Um ano depois, Brumadinho permanece o símbolo do descaso

Nesta semana, o Ministério Público de Minas Gerais denunciou 16 pessoas sob acusação de homicídio doloso duplamente qualificado (quando há intenção de cometer crime)

Publicado em 24/01/2020 às 04h00
Atualizado em 24/01/2020 às 04h01
Bombeiros fazem buscas no rio Paraopeba após tragédia da Vale em Brumadinho (MG). Crédito: O Tempo
Bombeiros fazem buscas no rio Paraopeba após tragédia da Vale em Brumadinho (MG). Crédito: O Tempo

Um ano depois, as brumas de Brumadinho estão longe de se dissiparem da paisagem nacional, seja pela atrocidade humana marcada pelas 270 vidas perdidas (11 ainda desaparecidas) naquele 25 de janeiro, seja pelo impacto ambiental e social do mar de lama.

Mesmo que não tenha sido tão devastador para o ecossistema quanto o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em novembro de 2015, o episódio demonstrou que a força do descaso ainda é predominante nas relações entre o poder público e o setor econômico hegemônico. A Vale, como coproprietária da Samarco, conseguiu falhar duas vezes. O Estado, como agente fiscalizador, fez conveniente vista grossa.

Gerenciar uma barragem não é uma atividade corriqueira, pelo seu alto grau de complexidade e risco. A supervisão e a operação dessas estruturas não admitem falhas humanas ou técnicas. A irresponsabilidade empresarial e a omissão estatal andaram juntas, de mãos dadas.

É inconcebível, por exemplo, que a área administrativa da Vale estivesse instalada na rota do tsunami de rejeitos, caso um acidente ocorresse. É algo vai de encontro a normas básicas de segurança do trabalho. Mais do que isso, contrariam o próprio bom senso.

Em meio ao drama social de Brumadinho, há os impactos econômicos que atingem também o Espírito Santo. A redução na produção de minério, por conta da paralisação de minas por questões de segurança, teve efeito direto no volume de exportações no Estado em 2019, uma queda de 28,22% em relação a 2018. Isso em um Estado que já não contava com a Samarco, fora de operação desde 2015. São reveses que, por mais que façam mal à economia, são consequência da falta de responsabilidade gerencial.

Nesta semana, o Ministério Público de Minas Gerais denunciou 16 pessoas sob acusação de homicídio doloso duplamente qualificado (quando há intenção de cometer crime), entre eles o ex-diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman.

Pela demora da formalização da denúncia, o processo tem tudo para ser moroso, sendo que ainda há outro inquérito em curso, sob competência federal. Brumadinho ainda será por muito tempo uma sombra para o país.

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