Publicado em 3 de outubro de 2020 às 18:10
A briga entre os ministros Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) coroou uma semana de desgaste político para o posto ipiranga, na avaliação de pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro. >
A ordem no Palácio do Planalto, agora, é pôr panos quentes na briga para evitar ainda mais atritos à luz do sol.>
Avisado de que Marinho o havia criticado para investidores, Guedes disparou ofensas públicas contra o colega. Em entrevista na noite desta sexta (4), o titular da Economia chamou Marinho de "despreparado, desleal e fura-teto".>
Após o episódio, segundo líderes partidários próximos do Planalto, o próprio Jair Bolsonaro entrou em campo e pediu que o ministro do Desenvolvimento se acalmasse e não respondesse para evitar ainda mais a crise, que mexeu com o mercado financeiro.>
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Na avaliação de líderes no Congresso e ministros, ambos os auxiliares do presidente estão errados na disputa. O estranhamento entre os dois vem desde abril, com troca de farpas em reuniões com outros ministros, mas ainda não havia ocorrido uma briga em público.>
Para aliados de Bolsonaro no Parlamento e no governo ouvidos pela Folha de S.Paulo, Marinho errou ao criticar o colega para investidores, e Guedes, por ter dobrado a aposta ao rebatê-lo publicamente.>
O episódio em si foi descrito como "surreal" por dirigentes partidários. Mas parlamentares avaliaram que faltou bom senso e equilíbrio ao ministro da Economia, que colocou mais lenha na fogueira.>
Ministros também dizem que o posto ipiranga provocou primeiro Marinho, ao lançar diretas e indiretas ao colega e dar apelidos nos bastidores, como fura-teto.>
A briga ocorreu após uma semana em que Guedes já havia se desgastado com parlamentares por causa de discordâncias a respeito do Renda Cidadã. O ministro criticou a ideia de usar precatórios para bancar o programa. Deputados e senadores, porém, dizem que a proposta partiu do próprio titular da Economia.>
Por isso, parlamentares dizem que ele cometeu no mínimo uma "grosseria" com Márcio Bittar (MDB-AC), relator da iniciativa.>
Nesta sexta-feira (2), Guedes assumiu a culpa pela confusão e disse que gostaria de eximir Bittar e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de qualquer responsabilidade.>
O ministro afirmou que a ideia de usar os precatórios foi "um vírus que escapou do laboratório da Economia". Ele argumenta que a limitação dos pagamentos estava em estudo, mas apenas como forma de controlar despesas do governo, e não para bancar o novo programa social, que exige uma fonte sólida e permanente de recursos.>
A irritação de Guedes com Marinho já havia se intensificado na última semana, antes da briga pública. Na busca por saídas para o novo programa social do governo, o ministro da Economia disse a interlocutores que Marinho havia sugerido furar o teto de gastos em R$ 70 bilhões.>
Nesse momento, Guedes teria determinado uma força-tarefa para vasculhar o Orçamento em busca de recursos, na tentativa de evitar a burla à regra fiscal. Foi nessa busca, segundo interlocutores, que surgiu a ideia de reavaliar gastos com precatórios.>
O episódio ampliou o desconforto entre os ministros. Em grupos de mensagens no Ministério da Economia, circula uma foto que é tratada como piada por técnicos. Nela, um homem empurra um caminhão, enquanto um segundo rapaz aparece em cima da carroceria do veículo, fingindo que está empurrando. Na montagem, Guedes seria o personagem que empurra o caminhão, enquanto Marinho finge, em uma comparação com as ações para a retomada da economia.>
Em reunião na sexta, segundo relatos, Guedes chamou o ministro do Desenvolvimento de "picareta" e disse que ele está em um "surto populista" na busca por ser candidato ao Senado ou ao governo do Rio Grande do Norte.>
Além desse episódio, o ministro também teve conflito público com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).>
Esses episódios, coroados pelo conflito público com Marinho fazem Guedes perder cada vez espaço no governo, avaliam articuladores políticos e dirigentes partidários.>
Hoje, o ministro do Desenvolvimento é considerado "10 vezes" mais próximo de Bolsonaro do que o ministro da Economia.>
Na área econômica, no entanto, técnicos apostam nas declarações públicas de Bolsonaro em apoio a Guedes para justificar sua força no governo. Na recorrentes crises entre o ministro e a ala política, o presidente tem se pronunciado em defesa do Ministro da Economia, afirmando ter compromisso com o teto de gastos.>
Em conversas com auxiliares, o chefe da Economia tem dito que se formaram duas vertentes no governo: a ala política, que inclui Marinho, que busca manter a popularidade do presidente em alta a qualquer custo, e a equipe econômica, que busca ajustar as contas e, na avaliação da pasta, tem aval do presidente.>
Neste sábado, Bolsonaro convidou Guedes para um almoço no Palácio da Alvorada.>
Líderes partidários, no entanto, acreditam que Guedes pode nem "comer o peru de natal", em uma referência de que ele pode deixar o governo. O ideal, para integrantes da cúpula de partidos de centro, é que o ministro seja substituído pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que tem mais trânsito no Legislativo e manda um sinal positivo para o mercado.>
No governo, porém, não há sinal de saída próxima de Guedes. Bolsonaro ainda seria muito grato ao ministro pelas eleições de 2018 e o trata com lealdade, o que é apontado como o principal fator para a permanência do ministro.>
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