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Bekoo das Pretas ganha websérie que incentiva o empreendedorismo

Bekoo das Pretas ganha websérie que incentiva o empreendedorismo

Episódios buscam narrar a história do projeto, nascido em 2016, e o impacto social que ela gera na comunidade

Publicado em 11 de março de 2021 às 12:36- Atualizado há 3 anos

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Cena de uma edição da festa Bekoo Das Pretas, em Vitória
Cena de uma edição da festa Bekoo Das Pretas, em Vitória. (Divulgação)
Autor - Pedro Permuy
Pedro Permuy
Repórter do Divirta-se / [email protected]

"A Melhor Festa de Preto que você respeita" - como o próprio evento se denomina nas redes sociais - terá sua história contada numa websérie. Em sete episódios, que vão ao ar semanalmente pelo Instagram e YouTube, "Bekoo - Made by Queens/This is Bekoo" narra a evolução da festa Bekoo das Pretas, realizada desde 2016 no Espírito Santo, com um quê de capacitação.

Enquanto exalta as conquistas de cunho social e econômico que a produção teve ao longo dos anos, a série também ensina como os idealizadores do projeto chegaram até lá. Com isso, cada capítulo fala desde a história do movimento até a ensinar a como precificar o trabalho de um microempreendedor negro. 

“É também para mostrar os caminhos, uma vez que representar não é apenas se ver, mas também saber que é possível. Porém, apenas saber que é possível é insuficiente. É necessário saber como faz”, completa Priscila Gama, CEO do Instituto Das Pretas, também considerada uma das mulheres negras mais influentes do Brasil.

O Bekoo das Pretas, que também é um bloco no carnaval de rua de Vitória, foi responsável por trazer ao Estado grandes nomes da arte nacional, e também um instituto, que funciona como uma entidade de apoio e desenvolvimento de projetos ligados aos temas comuns. Juntos, os braços da instituição basicamente visam à criação de uma rede de relacionamento e trabalho para os negros.

websérie serve, também, para celebrar os cinco anos desde a criação da primeira festa, realizada no Beco das Pulgas , no Centro de Vitória. A data foi completada em 2020, mas, pela pandemia, não pôde ser comemorada presencialmente.

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A websérie é sobre isso também, mas principalmente sobre registrar a importância e a potência de performances profissionais de protagonismo feminino, preto e periférico, dentro da arte, da cultura e do entretenimento no Brasil, espaço que é majoritariamente ocupado por homens brancos

Priscila Gama
CEO do Instituto das Pretas
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Olhando para trás, é justamente sobre isso que a ativista mais se orgulha. Em entrevista exclusiva à Gazeta, ela confessa: “A minha alegria é poder encurtar esse processo (de crescimento) para outras mulheres negras. Hoje eu tenho quase 40 anos e esse é o legado que eu quero deixar”.

E continua: “Para mim, é uma honra de ter iniciado uma festa (Bekoo das Pretas) que virou um movimento, um sentimento que vai para as pessoas, independente do presencial. E são poucos os articuladores do entretenimento que podem dizer que vivenciaram esse movimento. E eu posso dizer que vivenciei e sigo vivenciando”.

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O Bekoo é a maior festa preta periférica protagonizada por mulheres do eixo Sudeste, essa websérie abre novos caminhos

Priscila Gama
CEO do Instituto das Pretas
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    Recebemos até hoje muito mais apoio, fortalecimento e feedbacks de como o evento sempre foi incrível e tem mudado a vida das pessoas, do que comentários negativos. E, acredito que, para qualquer movimento artístico cultural, as críticas elas são de fato importantes para a construção de seus serviços e produtos. Um ponto importante sobre o Bekoo Das Pretas é que fazemos essa festa para nós. Desde o início, o foco foi em nós, mulheres negras e periféricas. Foco em nossa diversidade, pluralidade, intersecções e, principalmente, em construir um espaço nosso, o que não existia na cidade. Então, até hoje existe muito ‘achismo’ em torno do movimento, mas a verdade é que não existe outro evento, movimento ou experiência igual ao Bekoo Das Pretas, e seguimos nessa construção. Enquanto continuarmos focadas nessa construção coletiva de representatividade, pertencimento, orgulho e conexões entre pessoas, entre nós pretos e pretas, e em nosso território, as críticas servirão como dados, pois desistir nunca nos passou pela cabeça.

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    Estamos há um ano em pandemia e o Bekoo Das Pretas não foi engavetado, por isso estou muito orgulhosa do que construímos. Não foi por sorte, mas sim por muito trabalho e dedicação. Quando entendemos o contexto em que estávamos, nos preparamos para isso, estudamos, investimos dinheiro e fizemos a coisa acontecer de forma orgânica. Entendemos o que faltava, por meio de nós mesmas, para desenvolvermos mais esse processo de inovação. Continuamos tendo como concorrentes grandes festas e produtoras milionárias da cidade. Já avançamos muito nos acessos desde a primeira edição em 2016. Já são cinco anos de evento e há muita coisa ainda para acontecer. Pensamos em novos processos, encaramos a transformação digital de uma forma muito leve e tudo tem dado muito certo. Para mim, é uma honra ter iniciado uma festa que virou um movimento, um sentimento que vai para as pessoas, independente do presencial. E são poucos os articuladores do entretenimento que podem dizer que vivenciaram esse movimento. E eu posso dizer que vivenciei e sigo vivenciando.

