Publicado em 15 de março de 2021 às 17:16
- Atualizado Data inválida
O Oscar deste ano está diferente. É fácil pôr a culpa na pandemia - e de fato ela será a grande responsável por minar o glamour da festa, que acontece no dia 25 de abril, provavelmente de forma híbrida -, mas as mudanças desta 93ª edição ficaram evidentes com a divulgação dos indicados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, nesta segunda (15).>
Parece que a associação que entrega o "homenzinho dourado" realmente caminha para uma mudança, depois de ampliar o seu quadro de votantes e adotar medidas em prol da diversidade, com alguns recordes importantes quebrados com o anúncio.>
O primeiro deles não chega a ser uma surpresa, já que a presença de mais de uma mulher na categoria de direção já vinha sendo ventilada há meses. Chloé Zhao, de "Nomadland", e Emerald Fennell, de "Bela Vingança", estão na disputa, que pela primeira vez tem mais de uma única diretora. Ao longo de toda a história da premiação, só cinco mulheres foram indicadas, cada uma em uma edição diferente.>
Muitos esperavam que uma terceira se somaria a elas - Regina King, de "Uma Noite em Miami" -, mas a lista ficou completa com Lee Isaac Chung, de "Minari", David Fincher, de "Mank", e Thomas Vinterberg, de "Another Round".>
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O quinteto ainda solidifica a forte presença de cineastas estrangeiros na categoria - há quatro anos, um americano não sai vitorioso dela. Zhao, a favorita, é chinesa, enquanto Vinterberg é dinamarquês e foi uma boa e inesperada aparição na corrida, graças a "Druk - Mais uma Rodada", o provável vencedor de melhor filme internacional. Chung nasceu nos Estados Unidos, mas é filho de coreanos.>
O outro recorde do anúncio de hoje veio com as categorias de atuação. Cinco anos depois da campanha #OscarsSoWhite, que denunciou a ausência de atores não brancos na cerimônia de 2016, a Academia escolheu nove artistas de etnias sub-representadas para ocuparem suas 20 vagas dessa seção.>
Steven Yeun, de "Minari", se tornou o terceiro indicado a melhor ator de ascendência asiática, enquanto Riz Ahmed, de "O Som do Silêncio", o quarto, e também o primeiro muçulmano na categoria. Eles se juntam, na corrida, a Chadwick Boseman, que recebeu uma indicação póstuma por "A Voz Suprema do Blues", fazendo dos brancos, pela primeira vez, a minoria nela. Os veteranos e já oscarizados Gary Oldman, de "Mank", e Anthony Hopkins, de "Meu Pai", completam o quinteto.>
Em ator coadjuvante, há três negros concorrendo - Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield, por "Judas e o Messias Negro", e Leslie Odom Jr., por "Uma Noite em Miami"-, enquanto a diversidade entre as atrizes fica por conta de Andra Day, de "The United States vs. Billie Holiday", e Viola Davis, por "A Voz Suprema do Blues", em principal, e a coreana Youn Yuh-jung, de "Minari", em coadjuvante.>
Entre os filmes que concorrem à estatueta mais cobiçada do Oscar, "Judas e o Messias Negro" é o primeiro na história a ser produzido só por negros. Ele se junta a outros sete, "Minari", "Bela Vingança", "O Som do Silêncio", "Meu Pai", "Mank", "Os 7 de Chicago" e "Nomadland", que acumula mais prêmios nesta temporada.>
"Mank", aliás, lidera as indicações, aparecendo em dez categorias. Produzido pela Netflix, ele foi esnobado na cerimônia do Globo de Ouro e vinha perdendo parte do apelo nas últimas semanas. Agora, reaparece como forte candidato e pode garantir ao gigante do streaming alguns prêmios importantes.>
Da mesma forma que no ano passado, a Netflix tem duas produções na disputa de melhor filme, "Mank" e "Os 7 de Chicago". Até agora, a companhia não conseguiu desbancar estúdios tradicionais e arrematar o principal prêmio da cerimônia, gerando grande expectativa para a festa de abril. Ao todo, a plataforma recebeu 35 indicações nesta edição, à frente de qualquer outro estúdio. Vale lembrar, no entanto, que as 24 menções no ano passado resultaram em só duas vitórias.>
Por falar da velha Hollywood, "Mank" pode ser um ponto de virada para a Netflix neste ano, já que a Academia adora laurear produções autorreferentes, que abordam a própria indústria cinematográfica. A trama de David Fincher ainda tem a seu favor o fato de se debruçar sobre os bastidores de "Cidadão Kane", o maior clássico do cinema americano.>
Outra plataforma de streaming que deu as caras em categorias importantes, incluindo na de melhor filme com "O Som do Silêncio", foi o Amazon Prime Video, que ainda tem "Uma Noite em Miami" e "Borat: Fita de Cinema Seguinte" sob sua alçada.>
O primeiro da tríade recebeu só uma indicação ao Globo de Ouro, em ator, e agora surpreende por garantir seis nomeações ao Oscar. Depois de "Mank", foi o filme mais lembrado, ao lado de "Nomadland", "Minari", "O Som do Silêncio", "Meu Pai" e "Judas e o Messias Negro".>
Boa parte das expectativas brasileiras em relação aos prêmios da Academia já havia sido frustrada no mês passado, quando a escolha do Brasil para tentar uma vaga em melhor filme internacional, o documentário "Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou", de Bárbara Paz, ficou de fora da lista de pré-indicados.>
Mas havia quem apostasse na presença de "Bacurau" na lista recém-divulgada. Mesmo não sendo elegível para a corrida de filmes estrangeiros, o longa, que estreou nos Estados Unidos só no ano passado, podia aparecer entre os esperançosos por outros prêmios, principalmente os técnicos. Não conseguiu.>
A diversidade que aos poucos - e ainda de forma inconstante e muito tímida em várias categorias - toma conta do Oscar, na verdade, parece ter esbarrado numa barreira neste ano. Os latinos ficaram praticamente de fora da festa, na década seguinte à que viu os mexicanos Alfonso Cuarón, Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro serem eleitos melhores diretores.>
Nem mesmo um dos fortes candidatos a filme internacional, o guatemalteco "La Llorona", confirmou as expectativas de especialistas e acabou barrado da lista de indicados. Ele foi preterido por produções de Dinamarca, Bósnia e Herzegovina, Hong Kong, Tunísia e Romênia.>
O curta "The Human Voice", do espanhol Pedro Almodóvar, e Sophia Loren, opção para a disputa de melhor atriz, também foram ignorados. O chileno "The Mole Agent", por outro lado, compete em documentário.>
Tramas sobre diversidade sexual também não foram convidadas para a noite de gala. Havia expectativa que o documentário "Welcome to Chechnya", sobre a perseguição a homossexuais na Rússia, chegasse à corrida de documentário e efeitos especiais, o que não aconteceu.>
Já "Segredos Mágicos", animação da Pixar sobre um casal gay, era apontado como presença quase certa entre os curtas, e até o execrado pela crítica "A Festa de Formatura" tinha chances em figurino, design de produção e cabelo e maquiagem. Nenhum deles apareceu na lista.>
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