Publicado em 26 de março de 2020 às 11:27
O armazenamento da safra de milho no Centro-Oeste pode ter problemas devido ao isolamento provocado pela pandemia do novo coronavírus no País. A afirmação é da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), que também aponta problemas como dificuldades para embarcar produtos e ausência de assistência no campo.>
Em maio, terá início a colheita da segunda safra de milho, que deve ser forte no estado, mas que não terá onde ser armazenada se as medidas de isolamento persistirem nas próximas semanas, segundo o presidente da associação, Antonio Galvan.>
"É simples, não teremos espaço para armazenar milho caso não retire essa soja que está dentro dos armazéns hoje. E a movimentação de caminhões nas rodovias está muito pequena, tudo atrapalha. Não sei se o total de caminhões nas rodovias chega a 25%", afirmou.>
A avaliação da Aprosoja é a de que, por segurança, seria necessário ter armazenamento equivalente a 120% da produção, mas os armazéns disponíveis cobrem apenas 60% do total.>
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Dois caminhoneiros ouvidos pela reportagem disseram estimar que o fluxo de veículos no trecho entre Cuiabá e Sinop está 70% abaixo do normal."Temos 60 dias para colher o milho. A procura é imensa, há escassez no mundo. Quando dá o ponto de colheita, de umidade, o produtor vai colher, ele tem de colher, não pode segurar", disse.>
Outro problema para o milho é que a safra que foi plantada há pouco mais de um mês depende de trato cultural e, se o produtor precisar de defensivos agrícolas, pode não conseguir devido à situação provocada pelo coronavírus. "Um dente da engrenagem está quebrado, que é o isolamento. Se isso não se resolver, atrapalha tudo.">
No estado, o isolamento tem atrapalhado ainda embarques, assistência técnica e mecânica, além de empresas que têm alegado que atrasarão pagamentos por não conseguirem retirar produtos de armazéns. Houve casos no estado de o município proibir por meio de decreto o transporte de produtos agrícolas para fora da cidade, como o de Canarana, para conter a disseminação do coronavírus.>
O setor reclamou da medida e se reuniu com a prefeitura em busca de reverter a decisão, que poderia interromper o fluxo de mercadorias e operações de tradings que atuam no região. "Isso foi um absurdo. Na prática, o município estava proibido de fazer a colheita", disse.>
Já com a cana-de-açúcar, além de queda na demanda de etanol, o isolamento tem provocado problemas pontuais em usinas no centro-sul do país, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).>
Entre eles estão a dificuldade para efetuar a colheita manual em alguns pontos isolados e atraso na entrega de equipamentos a serem reformados.>
"O primeiro impacto no curto prazo é a demanda de etanol para fins combustíveis. Para abril, alguns cenários de distribuidoras falam em 20% a 30% de queda na demanda", afirmou o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.>
Um cenário de prolongamento do isolamento e baixa demanda poderá gerar problema de caixa nas empresas, segundo ele, pois 70% do valor recebido no ano-safra é desembolsado na própria safra para custear plantio, colheita e reforma de lavouras, entre outros gastos.>
"Elas têm de manter produção, e aí imagine, pois vendendo menos a preço que ainda possa ficar abaixo do custo de produção, elas vão ter de vender mais para continuar produzindo.">
Ao contrário do etanol, porém, no açúcar não houve impacto. "Até houve incremento nas vendas para o mercado interno. Não sei se é reforço das empresas, estoques ou supermercados, mas aumentaram as vendas.">
Nas lavouras, reformas de canaviais, dependentes de mão de obra, e manutenção em usinas podem ser prejudicadas com o isolamento.>
"É um problema pontual ainda, pois, em março de 2019, tínhamos 80 usinas produzindo e agora são 79. Até 15 de abril, deveremos ter 198, ante as 157 do ano passado, a não ser que haja algum problema nos próximos 15 ou 20 dias", disse.>
Segundo Rodrigues, apesar dos problemas as usinas estão operando normalmente e manter a atividade é essencial para garantir o abastecimento de etanol, açúcar e bioeletricidade.>
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