Publicado em 15 de setembro de 2021 às 07:56
Após pedido do líder do governo, Fernando Bezerra (MDB-PE), o Senado adiou pela sexta vez, nesta terça-feira (14), a votação do projeto que cria o auxílio para a cultura, chamado de Lei Paulo Gustavo. >
O texto propõe a entrega de R$ 3,8 bilhões pela União a estados e municípios para aplicação em ações emergenciais que visem combater e mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre o setor cultural. >
Segundo Bezerra, a aprovação da proposta terá um impacto nas despesas públicas de aproximadamente R$ 4,3 bilhões. O senador não explicou a diferença nos valores dos recursos. >
O senador argumentou que não há espaço para esses gastos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, mas afirmou que o governo buscará uma solução para que o auxílio seja criado. >
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"Nós estamos compromissados a aprovar e encontrar os instrumentos para viabilizar esses gastos dentro do orçamento deste e do próximo ano e entendemos que esta matéria poderá ser deliberada quando da apreciação dos PLNs [projetos de lei do Congresso] e dos vetos que serão objeto de uma reunião específica do Congresso Nacional", disse Bezerra >
"Lembro que, para haver espaço no teto do gasto público [que limita o aumento das despesas inflação], temos de dar uma resposta à questão dos precatórios", afirmou o líder do governo. >
O autor da proposta, senador Paulo Rocha (PT-BA), concordou com o adiamento. O petista, porém, argumentou que os recursos para o auxílio fazem parte do Fundo Nacional de Cultura. >
"Há um fundo da cultura do País que está acumulado: R$ 4,3 bilhões. Esse fundo é do setor, apenas é gerido pelo governo. O que nós queremos? Como o governo mistura esse fundo nessa conta de teto, superávit etc., o que nós queremos, com a lei, é transferi-lo, para os estados e municípios aplicarem esse fundo", afirmou. >
Desde a manhã desta terça-feira, o secretário especial da Cultura, Mario Frias, vinha atacando o projeto de lei Paulo Gustavo. Em seu perfil no Twitter, Frias definiu o PL como um "absurdo que transformará o governo federal num caixa eletrônico de saque compulsório". >
O nome da lei seria uma homenagem ao ator Paulo Gustavo, morto em maio, devido à Covid-19. >
Governantes bolsonaristas têm criticado a proposta. "O PT, que se lambuzou com lei Rouanet, agora quer um repeteco com lei Paulo Gustavo", escreveu o deputado federal Eduardo Bolsonaro, no Twitter. >
"Eu já chamo [o projeto] de covidão da cultura. Se aprovado, o governo federal será obrigado a repassar aos estados grana para a 'cultura'. Vai ser de 'Criança Viada' para baixo", completou Bolsonaro, debochando da pandêmia da Covid-19 e de obras com o termo "criança viada", como as de Ícaro Machado e de Bia Leite. >
Mario Frias diz que, caso o projeto seja aprovado, "todos os projetos culturais que estão com apoio do governo federal serão interrompidos, por falta de recursos". >
Especialistas, no entanto, apontam inconsistências na fala de Frias. Isso porque, na prática, ele e sua Secretaria Especial da Cultura não podem usar as verbas que o projeto de lei pretende acessar. >
A Lei Paulo Gustavo quer destravar parte dos recursos do Fundo Nacional da Cultura e do Fundo Setorial do Audiovisual, fundos públicos voltados para o fomento do setor cultural. Uma parcela do dinheiro desses dois fundos públicos, do superávit financeiro, fica represado devido à Lei de Responsabilidade Fiscal --a Lei Complementar 101--, que obriga a União a cumprir metas que limitam o déficit, entre outras exigências. Ou seja, o dinheiro está lá, mas grande parte dele não é destinado a políticas culturais. >
Só que essa mesma lei 101 diz que "não serão objeto de limitação as despesas relativas à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico". >
O que a Lei Paulo Gustavo pretende é, nos moldes do que acontece com inovação e ciência, livrar os fundos do setor cultural das tais "limitações de despesas", que impedem que parte dos recursos do FNC seja executada --seja por Mario Frias ou por quaisquer outros entes da política pública cultural.>
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