solicitada a alteração em medidas socioeducativas de dezenas de adolescentes em decorrência dos riscos. Temos monitorado as unidades desde o início da pandemia e temos percebido o agravamento da situação, não só de adolescentes com suspeitas, mas também de servidores, explica.>
A defensora Camila explica que, caso o HC coletivo seja concedido, a situação de cada um dos internos será reavaliada pelo juiz responsável pela unidade de internação. A proposta é que os adolescentes em risco ou com suspeita da doença possam ir para suas casas, fazer o isolamento, e quando passar a pandemia, voltem a cumprir as suas medidas, acrescentou.>
Por nota, o Instituto de Atendimento Socieoducativo (Iases) informa que o julgamento do Habeas Corpus cabe ao Poder Judiciário e que irá cumprir as decisões judiciais. Explicou ainda que as unidades socioeducativas contam com estrutura adequada para prevenção ao vírus e que desde o mês de março foi estabelecido protocolo de medidas que vem sendo adotadas para reduzir o risco de contágio.>
Dentre elas, a suspensão das visitas familiares, o reforço na higienização de veículos, alojamentos e demais espaços de convivência, a disponibilização de máscaras para adolescentes e servidores, além do fornecimento de outros insumos de prevenção e a instalação de barreiras sanitárias nas portarias das unidades.>
O Iases ressalta que os adolescentes que apresentam sintomas de síndrome gripal são separados dos demais e levados ao isolamento respiratório, em espaços reservados para este fim, e testados para a Covid-19. Informa, ainda, que unidade que apresenta adolescentes contaminados realizou na última semana a testagem de todos os adolescentes e servidores.>
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