Repórter / abgoncalves@redegazeta.com.br
Publicado em 15 de março de 2022 às 19:22
O dia 15 de janeiro de 2022 marcou o início da campanha de vacinação de crianças contra a Covid-19 no Espírito Santo. Os pequenos com idades entre 5 e 11 anos começaram a ser imunizados depois de idosos, adultos e adolescentes. Dois meses depois, apenas quatro de cada dez crianças foram vacinados com a 1ª dose no Estado, e somente 7% estão completamente vacinadas com as duas doses. O número está "aquém do desejado", segundo relatou a coordenadora do Programa Estadual de Imunizações, Danielle Grillo, em entrevista à reportagem de A Gazeta.
Segundo dados do Painel Vacina e Confia, atualizado nesta terça-feira (15):
Os números estão abaixo do esperado, na avaliação de Danielle Grillo. Mas também estão em desacordo com o que foi planejado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) antes da primeira aplicação das doses em crianças no Espírito Santo. O projetado era que o Estado chegasse ao mês de março, ou seja, dois meses após o início da campanha, com 90% das crianças com uma dose aplicada.
Para isso, o secretário Nésio Fernandes afirmou na ocasião que seria necessário apoio dos pais, lembrando que o Estado precisaria aguardar o envio de doses pelo Ministério da Saúde. A primeira dessas duas condições, o incentivo dos responsáveis pelos pequenos, é o que impede um avanço nos números, segundo avaliam especialistas.
Danielle Grillo
Coordenadora do Programa Estadual de ImunizaçõesNa última sexta-feira (11) e no sábado (12), o governo do Estado organizou um mutirão para ampliar a cobertura vacinal de crianças entre 5 e 11 anos. A ideia, divulgada pela Sesa, era aplicar 65 mil vacinas. No entanto, menos de 13 mil foram aos braços das crianças capixabas.
Apesar de o Estado ter aplicado apenas 1/5 do que foi programado e disponibilizado pelos municípios, a coordenadora do Programa Estadual de Imunizações avalia que o mutirão é uma estratégia de mobilização bem-vinda para dar visibilidade à vacinação.
"O mutirão é uma estratégia de mobilização da sociedade. É sempre bem-vindo para dar visibilidade à vacinação. Mas a adesão dos responsáveis ainda está aquém do desejado. Dois meses depois, estamos com 40% de crianças com a primeira dose e 7% com as duas doses. Vamos precisar trabalhar bastante com as famílias e com os municípios, que são os responsáveis pela aplicação das vacinas", afirmou.
Sobre o trabalho desenvolvido com os municípios, Danielle Grillo diz que as cidades do Estado recebem atualmente as seguintes orientações:
Perguntada pela reportagem de A Gazeta para esclarecer como o Estado lida com escassez de doses contra a Covid-19, Danielle Grillo afirmou que não faltam vacinas para as crianças, tanto de doses da Coronavac quanto da Pfizer. O que é necessário para ampliar a cobertura vacinal, , segundo a coordenadora, é que os responsáveis procurem o imunizante.
A expectativa do Estado era chegar ao mês de março com 90% das crianças vacinadas com uma dose. A realidade é menos da metade da meta estipulada. 41% das crianças receberam a D1. A dificuldade imposta, na avaliação da doutora em epidemiologia e professora da Ufes Ethel Maciel, são as campanhas de desinformação e de desincentivo. A especialista afirma que o governo federal tem responsabilidade na baixa adesão à vacinação.
Ethel Maciel
Doutora em Epidemiologia da UfesDe acordo com Ethel Maciel, essa é a campanha que sofreu maior impacto da desinformação até o momento. A epidemiologista, que é colunista de A Gazeta e comentarista da CBN Vitória, aponta que o ritmo "bem lento" é fruto da desinformação.
O mutirão nas cidades do Estado ocorreu em uma semana de mobilização. No último dia 9, a Secretaria de Estado da Saúde promoveu a live “Segurança e necessidade da vacinação das crianças”, com a participação de especialistas no assunto. A ideia era tirar qualquer tipo de dúvida e mostrar a importância de imunizar os pequenos.
A conversa foi mediada pelo secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, e teve como convidados o pediatra infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, além do infectologista Éder Gatti, doutor em Saúde Coletiva e médico no Instituto Butantan.
O pediatra infectologista Renato Kfouri evidenciou a queda de óbitos pela doença após o início da vacinação em âmbito nacional e o número de casos de crianças contaminadas com o vírus no País. No Espírito Santo, na faixa etária entre 5 e 11 anos, já são mais de 35 mil casos confirmados da doença e seis mortes registradas, segundo dados da Sesa.
O médico lembrou que a Covid-19, na área da pediatria, mata mais do que todas as outras doenças combatidas por vacinas do calendário de imunização, como sarampo, gripe e meningite. Renato Kfouri disse que os pais que não vacinaram seus filhos devem ser orientados, não rechaçados.
Renato Kfouri
Pediatra infectologistaO médico Éder Gatti mostrou os índices de eventos adversos na sociedade, destacando a importância e segurança de todas as vacinas disponibilizadas no momento. Além disso, ressaltou que as crianças precisam ser protegidas contra a Covid-19.
“As vacinas não são experimentais. Elas foram licenciadas por órgãos licenciados e não há motivos para não se imunizar. Aproveito para alertar a população sobre as notícias falsas, que atrapalham muito nesse processo. A melhor informação é aquela vinda de veículos sérios e comprometidos com o trabalho. Temos por obrigação passar para os nossos filhos o legado da vacinação”, disse.
Fazendo um apelo para que as famílias do Espírito Santo procurem imunizar suas crianças, o secretário Nésio Fernandes reforçou que a desinformação tem afetado a cobertura vacinal.
"Movimentos que surgiram acabaram fragilizando a confiança que os brasileiros sempre tiveram nas vacinas. Mas dentro do Plano Nacional de Imunização todas são seguras. Muitos entraves e polêmicas, com um ritmo de vacinação que não tem a velocidade que tivemos durante a vacinação de idosos e adultos", afirma.
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