Novo atraso na BR 101 expõe a importância do zelo contratual nas concessões

Desenvolvimento da infraestrutura no país passa necessariamente pelo investimento privado, mas exige um ambiente de negócios mais salutar, no qual os compromissos firmados sejam efetivamente cumpridos

Publicado em 22/12/2020 às 05h00
Obra de duplicação da BR 101 entre Viana e Guarapar
Obra de duplicação da BR 101 entre Viana e Guarapari. Crédito: Eco101/Divulgação

Sobram justificativas oficiais para o mais recente atropelo nas obras da BR 101, e o que continua faltando é a paciência do usuário, que se depara com as sete praças de pedágio na extensão da rodovia em território capixaba e vê os avanços estruturais engatinharem desde o início da concessão, em 2014.

duplicação do trecho de 30 quilômetros entre Viana e Guarapari sofreu mais um atraso: a entrega da obra, prevista para maio passado e posteriormente adiada para este mês, ficou para o primeiro semestre de 2021. Sem data marcada.

Interrupções pontuais seriam aceitáveis não fosse a concessão marcada por tantos percalços. O singular ano de 2020, por si só, foi capaz de sozinho engolir projetos de interesse público, mas a pandemia está longe de ser o maior dos contratempos a atravessarem a rodovia.

Se em junho passado, provocada pelo Ministério Público Federal (MPF), a Eco101 afirmou que precisou "readequar sua forma de atuação em razão da pandemia", o que provocou a redução das atividades, a justificativa atual para o adiamento da entrega dos seis quilômetros restantes do trecho entre Viana e Guarapari é técnica. Com a detecção de instabilidades geológicas em 25 pontos da região, a concessionária informou que novas intervenções de engenharia serão necessárias para a estabilização do solo. 

Impressiona que o problema tenha sido percebido mais de três anos após o trecho ser incluído entre outros quatro que teriam as obras retomadas, após o período turbulento em que a concessionária chegou a desistir da duplicação, em 2017. De lá para cá, foram concluídos o Contorno de Iconha e também os outros três trechos: João Neiva, Ibiraçu e Anchieta. Enquanto isso, as obras entre Viana e Guarapari se arrastam.

Uma falha geológica tão relevante, capaz de desestabilizar a estrutura da reforma, já deveria estar no radar das equipes de engenharia há mais tempo, o que expõe uma chaga recorrente nas grandes obras nacionais: o descaso com projetos executivos  minuciosos, capazes de antever as adversidades que podem inviabilizar os trabalhos.

E o poder público também acaba sendo uma pedra no sapato, com trâmites burocráticos que emperram o andamento das obras. As próprias licenças ambientais para o trecho Sul, de Viana a Presidente Kennedy, demoraram mais de três anos para serem assinadas. O contrato previa a liberação em 2015, o que só foi ocorrer em 2018.

Mas o maior impasse da BR 101 permanece sendo o trecho Norte, por conta dos  cerca de 23 quilômetros da BR 101 que cortam a Reserva Biológica de Sooretama (Rebio). A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou em setembro que esperava resolver a questão até o fim deste ano. Sem a licença ambiental, não há obra, o que impõe a urgência.

A BR 101 é vital para o desenvolvimento do Estado. Dos atrasos no leilão, passando por brigas nas Justiça entre os concorrentes até os impasses sobre os valores do pedágio, a duplicação da rodovia ganhou contornos rocambolescos sobretudo pelas falhas na elaboração de contratos.

O desenvolvimento da infraestrutura no país passa necessariamente pelo investimento privado, mas exige um ambiente de negócios mais salutar, no qual os compromissos firmados sejam efetivamente cumpridos, com menos burocracia e insegurança jurídica. 

E, para que o investimento privado modernize o país, o Estado brasileiro tem o fundamental papel de limpar o caminho, com uma legislação que esteja aberta às oportunidades, sem fazer vista grossa para as contrapartidas exigidas das concessionárias. O programa de privatizações e concessões do governo federal, que tanto tarda a sair do papel, não pode se descuidar desses aspectos, até mesmo para ser atraente aos olhos de quem investe.  

A Gazeta integra o

Saiba mais
BR 101 Guarapari Viana viana Eco101 ANTT

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.