Publicado em 28 de agosto de 2020 às 11:38
A história que você está prestes a ler poderia ser o roteiro de um bom filme ou série de TV. Mas embora tenha todos os ingredientes de uma boa ficção, a família James é real. Ela é composta pela capixaba Jaqueline James, de 34 anos, o marido José James, 50, e os sete filhos do casal: Sarah e André, de 14 anos; João Paulo, 11; José Júnior, 9; Daniel, 8; e os gêmeos Bradley e Alisson, de 3 anos.
"Minha vida virou de pernas para o ar. Todos os meus sonhos mudaram. É muita renúncia, mas é confiar no que Deus tem para nós", diz Jaqueline, na tentativa de explicar a própria história, mas ciente de que tem uma família diferente das demais.
A personagem principal dessa história se mudou de Colatina para os Estados Unidos em 2005. "Conheci meu ex-marido pelo MSN (programa de mensagens já extinto). Ele era americano e foi por causa dele que vim morar aqui. Eu tinha acabado de fazer 19 anos quando vim para os Estados Unidos. Casei no Brasil, cheguei aos EUA e logo engravidei. Pouco mais de um ano depois a gente se separou", recorda.
Seis meses após a separação, a capixaba foi parada por dirigir acima da velocidade e, assim, conheceu o policial José James. Os dois se casaram e, tempos depois, tiveram um filho. Jaqueline, que já era mãe do André, agora também tinha o José Júnior.
A família parecia estar completa. Mas em 2014, três anos depois do nascimento do segundo filho, Jaqueline recebeu a notícia que mudaria radicalmente a vida dela. Seu irmão Rogério, que morava no Rio de Janeiro, havia falecido e deixado dois filhos. Ninguém da família da capixaba sabia, até então, da existência das crianças.
"Minha mãe ficou muito triste, querendo conhecer os netos. Eu fui virando o mundo de cabeça para baixo para conseguir achar a mulher e as crianças, e consegui fazer com que eles fossem até Colatina. Assim que chegou à casa da minha mãe, a mulher passou mal", conta.
Márcia, viúva do irmão de Jaqueline, foi entubada e levada direto para a UTI do hospital. Ela foi diagnosticada com cirrose, já em fase terminal. Uma semana depois a mulher faleceu e deixou, além dos dois sobrinhos de Jaqueline, uma menina, fruto de outro relacionamento.
"Em uma ligação, pedi a minha mãe para colocar o telefone na orelha dela e falei: 'Márcia, pode confiar em mim, eu também sou mãe. Estou te dando a minha palavra que vou tomar conta dos seus filhos, pode ficar em paz'. A mulher morreu ali, no telefone, naquela hora. Deixou meus dois sobrinhos e a filha dela", conta Jaqueline.
A capixaba e o marido se responsabilizaram pelo sustento das crianças e passaram a enviar dinheiro, mensalmente, para a mãe de Jaqueline, que era quem cuidava das crianças. Tempos depois, no entanto, o casal decidiu que seria melhor levar as crianças para os Estados Unidos e começou uma luta pela adoção internacional.
"Eu poderia ter adotado só os dois meninos, e ele (marido) por ser um homem de Deus olhou para mim e disse: 'Jaqueline, Deus fala para a gente fazer as coisas com amor, corretamente. Não é certo separar os irmãos logo depois de uma perda tão grande para eles, então vamos adotar os três. E assim me tornei mãe de cinco", lembra.
Jaqueline James
Capixaba que mora nos EUASe passaram dois anos de luta até a adoção se concretizar. Em 2017, quando João Paulo, Daniel e Sarah finalmente chegaram a Columbus, no Estado de Ohio, Jaqueline prometeu que nunca mais se envolveria com adoção.
Jaqueline James
Capixaba que mora nos EUABradley e Alisson, hoje com 3 anos, chegaram na vida da família James em 2017. Gêmeos, eles nasceram prematuros aos seis meses de gestação porque a mãe biológica tentou realizar um aborto em casa. A mulher e as crianças sobreviveram e, ainda no hospital, a mãe decidiu que não ficaria com os filhos.
A avó biológica de Bradley e Alisson, uma senhora diagnosticada com Alzheimer, frequentava a mesma igreja evangélica que a família de Jaqueline e entregaria as crianças, por ordem do governo, a um casal que havia se disponibilizado a adotá-los. Tempos depois, no entanto, o casal engravidou e desistiu da adoção.
"Vi aquela senhora chorando na porta da igreja e pensei que poderia ajudar. Levei as crianças para passarem uns dias na minha casa, a avó me pediu para adotá-las e eu falei que não. Até que um dia ela foi levar as crianças para passar um fim de semana com ela. Alisson ficou desesperada e começou a chorar, tanto que nós tivemos que ir buscar os dois", relata.
Jaqueline James
Capixaba mãe de sete criançasO processo de adoção dos gêmeos ainda não foi concluído e tem corrido de forma lenta nos EUA por conta da pandemia de Covid-19, segundo Jaqueline. Com filhos de diferentes raças e origens, incluindo a pequena Alisson que tem microcefalia , Jaqueline se diz feliz apesar das muitas renúncias.
"Eu sou muito mãe raiz. Já acordo de manhã batendo as minhas panelas, mandando arrumar as camas. Até os gêmeos já arrumam a cama deles. Eu tenho vontade de sair para trabalhar, de fazer faculdade. É uma renúncia diariamente. Por mais que eu tenha uma condição financeira boa aqui, não tenho coragem de deixar sete filhos. Para cuidar de sete filhos e não deixar a casa quebrar, tem que ter pulso firme e isso não é para todo mundo", revela.
Você deve estar se perguntando: as crianças se dão bem? Ela garante que sim. "Meus filhos biológicos adoraram a ideia da família crescer. Eles se cuidam muito, cuidam um do outro com amor. É uma criação diferente, eles se cuidam, eles se protegem. Eles não se batem, eles não brigam. Um dá banho no outro, ajuda a trocar a fralda, ensinam português para os irmãos americanos. Meus filhos biológicos também aprenderam português quando os outros chegaram. A gente se protege muito", encerra Jaqueline.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta