Laurentino, Adauto com as filhas Natália e Larissa, e Matheus: bom desempenho nas seleções para a universidade
Laurentino, Adauto com as filhas Natália e Larissa, e Matheus: bom desempenho nas seleções para a universidade. Crédito: Fotos: Arquivo-AG Arte: Geraldo Neto

70 anos da Ufes: por onde andam ex-alunos que passaram em 1° lugar

Destaques na seleção da universidade ouvidos por A Gazeta seguem bem-sucedidos na trajetória profissional; conheça algumas dessas histórias

Tempo de leitura: 7min
Vitória
Publicado em 06/05/2024 às 16h37

Ao longo de seus 70 anos, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) já usou diferentes modelos para admissão de novos alunos. Do tradicional vestibular ao mais recente processo, o Sistema de Seleção Unificado (Sisu), o fato é que a disputa é sempre intensa, sobretudo naqueles cursos considerados tradicionais, como Medicina e Engenharias. Então, sem contar aspectos sociais, conquistar uma vaga é resultado de muita dedicação. Mas e o que dizer daqueles que superam expectativas e passam em primeiro lugar? O bom desempenho acadêmico é indicativo de sucesso profissional? A Gazeta foi atrás de ex-alunos para contar um pouco de suas trajetórias e descobriu alguns pontos em comum que vão além da habilidade de fazer boas provas. 

Referência na área de Oftalmologia no Espírito Santo e atuando também em São Paulo, o médico Laurentino Biccas Neto relembra um pouco do início de sua caminhada. Com apenas de 17 anos, ele foi aprovado em primeiro lugar geral na Ufes, no vestibular de 1987. Ele conta que sempre foi um aluno de alto desempenho, com destaque, inclusive, em áreas distintas das biomédicas, como Olimpíada Brasileira de Matemática. Ainda adolescente, dava aulas de inglês e, hoje, fala seis idiomas. 

Na graduação, sua performance foi tão acima da média que lhe garantiu o prêmio "Estetoscópio de Ouro", concedido por uma empresa, por ter sido o melhor aluno da faculdade de Medicina. Até pouco tempo atrás, afirma Biccas, mantinha o maior coeficiente da história do curso na Ufes — 8,9 —, mas não sabe se outro estudante superou esse feito recentemente. Ainda assim, um grande feito. Ao concluir a faculdade, passou em seis residências — cinco em primeiro lugar. Escolheu fazer Oftalmologia na Fundação Hilton Rocha, na qual o próprio médico que dá nome à entidade quis conhecer o capixaba porque ele havia "fechado a prova".

É claro que essas credenciais orgulham o oftalmologista, mas ele tem uma percepção de sucesso que extrapola o fato de ter obtido tantos primeiros lugares. Para Biccas, os jovens que estão em formação hoje não devem se limitar a uma competência monotemática e precisam desenvolver as chamadas soft skills, que são habilidades comportamentais, como a empatia, criatividade, adaptabilidade e capacidade de atuar em equipe. São atributos que vão valer para a vida toda. 

70 anos da Ufes: por onde andam ex-alunos que passaram em 1º lugar
Laurentino Biccas Neto, em 1987, quando foi aprovado no vestibular, e, recentemente, em seu consultório. Crédito: Fotos: Arquivo-AG e Acervo pessoal

Por essa razão, o médico se mostra crítico ao modelo de educação de tempo integral adotado no país, o qual, na sua opinião, 90% é para conveniência dos pais e só 10% para os filhos. "Eu estudo muito a parte cognitiva e acho altamente contraproducente. Às vezes, somos compelidos pela pressão social, pelo círculo de amizades, mas o melhor para o desenvolvimento cognitivo não é isso. Eu, por exemplo, sempre tive vários outros interesses: jogava tênis, fui piloto e instrutor de voo, estudei idiomas", pontua o médico, que tem três filhos. 

Biccas avalia que, nesse contexto, muitos jovens sofrem uma pressão extrema dos pais por resultados, que beira o assédio moral.  Famílias que terceirizam a educação. "Pagam uma escola cara, que vai ensiná-los habilidades, mas não educá-los. Se as famílias investirem em educação (em casa), os filhos podem aprender muito, várias habilidades. Mas, se eles forem muito bem treinados, e sem educação, não chegam longe, não", sentencia o oftalmologista, que, sempre antenado, agora também se dedica a estudos relacionados ao uso da inteligência artificial (IA) na sua área. 

De pai para filhas

Primeiro lugar geral na Ufes por dois anos seguidos na década de 1980, Adauto Caldara ainda viu suas filhas gêmeas, Natália e Larissa, passarem, em primeiro e segundo lugares, no curso de Engenharia Civil na mesma instituição. Ele, contudo, tem uma visão mais humanística sobre o que realmente importa: os valores compartilhados. 

Adauto acabou fazendo sua graduação em Engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), mas teve uma breve experiência do curso na Ufes, antes de sua mudar para a nova instituição, e quando retornou para fazer mestrado.  Suas memórias são de tempos felizes, especialmente diante da grandiosidade da universidade para aquele jovem que tinha acabado de deixar a cidade de Marilândia, recém-emancipada, na região Noroeste do Estado. 

