Publicado em 14 de outubro de 2020 às 13:44
A crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus afetou diversos setores, causando quedas de receita, demissões e até a falência de muitas empresas. Essa crise também chegou ao transporte público metropolitano do Espírito Santo, o Transcol. Segundo as empresas, a redução no número de passageiros fez com que as concessionárias do serviço perdessem mais de R$ 130 milhões desde março.>
Como previsto em contrato, o governo do Estado, responsável por manter o equilíbrio econômico-financeiro do serviço, enviou "socorro" sob a forma de 11,2 milhões de litros de diesel, que custaram mais de R$ 40 milhões aos cofres públicos. A informação foi publicada com exclusividade por A Gazeta após análise das compras emergenciais estaduais.>
Segundo o sindicato que representa as 11 empresas concessionárias, o GVBus, a ajuda evitou uma "demissão em massa" dos trabalhadores do setor. >
Mas como o sistema Transcol chegou a esse ponto? Por que o Estado teve que intervir? Afinal, quanto custa (para passageiros e poder público) manter os ônibus circulando? Entenda abaixo:>
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Tem cada vez menos pessoas usando o transporte público e essa redução vem acontecendo em todo o país desde antes da pandemia, segundo a Associação das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
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No entanto, o coronavírus - e as muitas medidas restritivas que vieram com ele - fez despencar a quantidade de pessoas que utilizam o transporte público. Segundo dados das empresas disponibilizados pela Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb), o número médio de passageiros por dia caiu de 429 mil em janeiro para 176 mil em maio. Uma redução de 58%. >
Também houve redução na frota, mas ela foi menor que a queda da demanda. Mesmo no período mais crítico da pandemia, o governo exigiu que pelo menos 90% da frota continuasse circulando. No fim do mês passado, com a volta às aulas, o governo determinou que o sistema rode com 100% da capacidade.
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Com menos gente circulando, as concessionárias arrecadaram menos com passagens de ônibus. Por esse mesmo motivo, a receita com o subsídio do governo também caiu. >
Atualmente, o governo do Estado "paga" parte da tarifa do Transcol sob a forma de subsídio. Cada vez que a empresa recebe R$ 3,90 de um passageiro, o governo completa até inteirar o valor do custo de transporte daquela pessoa, que é próximo de R$ 5.>
Dessa forma, a empresa só recebe esse complemento proporcional ao número de passageiros que transporta. Em 2019, as duas concessionárias receberam, juntas, em média R$ 13,3 milhões por mês em subsídios. Este valor caiu para perto de R$ 6 milhões mensais entre abril e junho deste ano.
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Segundo as empresas, essa combinação fez com que os custos de operação do sistema superassem a receita em mais de R$ 130 milhões. >
GVBus
Explicação em nota enviada ao jornalA entidade que representa as empresas afirmou ainda que só não houve colapso do sistema e demissões em massa porque o governo estadual forneceu combustível, o que, segundo elas, "atenuou a situação". >
O socorro do governo veio de duas formas. A primeira foi a compra de R$ 40 milhões em combustível, valor calculado para suprir a demanda dos coletivos até novembro. O contrato pode ser prorrogado por mais três meses. >
Segundo a justificativa que acompanha os dois contratos de aquisição de diesel junto à BR Distribuidora, o combustível equivale a 25% dos custos de operação do sistema Transcol. >
A outra "ajuda" foi obrigar, por meio de portaria, as empresas a suspenderem as atividades dos cobradores dentro dos coletivos. A justificativa do governo é que a manipulação de dinheiro em espécie seria uma maneira de transmitir o coronavírus. >
Sem dinheiro circulando nos ônibus não havia mais necessidade da atuação dos cobradores, que foram incluídos no Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda do Ministério da Economia (conhecido como BEm). >
Com isso, eles saíram da folha de pagamento das companhias e passaram a receber por meio do governo federal. O afastamento ocorreu em maio e vem sendo prorrogado desde então. O prazo termina em 17 de novembro. >
Segundo apuração da reportagem, os cobradores correspondem a 18% da folha de pagamento das empresas de transporte coletivo. >
Segundo especialistas, por ser uma atividade essencial e de responsabilidade do poder público, cabe ao ente contratante, seja Estado ou município, garantir o equilíbrio do contrato.
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Isso significa que as contas são ajustadas anualmente para se adequarem à mudança de preços de combustível, de peças de reposição, reajuste dos salários dos trabalhadores, etc. É nessa mesma reunião que se define o valor da tarifa paga pelo usuário e do subsídio pago pelo governo, que devem cobrir os custos.
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Esse mecanismo determina também que, caso a demanda seja muito menor do que a acordada, cabe ao Estado fazer a compensação. Foi o que aconteceu na crise do coronavírus. >
Vale ressaltar que, embora as empresas sejam concessionárias do serviço, ele é controlado pelo poder público. É o Estado que determina quantos ônibus precisam circular em cada linha, que bairros eles vão atender, até que horas vão funcionar, etc.
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Especialistas são unânimes em afirmar que, até que haja uma vacina contra o coronavírus, não há perspectiva de retorno dos passageiros para os ônibus no patamar anterior à pandemia. >
Eles acreditam ainda que, mesmo que o coronavírus não seja mais uma ameaça, é possível que a demanda nunca se recupere. Isso porque, até lá, muitas pessoas podem se habituar a outros meios de locomoção, sem contar os trabalhadores que devem permanecer em home office e que precisarão de muito menos deslocamentos. >
Além disso, na Grande Vitória, há o investimento em outros modais complementares como as ciclovias e o aquaviário. Com isso, caso o sistema público de transporte não seja adequado a essa nova realidade, ele seguirá dando prejuízo.
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Segundo dados da Ceturb referentes a 2019, o sistema Transcol arrecadou naquele ano R$ 553,4 milhões em passagens, seja via Vale Transporte, seja em pagamentos avulsos. No mesmo ano, o governo pagou R$ 160,1 milhões em subsídios. >
As empresas declararam que os custos totais - que incluem principalmente combustível, manutenção dos veículos e funcionários - foram de R$ 732 milhões. O valor é cerca de R$ 18 milhões a menos do que o arrecadado. >
Ao todo, os 1.426 ônibus da frota operante rodaram mais de 108 milhões de quilômetros em 2019. É o suficiente para ir da Terra à lua e voltar 141 vezes. >
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