Publicado em 29 de abril de 2020 às 09:52
Na última semana, com o aval de Jair Bolsonaro, aliados do presidente deram início a um processo de fritura de Regina Duarte, com o objetivo de fazer com que ela peça demissão do cargo de secretária especial da Cultura antes mesmo de ter completado dois meses nesse cargo. >
Segundo relatos feitos à reportagem, o presidente reclamou da dificuldade de diálogo com a atriz e da resistência dela em implementar mudanças.>
Regina também tem sido vítima de fogo amigo de membros da secretaria que permaneceram da gestão passada e que, na avaliação deles, não têm sido prestigiados por ela até o momento.>
Integrantes do governo e do setor cultural que apoiaram a escolha da atriz para o cargo disseram ainda, sob condição de anonimato, que a atuação de Regina vem sendo decepcionante.>
>
A atriz tomou posse no dia 4 de março, depois de uma longa negociação com a TV Globo, que pôs fim a um contrato de mais de cinco décadas.>
Ela havia aceitado a proposta para integrar a equipe de Bolsonaro no fim de janeiro, substituindo Roberto Alvim, demitido depois de fazer um vídeo em que parafraseava o discurso de um ministro da Alemanha nazista.>
Bolsonaro já disse a aliados que espera que parta da própria Regina uma decisão de deixar o governo. Ele também deu carta branca para que seus apoiadores critiquem a secretária.>
Mesmo com a pressão, e de pessoas próximas verem em suas publicações nas redes sociais um sinal de esgotamento, a atriz tem resistido. Ela tem dito a aliados que fica no governo até quando o presidente quiser e tem afirmado que confia em Bolsonaro e que fará medidas no setor cultural.>
Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria Especial da Cultura informou que "Regina Duarte segue trabalhando, reunindo-se com a equipe, representantes do setor cultural, determinada a fazer seu melhor pela cultura, sempre alinhada com o presidente Jair Bolsonaro".>
Desde que chegou ao cargo, Regina não fez anúncios contundentes para o setor cultural. Ela vem sendo cobrada pelo meio artístico pela liberação de recursos para o setor num momento de dificuldade.>
Aos 74 anos, Regina integra o grupo de risco da Covid-19 e foi desaconselhada a manter a rotina de viagens para Brasília. Desde o fim de março ela está trabalhando de São Paulo.>
No período, foram só duas medidas anunciadas pela pasta - a flexibilização de prazos para editais e alterações de políticas de reembolso de shows e eventos que foram suspensos por causa da crise.>
Não houve liberação de recursos, como vem sendo demandado pelo setor, como descontingenciamento do Fundo Setorial do Audiovisual.>
Incomodou a classe artística o fato de a atriz ter dito em reunião com ministros da Cultura na Unesco, na semana passada, que o governo incluiu a cultura entre os trabalhadores que terão direito ao auxílio emergencial de R$ 600.>
Os profissionais da área ficaram de fora do benefício.>
Um projeto de congressistas da oposição foi aprovado para incluir trabalhadores do meio artístico entre beneficiários, mas Bolsonaro avisou que não deve estender o programa a nenhuma categoria.>
Segundo a secretária de Cultura do Pará, Úrsula Vidal, que preside o fórum de secretários e dirigentes estaduais de Cultura, as medidas anunciadas até aqui por Regina não suprem as necessidades do setor e não atingem todo o país.>
Ela defende mais investimento e explica que em vários estados foram feitos editais que estão pendentes da liberação de recursos federais.>
Na Secretaria de Cultura, Regina enfrenta dificuldades operacionais como falta de equipe e de autonomia.>
Embora a pasta tenha sido transferida formalmente do Ministério da Cidadania para o do Turismo, parte da estrutura que presta assessoramento ainda não foi deslocada.>
A secretária também vive uma queda de braço com o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que faz publicações críticas à atriz. Ele conta com o apoio do presidente e da ala ideológica.>
Nesta terça-feira, o advogado Pedro Horta foi nomeado secretário-adjunto da Cultura. Ele ocupava a chefia de gabinete de Regina.>
Inicialmente, a atriz pretendia nomear o produtor de teatro Humberto Braga, mas o nome defendido por ela foi barrado pelo Planalto.>
A ala ideológica reagiu contra Braga sob a argumentação de que ele é de esquerda e publicou diversas fotos do produtor com congressistas de partidos de oposição.>
No meio artístico também são crescentes as queixas. Há duas semanas, um grupo divulgou um vídeo cobrando explicações da secretária pela demora da implementação de medidas para conter a crise no setor cultural.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta