Integração de Vitória ao Transcol não pode ser acúmulo de problemas

Mudança deve surtir como uma união de esforços para melhorar a mobilidade urbana, não para compartilhar os contratempos que se acumulam ao longo dos anos

Publicado em 29/12/2020 às 05h00
Ônibus municipal de Vitória
Ônibus das linhas de Vitória estarão integrados ao Transcol em março. Crédito: Arquivo A Gazeta/ Patrícia Scalzer

 A aguardada integração das linhas de ônibus de Vitória  ao Sistema Transcol já tem data para acontecer, em 7 de março de 2021. O que significa que, em pouco mais de dois meses, um passo importante será dado no tão adiado compromisso de modernizar o transporte público na Região Metropolitana da Grande Vitória.

Mais do que permitir que o usuário circule por maiores distâncias desembolsando apenas uma passagem, algo que está na própria essência do Projeto Transcol, iniciado em 1989, a integração também precisa ter o propósito de racionalizar a oferta de linhas, reduzindo a sobreposição em determinadas vias e alimentando regiões menos guarnecidas. O mínimo que se espera é mais eficiência e mais conforto para quem depende diariamente do transporte público.

O sistema troncal implementado com a criação do Transcol foi considerado de vanguarda, ao substituir o sistema radial no qual todas as linhas obrigatoriamente seguiam para o Centro de Vitória. As críticas que se acumulam desde então ao Transcol dizem respeito mais à infraestrutura e à organização (terminais degradados, atrasos constantes, superlotação e falta de segurança) do que à forma de funcionamento desse sistema, conectado pelos terminais e suas linhas alimentadoras. 

No transporte coletivo de Vitória, as reclamações também são persistentes. Viagens que atrasam ou simplesmente não acontecem, sem explicação; frotas reduzidas; pontos de ônibus inadequados, que não protegem nem da chuva nem do sol; coletivos em estado de conservação lastimável, superlotação em horários de pico e insegurança.

É nesse ponto que as autoridades municipais e estaduais devem estar atentas, para evitar a convergência dos problemas desses dois universos.  A integração deve surtir como uma união de esforços para melhorar a mobilidade urbana, não para compartilhar os contratempos que se acumulam ao longo dos anos, sem soluções concretas. 

Como a Capital não possui terminais desde a desativação do Dom Bosco, locais considerados de grande circulação de pessoas, por onde passam pelo menos uma linha de Vitória e há grande tráfego de linhas troncais (Transcol),  serão transformados em pontos de integração. Oficialmente, até agora estão listados como terminais virtuais Shopping Vitória; Reta da Penha (em frente ao Boulevard da Praia); Portal do Príncipe (Rodoviária); Avenida Serafim Derenzi, em São Pedro; antigo terminal aquaviário do Dom Bosco; e praça de Eucalipto, em Maruípe. Assim que a integração for colocada em prática, será necessário dimensionar a demanda e, se preciso, fazer ajustes para garantir que o usuário não tenha mais prejuízos do que benefícios com a mudança.

A novidade, esperada há tantos anos, vai ocorrer em um momento difícil, ainda sob os efeitos da pandemia. A redução no número de passageiros de março a setembro fez com que as empresas do setor de transporte público tivessem prejuízos de mais de R$ 130 milhões no período. Foi justamente a crise sanitária que fez o governo do Estado mudar o cronograma: anteriormente, a previsão era de que a integração ocorresse no primeiro semestre de 2020.

A expectativa é que a integração seja benéfica também do ponto de vista econômico, com uma possível desoneração do sistema Transcol com o ingresso de mais usuários. Mas é preciso ter em mente que, se não houver melhoria na qualidade do serviço, isso não ocorrerá nem nos melhores cenários pós-pandêmicos. A integração, se trouxer mais transtornos do que conforto a quem pode escolher entre os ônibus e outros modais, não conseguirá mudar a sina do transporte público, com cada vez mais déficit de passageiros e, ironicamente, sempre apinhado de gente.

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