Publicado em 5 de outubro de 2021 às 13:59
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) entrou com uma representação junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) contra a medida provisória da crise hídrica discutida pela Câmara dos Deputados, sugerindo que há nelas irregularidades de políticas públicas. >
A MP tem sido usada por parlamentares para tentar prorrogar benefícios a setores de energia elétrica, como subsídios para usinas a carvão. >
O relator do texto, deputado Adolfo Viana (PSDB-BA), incluiu em seu parecer uma série de jabutis que, segundo entidades e especialistas, devem aumentar o custo da energia no país. >
Em sua representação ao TCU, Renan Calheiros cita reportagem da Folha que aponta estimativas de que o custo repassado para conta de luz pode chegar a R$ 46,5 bilhões, segundo a Abrace (Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres). >
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"A incorporação desses 'jabutis' na referida medida provisória, além da ilegalidade e injustiça tarifária, é matéria a ser obrigatoriamente examinada pelo TCU, para que a política pública dali resultante atenda aos princípios de eficiência e da economicidade", afirma o senador. >
O emedebista ainda solicita que a corte determine a remessa da previsão de custos e impactos fiscais da medida provisória. >
"Não há qualquer menção na medida provisória e na sua exposição de motivos acerca da previsão ou planejamento dos custos operacionais que serão passíveis de ressarcimento pelos consumidores, o que contraria inteiramente o princípio do planejamento público", afirma Renan Calheiros na representação. >
O ponto principal da MP é a criação da CREG (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética), um grupo emergencial de monitoramento do sistema elétrico liderado pelo Ministério de Minas e Energia. >
O objetivo do órgão é garantir uma resposta mais rápida eficaz do governo no enfrentamento da crise hídrica. >
O comitê recebeu poderes para decidir sobre o nível de vazão de água nos reservatórios das hidrelétricas, um tipo de medida que antes dependia do aval de agências como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento). >
Entidades do setor criticaram os trechos do relatório de Viana que tratam de benefícios e subsídios a segmentos específicos. Essas inclusões feitas pelo deputado não têm relação com o grupo emergencial de monitoramento do sistema elétrico. >
Viana acrescentou no texto, por exemplo, a ampliação de subsídios para a produção de energia a partir do carvão mineral. Pela nova redação, o prazo para uso de recursos da CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) na promoção desse combustível passou de 2027 para 2035. >
Ele colocou como condicionante que o benefício valerá apenas para as termelétricas que, a partir de 2028, passem a substituir o carvão por biomassa. >
Em seu relatório, Viana também incluiu um dispositivo que, na prática, dá mais poderes ao presidente da República.>
A mudança permite que, em situações de escassez hídrica, o chefe do Executivo instaure a CREG a qualquer momento por meio de decreto e defina sua duração. >
O relator também estendeu o prazo para que os geradores decidam pela renovação do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica). >
Ao colocar diferentes "jabutis" em seu relatório, Viana tenta repetir a estratégia adotada pelo Congresso durante a votação da MP da desestatização da Eletrobras. Na ocasião, parlamentares conseguiram incluir emendas que não estavam na versão original do projeto. >
Segundo associações do setor elétrico, as mudanças feitas na MP da Eletrobras irão encarecer a geração de energia nos próximos anos. O governo refuta a tese e diz que, apesar das alterações do Parlamento, haverá corte no custo da energia. >
Pelas estimativas de Abrace os custos adicionais serão bilionários.>
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