
Qual a relação entre a Bolívia e o município de Itarana, no Noroeste do Espírito Santo? Quem ouve a pergunta pela primeira vez pode achar até estranha, mas a pequena cidade capixaba carrega uma ligação com o país sul-americano, mais especificamente no agronegócio.
Trata-se de um sabor que faz muito sucesso com os bolivianos que também caiu no gosto dos capixabas e está ganhando destaque na agricultura itaranense.
Cerca de trinta anos atrás, um morador de Itarana voltou da Bolívia com cinco sementes de uma fruta originária do país e plantou em terras capixabas. Era uma fruta agridoce, com sabor que lembra o mangostão, e fácil de abrir, mas de nome difícil: achachairu.

A fruta nativa da Amazônia boliviana tem um parentesco com o bacupari brasileiro, porém com um teor de polpa e peso maiores, além de uma produção mais elevada que o parente. O fruto é rico em potássio, vitamina C e ácido fólico.
Em Itarana, aos poucos a fruta foi sendo levada para outras propriedades e se tornando conhecida para os 10 mil itaranenses. Apesar disso, a produção na cidade capixaba era pequena, apenas para o consumo dos apreciadores do achachairu.

FRUTA VIRA ALTERNATIVA PARA PRODUTORES
De uns anos para cá, alguns familiares daquele morador que trouxe as primeiras sementes resolveram apostar no potencial econômico da fruta e produzir o achachairu em escala comercial.
Abel Basílio de Souza Neto
Produtor rural em Itarana
"Em 2013 meu pai teve a ideia de fazer um pomar comercial. Hoje essas plantas já estão na segunda safra. A gente gostava muito do sabor da fruta, era um gosto pessoal nosso. Mas não poderíamos imaginar que teria volume de venda ou um preço atrativo. Mas a gente sabia que as pessoas iam gostar do sabor, então resolvemos apostar"

Sem saber se a fruta teria essa aceitação no mercado, os produtores fizeram as mudas e plantaram junto com uma cultura muito familiar aos capixabas: o café. E essa dobradinha do Espírito Santo com a Bolívia funcionou.
Dos 800 pés plantados na época, 600 estão em plena produção. A primeira colheita foi em 2020 e resultou em três toneladas. A expectativa é de que neste ano a produção seja até três vezes maior.

Segundo o produtor capixaba, até hoje os pés de achachairu não receberam nenhum trato especial. Mas diante da valorização da fruta e da expansão da área, os planos também estabelecem um investimento nessa área. “A cada ano a gente vai se adaptando e aprendendo com os nossos erros, já que não existe muita literatura sobre o fruto. A partir do próximo ano a gente pretende ter o acompanhamento de um agrônomo para aumentar esse potencial de produção da planta”, contou Abel.
Segundo o produtor, o achachairu deve ser colhido no exato momento em que está no ponto para o consumo. Ao contrário dos frutos de outras espécies, que continuam amadurecendo após a colheita, uma vez retirado do pé, ele mantém seu estado inalterado, permanecendo bom para o consumo por até 15 dias.

VALORIZAÇÃO E EXPANSÃO
Da propriedade da família no interior de Itarana, a produção vai para supermercados e estabelecimentos da Grande Vitória. Para garantir a qualidade do fruto, os produtores se encarregam de todo processo até a entrega. Da lavoura, as frutas são levadas para um espaço, onde são selecionadas, pesadas e embaladas.
O achachairu tem conquistado cada vez mais o paladar dos capixabas. Por isso, o fruto é bem valorizado no mercado. Segundo Abel, em um ano o preço da fruta dobrou. Para o consumidor final, o valor passa de R$ 20 o quilo.
O negócio deu tão certo que o produtor vai ampliar a área de produção. “A gente já está no preparo de uma área para plantar no final deste ano. Vamos ampliar nosso pomar para 2 mil pés produtivos, além dos 600 que nós temos atualmente”, disse empolgado.

Com aumento na produção e preço atrativo, não são só os paladares capixabas que a fruta produzida em Itarana vai conquistar. A família também vai vender para fora do estado. O achachairu do Espírito Santo vai chegar em São Paulo e será distribuído na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
Esse sucesso na produção também está influenciando outras pessoas no município. Além da família de Abel, outros produtores de Itarana estão começando a trabalhar com a fruta de origem boliviana.

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