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Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 11:03
O jovem de 21 anos que teve a barriga cortada e parte do intestino exposta em uma praia de Guarapari, em 16 de janeiro, teria usado drogas naquela noite, segundo relato da namorada à Polícia Civil. Ela disse que eles consumiram álcool e um entorpecente que era um “quadradinho de papel”.>
Em depoimento, a moça, de 20 anos, contou que eles usaram a substância pela primeira vez e que, depois disso, ela “apagou” e não se lembra de nada. O caso está sendo investigado.>
Especialistas da área de Saúde consultados por A Gazeta afirmam que a perda de memória está associada ao uso de drogas sintéticas, que provocam efeitos que vão desde euforia até paradas cardiorrespiratórias.>
“A maioria dessas drogas causam uma sensação de prazer inicial, e é o que atrai muitos jovens. Mas depois vêm os problemas, os efeitos adversos e colaterais. A pessoa pode desenvolver convulsões, por exemplo. Isso acontece bastante em relação ao ecstasy. Pode ter também um comprometimento cardiovascular e do sistema nervoso”, alertou o coordenador do programa de Pós Graduação de Farmácia Clínica da UVV, Andrews Marques. >
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As drogas sintéticas são aquelas produzidas em laboratório por meio de substâncias químicas. De acordo com o médico psiquiatra Gilson Giuberti Filho, elas agem no sistema nervoso central e podem fazer com que a pessoa tenha alucinações, como é o caso das drogas classificadas como perturbadoras.>
Entre as mais comuns estão as “drogas recreativas”, que são vendidas em festas e provocam, inicialmente, uma sensação de prazer. É o caso do LSD (dietilamida do ácido lisérgico), que também é chamado de quadrado ou papel, e o MDMA, popularmente conhecido como ecstasy. >
“As duas são substâncias que causam desordenação do sistema nervoso central. A pessoa começa perdendo a capacidade de perceber o som, a imagem, a noção da realidade. A temperatura do corpo aumenta e ela tem alucinações”, explica Giuberti, ressaltando que, dependendo da quantidade usada, pode ocasionar perda de memória. "No dia seguinte, ela não vai se lembrar do que aconteceu."
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Algumas drogas sintéticas têm efeito anestésico, como é o caso da ketamina, um entorpecente utilizado para anestesiar cavalos, mas que é cada vez mais comercializado em festas. Segundo Giuberti, ela gera anestesia e alucinação no momento do uso. >
“A ketamina foi criada há mais de 40 anos e lançada como anestésico endovenoso para realização de cirurgias, mas que tinha um efeito colateral que eram as alucinações. Nos Estados Unidos, já é usado como entorpecente há décadas e isso tem virado moda no Brasil. É uma droga capaz de fazer com que a pessoa não sinta dor”, explica.>
Existem ainda as drogas classificadas como depressoras, ou seja, que deixam o organismo mais lento. Diferente do LSD e do MDMA, elas não são tão utilizadas para recreação, já que provocam um efeito sedativo, como explica a pesquisadora da Unifesp e especialista em farmacologia Solange Nappo.>
"São drogas que vão fazendo a pessoa perder a conexão com a realidade e, em alguns casos, pode ser fatal. Geralmente, não são tão facilmente vendidas em festas, elas são compradas em farmácias sob prescrição médica", pontuou, citando os benzodiazepínicos como exemplo. >
"É um tipo de droga que pode levar a um sono tão profundo a ponto de fazerem algo com a pessoa e ela não perceber.">
Também fazem parte das substâncias depressoras os opiáceos, uma classe de drogas derivadas da papoula-do-oriente que tem uma ação anestésica no corpo até 100 vezes mais forte do que a morfina e pode levar à morte. Foi o caso do cantor norte-americano Prince, em 2016, que teve uma overdose de fentanil.>
“O fentanil é um opioide sintético intravenoso usado como sedativo na realização de cirurgias. Ele é perigoso porque pode provocar dificuldade de respiração”, explica Andrews Marques, professor da UVV.>
Andrews ressalta que a perda de sentidos ocasionada pelas drogas repressoras está associada, principalmente, ao uso de outra droga depressora, como é o caso do álcool, que potencializa os efeitos. >
“Hoje em dia, várias drogas sintéticas podem provocar um apagão quando usadas em quantidade significativa. Isso depende muito do corpo e do organismo, e o efeito acaba potencializado quando a pessoa está desidratada ou há ingestão combinada de álcool.”>
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