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    Em 2020, fizemos cinco anos de Bekoo. A ideia era fazermos uma edição do festival com foco na formação de novos produtores de eventos, isso porque o Bekoo Das Pretas, para além de um evento, é também um movimento de transformação social na vida das pessoas. Temos um corpo de profissionais pretos e periféricos que formamos no próprio movimento. Por isso, a ideia é ampliarmos o acesso a determinadas linguagens, que geralmente se restringem a pessoas brancas. Já estávamos com esse diálogo com a Budweiser, mas a pandemia nos impossibilitou esse planejamento. Foi quando passamos a repensar de que forma essas histórias poderiam ser contadas - não só a minha quanto idealizadora, CEO e Diretora Criativa, mas também da segurança, da maquiadora, das DJs - e, a partir dessas perspectivas, compreendermos o que nos uniu para podermos trazer em evidência o potencial de transformação de um movimento artístico e cultural, e principalmente quando se é dada a voz, e a vez.

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A CEO do Das Pretas, Priscila Gama
A CEO do Das Pretas, Priscila Gama. (Divulgação)

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    Eu me preparei e me planejei para que tudo o que vem acontecendo acontecesse. É comum as pessoas pensarem que quando iniciamos um trabalho, seja ele social ou não, estamos “atirando no escuro”, porém não foi nosso caso. Mulheres negras são profissionais, potentes e capazes, o que geralmente nos falta é somente o acesso e o dinheiro. Por isso, seria leviano da minha parte, e em respeito à minha própria história e com todas as mulheres que estão ao meu redor, se eu falasse que eu não imaginava, pois eu imaginava, sonhava e por isso me preparei para esse momento. Também sigo me preparando para outros momentos dos quais ainda sonho viver. Muito embora isso possa parecer modéstia, se trata apenas do autorreconhecimento e celebração da minha trajetória e de todas as pessoas que caminham do meu lado, sempre lembrando da felicidade e da honra de se representar pessoas, principalmente representar as minhas iguais. Isso é uma celebração e alegria sem tamanho.

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    Sem sombra de dúvida! Não apenas incentivar, mas também mostrar os caminhos, uma vez que representar não é apenas se ver, mas também saber que é possível. Porém, apenas saber que é possível é insuficiente, é necessário saber como faz. Para saber como faz, é necessário ver pessoas que fazem, poder ter acesso ao Linkedin da pessoa, ver o que ela estudou, o histórico profissional, e assim ter de fato referências para se pedir ajuda, consultorias ou mentorias. A websérie é sobre isso também, mas principalmente sobre registrar a importância e a potência de performances profissionais de protagonismo feminino, preto e periférico, dentro da arte, da cultura e do entretenimento no Brasil, espaço que é majoritariamente ocupado por homens brancos. Só de falar sobre isso eu já penso novamente sobre o quanto nosso trabalho é uma potência gigante. Eu quando era criança eu sonhava estar onde eu estava, mas eu não sabia que era possível mesmo, era apenas uma aspiração, por não saber nem como fazer. Hoje tenho quase 40 anos e a minha alegria é poder encurtar esse processo para muitas outras mulheres negras que poderão ver e realizar muito antes do que eu. Esse é o legado que eu quero deixar.

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    São sequelas do racismo estrutural e da desigualdade social. E não importa qual o nível de acesso que você está performando, pois ora falta dinheiro para investir, ora falta para pagar um curso, sempre falta dinheiro para isso ou aquilo, mas para além disso há ainda os processos do machismo e deslegitimação por além de pretas, sermos mulheres ocupando espaços protagonizados por homens brancos. Então o racismo, o machismo ou a misoginia, eles sempre estiveram, e seguem presentes, na minha trajetória. Mas a chave virou pra mim quando eu entendi que o racismo, assim como as demais violências, não precisam ser um problema que parem a mim, a partir do entendimento de que são violências fruto de um problema do outro. Não posso acreditar que eu não posso, mereço ou não consigo, e assim não deixamos apagar nossa chama e nossa potência.

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    É uma capacitação, uma vez que estamos ensinando os caminhos, mostrando como fizemos, com quem nos conectamos, e tem que ser assim. Como vamos passar a mensagem? Ninguém nos ensina, e até hoje é assim. Aprendemos nos preparando, observando, respirando fundo e indo atrás do conhecimento e das pessoas certas. E, para mim, tudo é sobre não estar só, pois eu não quero ser a única preta nos espaços de poder. Eu só vou deixar de ser a única preta se começarmos a passar a visão para as demais pretas. É sobre isso!

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