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Covid-19: um ano depois, recomendações sobre uso de máscaras mudaram?

Covid-19: um ano depois, recomendações sobre uso de máscaras mudaram?

Com o surgimento de variantes do vírus, os modelos de proteção facial mudaram? Para responder a este questionamento, a reportagem conversou com especialistas e buscou um posicionamento da Anvisa

Publicado em 7 de fevereiro de 2021 às 04:00- Atualizado há 3 anos

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Pessoas usando máscara durante a pademia
Pessoas usando máscara durante a pademia. (prostooleh/Freepik)

Após quase um ano de convívio com o cenário de pandemia do novo coronavírus, as máscaras de proteção recomendadas pelos protocolos de saúde adotados no mundo continuam em pauta. Mas, com o surgimento de variantes do vírus, os modelos de proteção facial mudaram ou ainda é possível utilizar as máscaras de fabricação caseira, geralmente de pano? Para responder a este questionamento, a reportagem conversou com especialistas e buscou um posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

De acordo com o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, mais importante do que o tipo de máscara, é garantir que o uso deste instrumento de proteção facial seja feito da forma correta.

"Não há, neste momento, qualquer trabalho que especifique qual máscara é a mais indicada. Particularmente acho que a gente utiliza a máscara muito mal, independente do tipo. Pessoas de maior risco ou em situações de maior exposição, se puderem usar pelo menos uma máscara cirúrgica, que é claro que é melhor do que a de pano, devem usar sim. Se for usar a de pano, é melhor que tenha três camadas, sendo duas de algodão", afirmou o médico.

Para ele, alguns hábitos são inaceitáveis. "Vejo as pessoas usando mal as máscaras, elas abaixam para falar, gritam sem a máscara, que é a mesma coisa que tossir. As pessoas tiram a máscara quando vão comer, fumar, tomar água e ficam perto de outras pessoas.

Antes de discutir qual máscara usar, a gente precisaria ter disciplina de uso. Infelizmente nós ocidentais usamos de forma trágica, eu vejo máscara no pescoço, pendurada, com nariz descoberto", destacou.

No caso das máscaras de fabricação caseira, Ferreira Pinto explicou que estas são de fato reutilizáveis e demandam apenas que sejam lavadas. "E em princípio não vejo problemas na durabilidade", disse.

EVOLUÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES

De acordo com a enfermeira, pós-doutora em Epidemiologia, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS), Ethel Maciel, ao longo deste ano de pandemia muito se aprendeu sobre o comportamento do vírus e, assim, a recomendação do uso de máscaras também foi mudando.

"No início não havia recomendação de uso de máscara, apenas para os profissionais da saúde, não tinha nem máscara para comprar. Chegou a ser feita campanha para quem comprou para que pudesse doar aos hospitais. Depois a OMS apontou que não precisaria ser usada máscara cirúrgica, que a máscara de tecido também fazia barreira e impedia que fossem expelidas gotículas no ar", descreveu.

Segundo ela, as recomendações relacionadas às máscaras são de que sejam lavadas e que antes de colocar ou tirar as mãos devem ser higienizadas com álcool ou lavando-as. "Além disso, não se deve acondicionar em plástico, é melhor guardar em envelope de papel, uma vez que o plástico umedece muito. À exceção de guardar em plástico em momento que anteceda a lavagem", disse.

Para a pós-doutora, a face shield, que lembra um escudo de proteção facial, não substitui a máscara. "Tem que usar os dois juntos nesse caso. E a máscara não pode ter aberturas, locais em que o ar passa, ela tem que cobrir o nariz e a boca e ficar muito ajustada ao rosto.

A máscara caseira é uma barreira física sim, para quando falamos, espirramos ou tossimos as gotículas não venham a ser despejadas no ar. A gente usa para proteger o outro e o outro para nos proteger", acrescentou.

"CUIDADO REDOBRADO COM AS NOVAS VARIANTES", DIZ INFECTOLOGISTA

Também para Lauro Ferreira Pinto, as novas variantes do vírus aparentam ter uma capacidade de transmissão maior. "Existe mais de uma variante britânica, além da variante africana, da variante de Manaus, e elas parecem ser mais contagiosas. Tem que ter cuidado redobrado com elas. Em ordem de importância, a melhor máscara é a N95 ou PFF2, que é indicada quando tem aerossol em hospital, pela nebulização, intubação; depois vem a máscara cirúrgica e por fim as de pano, que protegem menos. Vale destacar que não tem máscara n95 para a população inteira", pontuou o infectologista.

No mesmo sentido, Maciel reitera que as novas cepas do vírus o tornou mais transmissível. Ela faz a comparação com uma chave: antes é como se o vírus tivesse uma chave para entrar nas células, mas que não fosse muito ajustada à fechadura, como se precisasse de uma força maior para entrar. Mas as novas variantes trariam uma chave que se ajusta perfeitamente e consegue com mais facilidade entrar no organismo, se multiplicar e causar doença.

"E aí as máscaras de tecido, na Europa, já mudaram de indicação. Para toda vez que as pessoas forem para ambientes fechados, com pouco fluxo de ar, a recomendação é de usar uma máscara melhor, como a PFF2, que funciona como protetor facial filtrante, que além de proteger o outro, protege a quem usa. Este tipo filtra partículas muito menores, no entanto, é mais cara. Lá na Europa, devido ao preço, foi retirado o imposto desta máscara e estão sendo feitas doações para quem não pode comprar", disse a enfermeira.

Nos Estados Unidos, de acordo com Ethel, a orientação é de que as pessoas usem duas máscaras e, se for possível, a máscara de baixo deve ser cirúrgica e a de cima de tecido. "Ou, se não for possível, devem ser usadas duas de tecido, já que elas farão uma barreira melhor e dificultarão que o vírus infecte", concluiu.

O QUE DIZ A ANVISA

Em nota, a Anvisa informou que permanece a indicação das máscaras de tecido, limpas e secas para a população em geral e, por outro lado, máscaras cirúrgicas ou N95 e PFF2 ou equivalentes pelos profissionais que prestam assistência a pacientes suspeitos ou confirmados de Covid-19 nos serviços de saúde.

Sobre a máscara caseira, a autarquia informa que ela deve ser feita nas medidas corretas, devendo cobrir totalmente a boca e nariz, sem deixar espaços nas laterais. Também é importante que a máscara seja utilizada corretamente, não devendo ser manipulada durante o uso e deve-se lavar as mãos antes de sua colocação e após sua retirada. Desse modo, as máscaras faciais de uso não profissional podem ser produzidas em casa, adquiridas no comércio ou diretamente das artesãs.

Além disso, segundo a Anvisa, qualquer pessoa pode fazer uso de máscaras faciais de uso não profissional, inclusive crianças e pessoas debilitadas, desde que respeitadas a tolerância, o ajuste e a higiene do material. Recomenda-se ainda o uso em locais públicos como, por exemplo, em supermercados, farmácias e no transporte público.

Regras a serem seguidas:

  1. De acordo com a Anvisa, a máscara é de uso individual e não deve ser compartilhada;
  2. Deve-se destinar o material profissional (máscaras cirúrgicas e do tipo N95 ou equivalente) para os devidos interessados: pacientes com a Covid-19, profissionais de saúde e outros profissionais de linha de frente em contato próximo e prolongado com possíveis fontes de contágio;
  3. As medidas de higiene e a limpeza das máscaras não profissionais em tecido e a eliminação periódica das descartáveis são ações importantes de combate à transmissão da infecção; e fazer a adequada higienização das mãos com água e sabonete ou com preparação alcoólica a 70%;
  4. Mesmo de máscara, deve ser mantida distância de mais de 1 metro de outras pessoas;

Para a confecção das máscaras não-industriais, a Anvisa recomenda que devem ser evitados os tecidos que possam irritar a pele, como poliéster puro e outros sintéticos, o que faz a recomendação recair preferencialmente por tecidos que tenham praticamente algodão na composição.

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Também é recomendável que o produto manufaturado tenha 3 camadas: uma camada de tecido não impermeável na parte frontal, tecido respirável no meio e um tecido de algodão na parte em contato com a superfície do rosto.

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