Publicado em 6 de maio de 2020 às 10:05
O presidente Jair Bolsonaro ampliou o processo de fritura da secretária especial da Cultura, Regina Duarte, ao interferir novamente em nomeações da pasta. Após repercussão, ele recuou de uma delas. >
Nesta terça-feira, o maestro Dante Henrique Mantovani foi devolvido à presidência da Funarte, a Fundação Nacional de Artes. No início da noite, o presidente tornou a nomeação sem efeito.>
Mantovani havia sido exonerado por Regina em março, logo após sua posse. Antes, ele havia associado o rock ao satanismo e ao aborto. Ao renomear Mantovani, apesar do recuo, Bolsonaro quer manter a força da ala ideológica no governo e, consequentemente, a militância bolsonarista aguerrida nas redes sociais.>
Como mostrou a Folha de S.Paulo na semana passada, Bolsonaro deu aval para aliados criticarem publicamente Regina, numa provável tentativa de forçar a atriz a deixar o cargo. Ele, contudo, não pretende demitir a atriz nos próximos dias. Bolsonaro deverá repetir o processo de fritura e desgaste que já fez com diversos ex-aliados como os ex-ministros Gustavo Bebianno, Sergio Moro e Ricardo Vélez. >
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O objetivo do presidente, segundo aliados, é ampliar o espaço dos ideológicos. Dessa forma, ele mantém por perto os grupos que considera mais fiéis - os militares, ocupantes de postos-chave no primeiro e segundo escalões, e os olavistas, para manter a ideia de "guerra cultural".>
Ainda nesta terça-feira, outro movimento do Palácio do Planalto foi feito. A pedido do presidente, o ministro Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, promoveu Luciano da Silva Barbosa Querido, ex-assessor do vereador Carlos Bolsonaro, do Republicanos, a diretor-executivo da Funarte. Essa nomeação foi mantida.>
Do lado de Regina, alguns aliados tentam minimizar a crise e dizem que ela não foi pega de surpresa com mudanças na Funarte, mas sim avisada desde a semana passada. Contudo, segundo relatos feitos à reportagem, ela não teve qualquer papel de decisão na recondução já abortada de Mantovani. A atriz pretendia indicar o produtor de teatro Humberto Braga para o cargo, mas a nomeação de Braga foi barrada no Planalto.>
Mantovani chegou a dizer à coluna Mônica Bergamo que pretendia ser recebido por Regina para uma conversa. "Tentei, tentei, tentei. Durante mais de um mês, procurei ela, pedi um encontro para explicar que minhas falas [sobre rock] foram descontextualizadas. E nada. Fui impedido de entrar no Palácio do Planalto na posse dela e exonerado no mesmo dia", disse o maestro.>
Na semana passada, depois de a Folha de S.Paulo publicar que Bolsonaro dera aval para o desgaste de Regina, o presidente reclamou publicamente da distância da secretária. Bolsonaro disse que Regina estava tendo dificuldades em se desvencilhar de nomes de esquerda da Cultura.>
Desde o fim de março ela estava em São Paulo, para onde viajou ainda nos primeiros dias de pandemia. Numa tentativa de reverter a situação, a atriz desembarcou em Brasília durante o fim de semana. Sua equipe busca marcar um encontro com Bolsonaro, mas ainda não há data para que isso aconteça.>
Regina vem dizendo a aliados que não irá se demitir e que pretende ser resiliente. Ela se apressa agora para tentar publicar um decreto de reestruturação da pasta, encomendado por sua equipe ao Planalto desde que ela assumiu, em março.>
Na semana passada, diante das críticas públicas de Bolsonaro, o ministro Álvaro Antonio, a quem Regina é formalmente vinculada, esteve com o presidente para pedir que a atriz permanecesse.>
A secretária e o ministro mantêm uma relação cordial e relativamente próxima. Ele, contudo, não tem barrado as indicações pedidas pelo Planalto, à revelia de Regina. E pessoas próximas ao ministro dizem que, se Bolsonaro pedir, ele pode demitir a atriz da Cultura, ainda que esse cenário não seja vislumbrado neste momento.>
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