Dificuldade para marcar consulta no Himaba é sintoma de sistema adoecido

Há algo errado quando uma mãe precisa dormir com seus filhos no chão de um hospital para conseguir uma consulta. Há um desrespeito sem tamanho quando um familiar se desloca para agendar uma consulta e só consegue para o semestre seguinte

Publicado em 09/02/2023 às 00h45
Himaba
Mãe e filha dormem no chão na madrugada enquanto aguardam atendimento no Himaba, em Vila Velha. Crédito: leitor A Gazeta

Foi preciso que pais e mães de crianças e adolescentes com necessidades especiais, sobretudo autismo e déficit de atenção, levantassem a voz, com merecida indignação, sobre o descaso na marcação de consultas neurológicas no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha, para que houvesse alguma reação do poder público.

A reportagem de Diony Silva, da TV Gazeta, conseguiu expor a revolta de familiares que não só são obrigados a se deslocar presencialmente ao hospital para o agendamento (em pleno século 21!), como não têm garantia alguma de terem sucesso. E ainda são submetidos a situações degradantes, como dormir no chão na esperança de conseguirem atendimento.

Janaína Lacerda Silveira

Dona de casa

"Tive que trazê-los porque não tinha ninguém para ficar com meus filhos. Tive que colocar todos para dormir no chão, onde os cachorros dormem. Eu só consegui agendar para o dia 2 de junho. Isso é falta de respeito"

Andreia da Silva

Dona de casa

"Isso é o cúmulo do absurdo, ninguém aguenta mais, nós somos pessoas. A gente é bicho? A gente é lixo? Fazemos tudo corretamente e somos tratados como verme. A gente não aguenta mais"

Roney Klipel

Técnico de informática

"(O atendimento) estava agendado, e o hospital simplesmente desmarcou, falando que ia reagendar. Estou esperando há 7 meses. Tenho que dormir na fila. É sempre essa dificuldade. Meu filho tem autismo. Só quero dignidade, que as crianças sejam atendidas"

Elizângela Pereira

Dona de casa

"Estou tentando há 5 meses. Venho e não consigo. Por telefone, não adianta, é impossível. Chego de madrugada e não consigo ficha para agendar consulta"

O grito dos familiares, amplificado pelo ES 1, teve eco. O secretário de Estado da Saúde, Miguel Paulo Duarte, garantiu o aumento no número de consultas.   "O que nós estamos fazendo de imediato é aumentar o número de consultas no Himaba de 300 para 900. Isso deve ocorrer dentro de um prazo máximo de 60 dias. E nós estamos fazendo também uma licitação no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, buscando uma oferta de mais 600 consultas por mês. Então, passaríamos das atuais 300 consultas/mês para 1500 consultas/mês".

Ora, quem recorre ao serviço público de saúde no geral está previamente desamparado. Essas famílias com crianças que têm necessidade de acompanhamento neurológico contínuo são ainda mais dependentes desse atendimento, e a falta de dignidade retratada nesta quarta-feira (8) é mais um sintoma do adoecimento do sistema. O aumento da demanda, provocado pelo crescimento no número de diagnósticos, precisa pressionar a elaboração de políticas públicas de saúde que atendam esse público.

Há algo muito errado quando uma mãe precisa dormir com seus filhos no chão de um hospital para conseguir uma consulta. Há um desrespeito sem tamanho quando um familiar se desloca, muitas vezes de municípios distantes, para agendar uma consulta e só consegue uma data no semestre seguinte. Há um descaso desmedido quando crianças precisam de terapias específicas para terem uma vida saudável e simplesmente não têm acesso ao atendimento. A vulnerabilidade dessas famílias, que poderia ser amenizada com o encaminhamento médico, é amplificada numa disputa por vagas.

É importante que a Secretaria de Estado da Saúde tenha se prontificado a resolver o problema, mas deve provar que há o entendimento de que ele não é pontual, é sistêmico. Como esses atendimentos serão ampliados? Com mais médicos? Atualmente há três profissionais especializados no Himaba. Curativos são importantes em uma emergência, o que essas famílias precisam é da garantia de que seus filhos terão acesso às terapias de que precisam. Sem se submeterem às humilhações que andam vivendo no Himaba.

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