Repórter do Divirta-se / [email protected]
Publicado em 10 de junho de 2021 às 10:46
A lei municipal de incentivo à cultura da Serra vai ganhar uma nova versão ainda neste primeiro semestre. A informação é da prefeitura da cidade, que garante estar em processo de finalização da nova Lei Chico Prego, que pretende seguir os moldes da Lei Rubem Braga (de Vitória) e Aldir Blanc (do governo federal), em que o repasse de verbas é feito do Executivo direto ao produtor cultural.>
Criada em 1999, a Lei Chico Prego consistia na concessão de incentivo financeiro para realização de projetos culturais por meio de renúncia fiscal e participação financeira das pessoas jurídicas e físicas, contribuintes do município. Porém, desde 2016 a lei está inativa e conta com uma série de reclamações de artistas que não conseguiram trocar os bônus conquistados nos editais.>
No total, 67 artistas da Serra até hoje não conseguiram usar os recursos adquiridos nos editais de 2015 e 2016 da Lei Chico Prego. Na ocasião, o contemplado ganhava certificados de bônus da Prefeitura da Serra (PMS) para trocar por dinheiro em empresas conveniadas, que abateriam o valor em tributos que deixaria de pagar. Só que nesse processo muitas firmas davam para trás na hora de negociar com os artistas, que acabam até deixando o caso de lado. >
A gestão municipal anterior apontava ainda problemas nas prestações de contas de alguns produtores. "Fizemos um levantamento sobre as prestações de contas e constatamos que muitos projetos contemplados desde 2001 ainda não regularizaram pendências junto à prefeitura. Estamos cobrando cerca de R$ 2 milhões, que precisam ser devolvidos aos cofres públicos", explicou o então secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer do município, Alessandre Motta, em entrevista ao Divirta-se, em 2020.>
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O problema chegou a ser apontado por parecer que o Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCE-ES) emitiu nos anos em que foi constatada a situação, mas o órgão também não teve retorno da repartição municipal sobre o que foi feito. Agora, a reportagem apurou que alguns artistas nem contam mais em receber o recurso, já que chegam a 6 anos o tempo de enrolo. >
Por isso, a expectativa do atual secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer, Thiago Carreiro, é que a lei da cidade seja totalmente reeditada, inspirada na Lei Aldir Blanc, do governo federal, que em 2020 distribuiu mais de R$ 1 bilhão a artistas do Brasil todo que enfrentam a crise financeira no setor artístico provocada pela Covid-19. >
Segundo ele, esses ajustes já estão em fase de finalização e o novo edital de convocação deve ser publicado pelo prefeito ainda neste início de segundo semestre de 2021. Assim como as demais cidades da Grande Vitória, a Serra possui fundo cultural próprio, o que facilita o repasse de dinheiro, que a partir de agora será feito diretamente pelo Executivo municipal, como adianta o titular da pasta. >
“A Serra ficou com a lei defasada. As leis de incentivo à cultura, no Brasil todo, ficaram mais modernas, mas a nossa, que foi pioneira no País, foi negligenciada. Agora, estamos alinhando com o que tem de mais moderno no Brasil nesse sentido, pegando também os aprendizados da Aldir Blanc e transformando a nossa lei”, fala. >
Thiago Carreiro
Secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da SerraPara o secretário, o repasse do dinheiro deve ser feito diretamente pela prefeitura, o que, segundo ele, dá mais transparência ao processo e deixa o trâmite mais simples. “O artista que ganhava o projeto tinha que pegar os bônus na prefeitura e trocar com as empresas, que receberia o incentivo fiscal. O artista tinha que ir à empresa e convencer os executivos de pagarem pelo seu projeto. Mas muitas delas davam para trás”, lembra. >
Sobre a falta desse pagamento, Thiago relata que a prefeitura segue em conversa, junto do Conselho de Cultura da Serra, mas que o órgão “seguirá em frente”, em suas próprias palavras. >
“A esses artistas que não receberam o recurso, eu digo: o incentivo à Cultura será uma prioridade agora. A gente vai falar de presente e de futuro. Esses problemas que deixaram para trás eles vão amarrar ainda mais o lançamento de um novo edital. Se a gente não pactuar esses erros, entraves do passado, a gente também não vai conseguir lançar um novo edital”, finaliza. >
A Gazeta questionou o TCE-ES sobre os pareceres que foram emitidos sobre a lei nos anos de 2015 e 2016. >
Na análise de prestação de contas da cidade do exercício de 2015, consta: “De acordo com o Relatório Técnico 463/2016, verificou-se que a ocorrência de renúncia de receita sem adequada previsão na LDO e na LOA. Nos termos do RT, as leis orçamentárias previam renúncias de receitas da ordem de R$ 9.730.000,00 (nove milhões e setecentos e trinta mil reais). Contudo, não se identificaram as medidas compensatórias exigidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal”. >
Em outras palavras, isso quer dizer que o Tribunal expediu uma determinação para que a cidade incluísse, nos parâmetros da lei de incentivo fiscal, um relatório de compensação, que seria um documento que “justificaria” o retorno do investimento. >
Em razão da falta desse relatório, como é chamado, o TCE-ES expediu, à época, uma determinação ao município para que elaborasse o Demonstrativo da Estimativa e Compensação de Renúncia de Receita de acordo com os artigos 4º, § 2º, inciso V e 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal e com o Manual de Demonstrativos Fiscais da Secretaria do Tesouro Nacional, já no próximo projeto de lei de diretrizes orçamentárias”. >
Vale destacar que o TCE-ES não questionou o edital ou publicações diretamente referentes à lei de incentivo, senão sobre um dos pontos que a regra ditava, que era a concessão de incentivo fiscal às empresas que pagassem os prêmios aos artistas. >
Até o fechamento desta matéria, não existe a confirmação ou não de que a Serra tenha, de fato, apresentado o documento que foi pedido. >
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