Quando concluiu a faculdade, Adauto quis retornar para o Espírito Santo. Recebeu inúmeras oportunidades, mas optou pela Vale, onde permaneceu por 30 anos, dos quais 20 como executivo. Paralelamente, deu aulas durante 12 anos. Hoje, atua como consultor e empresário na área de sustentabilidade e energias renováveis. "É uma área em que acredito que posso contribuir. E, no fim, a partir de uma certa idade, a gente tem que pensar mais é no legado que pretende deixar."

70 anos da Ufes: por onde andam ex-alunos que passaram em 1º lugar
Adauto e as filhas, Natália e Larissa, se destacaram nas seleções que participaram. Crédito: Fotos: Arquivo-AG e Acervo pessoal

Para as filhas, certamente Adauto é referência.  Da primeira vez em que o engenheiro saiu nas páginas de A Gazeta para falar de seu desempenho nos vestibulares da Ufes, Natália e Larissa estavam com dois anos. Na ocasião, ele disse que não cobraria delas o primeiro lugar quando fossem disputar uma vaga, mas uma nota que pudessem passar. Pois as duas obtiveram pontuação mais que suficiente e ficaram à frente na seleção de 2018, em Engenharia Civil. 

Aos 24 anos, Natália conta que ela e a irmã sempre foram muito disciplinadas, uma ajudava a outra nos estudos, e esperavam passar na Ufes, mas não nas primeiras colocações. A escolha pela Engenharia foi algo natural para a graduação, pela formação do pai, mas acabou servindo como base para outras escolhas profissionais. 

"Lembro com muito carinho das trocas com os amigos, com os professores. São conexões para a vida inteira. O curso em si foi muito bom, era um pouco coringa. Na universidade, um dos maiores aprendizados foi expandir os conhecimentos lógicos, que exigem muito, e nos dão resiliência com os desafios", ressalta.

Natália diz que participou de projetos de extensão e estágios para complementar a formação e, em um deles, atuou na área de programação. Percebendo a afinidade com a tecnologia, acabou ingressando no mercado de trabalho numa área de estratégia digital em uma multinacional do agronegócio, em São Paulo. 

Mas quem se mudou primeiro foi Larissa, hoje na função de "sales trader" do Itaú. "Durante o curso, gostei bastante, mas acho que não me identifiquei tanto com a parte prática. No final da formação, entrei no mercado financeiro e decidi vir para São Paulo e me arriscar um pouco", revela. 

Assim como a irmã, ela comenta que cresceu em um ambiente incentivada a estudar por conta própria, e também em dupla. Quando ingressou na faculdade, estava muito focada em concluir, mas depois, vendo a importância das atividades extracurriculares, percebeu que poderiam também contribuir com a sua formação. 

"Participei de vários projetos de extensão, fiz teatro e, nos estágios, meu primeiro contato com o mundo profissional e em segmentos bem diferentes. Fui adquirindo senso de responsabilidade sobre a importância de agregar resultado para a empresa. Essas atividades são tão importantes quanto à faculdade", sustenta. 

Para Adauto, as filhas também são motivo de orgulho.

Proeza aos 16

Aprovado em primeiro lugar geral na Ufes aos 16 anos, e também em outras duas instituições para cursar Medicina, Matheus Vescovi Gonçalves estudou no Espírito Santo, mas se estabeleceu profissionalmente em São Paulo. Ele é hematologista do Grupo Fleury, empresa com atuação em diversos Estados, inclusive em território capixaba. 

Relembrando aquele momento da aprovação, no vestibular de 1999, Matheus conta que sempre foi bastante estudioso, mas que, como tudo na vida, é preciso ter equilíbrio para ser bem-sucedido. "Então, eu também tinha horário de lazer, praticava esportes", comenta. Questionado sobre o surfe, pois havia ganhado uma prancha do pai pouco antes do resultado das provas, o médico se divertiu com a lembrança, mas lamentou não conseguir levar o hobby adiante.

70 anos da Ufes: por onde andam ex-alunos que passaram em 1º lugar
Quando foi aprovado na Ufes, Matheus tinha apenas 16 anos. Crédito: Fotos: Arquivo-AG e Acervo pessoal

Sobre a escolha da universidade, Matheus afirma que, além da proximidade com a família, a Ufes era um sonho. "Antes mesmo do vestibular, eu já admirava. Fiz o ensino médio muito próximo do campus de Goiabeiras. Então, eu sempre me imaginava estudando lá, tendo esse privilégio. A Ufes tem um perfil de tradição, de inserção na comunidade médico-científica", pontua. 

Em uma especialidade menos conhecida da população, a hematologia, Matheus escolheu a área em um processo contínuo, com forte participação de professores da Ufes.  Depois, na residência em clínica médica na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um pré-requisito para a área que desejava, teve convicção de sua opção.  Quando ingressou no doutorado, na mesma instituição paulista, também passou a trabalhar no Grupo Fleury, no qual é um dos profissionais da área de medicina diagnóstica, especialmente de doenças oncológicas. 

Também atua como professor da Unifesp e, perguntado se hoje ele é a inspiração para novos alunos, Matheus diz que tenta passar o melhor de si. "Na nossa formação, seja em qual fase for, o professor tem uma função importante, é uma potencialidade de inspiração", analisa. Hoje, casado e pai de dois filhos, "ainda na fase da bagunça", o médico se sente realizado com o caminho que trilhou até aqui, mas garante que ainda há muitos projetos pela frente. 

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