> >
Tarcísio ignora Bolsonaro e fala em cooperar com Itamaraty

Tarcísio ignora Bolsonaro e fala em cooperar com Itamaraty

Em encontro de menor peso com setores empresariais, governador de São Paulo afirmou que irá procurar estados americanos

Publicado em 15 de julho de 2025 às 15:37

SÃO PAULO - Em um encontro marcado para rivalizar com evento semelhante em Brasília, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) disse a empresários defender a cooperação com a diplomacia do governo Lula (PT) e que vai procurar estados americanos para tentar ajudar a solucionar o impasse do tarifaço de Donald Trump.

O motivo declarado pelo presidente americano para aplicar a partir de agosto 50% de sobretaxa a importações brasileiras – o julgamento do seu aliado Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista – foi ignorado por Tarcísio, um técnico que chegou à política vindo do Ministério da Infraestrutura do ex-presidente.

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
Tarcísio de Freitas defendeu uma saída coordenada com o Itamaraty para a crise Crédito: PABLO JACOB/Governo de SP

A ausência do padrinho nas falas chamou a atenção de presentes, segundo relatos obtidos pela Folha de S.Paulo, e deverá acentuar a crise entre o governador e a família Bolsonaro.

Em sua fala inicial na reunião de cerca de uma hora e meia na manhã desta terça (15) no Palácio dos Bandeirantes, o governador evitou falar diretamente do presidente Lula, que até a crise era visto como seu potencial adversário na disputa pelo Planalto em 2026.

Defendeu uma saída coordenada com o Itamaraty para a crise, e ressaltou que representa os interesses de São Paulo, buscando voltar atrás de sua postura politizada na crise – começou atacando Lula e defendendo Bolsonaro, agora tenta corrigir o rumo, o que paradoxalmente o colocou em atrito com o ex-mandatário.

Ele também pediu uma "relação paradiplomática" com Washington, ou seja, quer negociar pontualmente com estados americanos, além de procurar senadores do país de Trump.

O evento de Tarcísio ocorreu ao mesmo tempo de uma de duas reuniões marcadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que é o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, também com setores empresariais, em Brasília. Em São Paulo compareceram, de forma geral, empresários e executivos de menor peso – vários diretores e vice-presidentes estavam entre os 18 presentes.

A Embraer, fabricante de aviões que é uma das principais vítimas potenciais do tarifaço, enviou um vice-presidente e uma diretora, enquanto seu CEO, Francisco Gomes da Silva, foi a Brasília.

Uma exceção entre eles era Rubens Ometto, presidente do conselho do gigante sucroalcooleiro Cosan. Em sua fala, o empresário destoou dos colegas, que procuravam basicamente saber como Tarcísio poderia ajudar a proteger suas exportações.

Ometto, por sua vez, estava mais interessado em discutir mecanismos para a proteger o mercado brasileiro do etanol americano. Entre as empresas presentes havia a Usiminas (aço), a Cutrale (suco de laranja) e produtores de café.

A reunião também teve a participação do encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, além do cônsul-geral interino em São Paulo, Benjamin Wohlauer. Como os EUA estão sem embaixador no Brasil, Escobar é o principal nome da embaixada no Brasil.

Em sua fala, Escobar repetiu o discurso trumpista de que a guerra tarifária é só uma reação às políticas da China, na sua origem. Disse também que não vê uma crise direcionada ao governo Lula, apesar da clara motivação política do presidente americano, e que empresas de seu país gostariam de ter mais facilidade em fazer negócios no Brasil.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Jorge Lima, disse que, como o núcleo de Trump "é muito restrito", a única saída possível seria pressionar os parceiros americanos, para demonstrar que o cenário traria prejuízo para todos. Lima disse que essa estratégia tem sido usada por outros países e apresentado resultado.

São Paulo exporta cerca de 30% de tudo o que o Brasil vende aos EUA, puxado em 2024 por US$ 2,2 bilhões em aviões da Embraer comprados pelos americanos. O segundo maior mercado foi o setor petroleiro, inclusive com a venda de combustíveis, seguido por suco de laranja e carne bovina.

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais