Publicado em 10 de janeiro de 2023 às 11:02
RIO DE JANEIRO, RJ - A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumulou alta de 5,79% nos 12 meses de 2022, informou nesta terça-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).>
Influenciado pelos cortes de impostos sobre os combustíveis, o índice perdeu força em relação a 2021, quando havia subido 10,06%.>
Mesmo com a trégua, os preços seguem em um patamar elevado para o bolso dos brasileiros. Sinal disso é que o IPCA estourou pelo segundo ano consecutivo a meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central).>
A variação também veio acima das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 5,60% em 2022.>
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O centro da meta de inflação era de 3,5% no ano passado, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (5%) ou para baixo (2%).>
Com o resultado acima dessa faixa, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de escrever uma carta explicando o descumprimento da medida de referência.>
Nesta terça, o IBGE ainda informou que o IPCA subiu 0,62% em dezembro, depois da alta de 0,41% em novembro.>
Esse resultado também veio acima das expectativas do mercado. Analistas consultados pela Bloomberg esperavam variação de 0,44% em dezembro.>
Economistas avaliam que a carestia não se esgota em 2022 e também representa um desafio para o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.>
Em um cenário de incertezas fiscais com possíveis gastos da gestão petista, instituições do mercado financeiro aumentaram as estimativas para o IPCA deste ano.>
A alta prevista para o acumulado de 2023 subiu de 5,31% para 5,36%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda (9).>
Se a projeção for confirmada, 2023 marcará o terceiro estouro consecutivo da meta de inflação.>
O centro da medida de referência foi definido em 3,25% para este ano. O intervalo de tolerância, novamente, é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).>
O economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, avalia que o país atravessa um período de "inflação muito pressionada" e diz que a alta dos juros promovida pelo BC ainda não conseguiu controlar totalmente o avanço dos preços.>
A Rio Bravo elevou a previsão de alta do IPCA de 5,2% para 5,4% em 2023. "A preocupação fiscal vai ganhando força. Faz com que as expectativas de inflação se deteriorem", afirma Mercadante, em referência ao receio do mercado de expansão dos gastos públicos no governo Lula.>
De acordo com o economista, a retomada da demanda por serviços, após as restrições na pandemia, é outro fator que desafia a trégua do IPCA neste ano.>
Marcos de Oliveira Julio, 38, precisou adaptar a rotina para lidar com a carestia. O morador da capital paulista reduziu o consumo de carne e substituiu produtos em busca de preços mais em conta no supermercado.>
"A inflação vai acabando com os planos", afirma Julio, que trabalha como editor de vídeos.>
"Eu e minha namorada decidimos morar juntos [em fevereiro de 2022]. Como colocamos tudo na ponta do lápis, iríamos pagar o aluguel e guardar parte do dinheiro para comprar um imóvel próprio. Mas esse dinheiro foi corroído", acrescenta.>
A alta do IPCA em 2022 (5,79%) foi puxada pelo grupo alimentação e bebidas, segundo o IBGE. O segmento subiu 11,64% no ano. Com isso, teve o maior impacto (2,41 pontos percentuais) entre os nove grupos pesquisados.>
Vestuário, por sua vez, registrou a variação mais intensa: 18,02%. Influenciado pela baixa da gasolina, o grupo dos transportes teve a maior queda (-1,29%) e o impacto negativo mais intenso (-0,28 ponto percentual) entre os nove grupos pesquisados.>
A alta de alimentação e bebidas refletiu em grande parte a carestia da alimentação no domicílio (13,23%). Os destaques foram a cebola, que saltou 130,14%, maior variação entre os 377 subitens do IPCA, e o leite longa vida (26,18%), que contribuiu com o maior impacto (0,17 ponto percentual) entre os alimentos para consumo no domicílio.>
O leite subiu de forma mais intensa entre março e julho de 2022, quando a alta acumulada no ano chegou a 77,84%. A partir de agosto, com a proximidade do fim da entressafra, os preços iniciaram uma sequência de quedas até o final do ano, sendo a mais expressiva delas em setembro (-13,71%).>
No caso da cebola, a disparada foi relacionada à redução da área plantada, ao aumento do custo de produção e a questões climáticas. Outros destaques foram a batata-inglesa (51,92%), as frutas (24%) e o pão francês (18,03%).>
Nos transportes, o maior impacto positivo (0,49 ponto percentual) veio do subitem emplacamento e licença (22,59%). A alta do IPVA em 2022 deve-se sobretudo ao aumento no preço dos automóveis em 2021, já que a cobrança é baseada no valor venal dos veículos no final do ano anterior.>
Os preços dos automóveis novos (8,19%) e usados (2,30%) continuaram subindo em 2022, embora em ritmo menor do que em 2021 (16,16% e 15,05%, respectivamente).>
Outra alta em transportes veio das passagens aéreas, que subiram 23,53% e contribuíram com 0,14 ponto percentual no acumulado do ano. Do lado das quedas, destaca-se a gasolina (-25,78%), responsável pelo impacto negativo mais intenso (-1,70 ponto percentual) entre os 377 subitens do IPCA.>
Os preços da gasolina caíram de forma mais expressiva entre julho e setembro, em decorrência de reduções dos preços nas refinarias e da aplicação da lei que limitou a cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre os combustíveis pelos estados.>
Ao longo de 2022, o IPCA acumulado em 12 meses chegou a bater em 12,13% até abril. A perda de fôlego nas divulgações posteriores foi puxada pelos cortes tributários sobre produtos e serviços como combustíveis e energia elétrica.>
Nesse contexto, o índice calculado pelo IBGE registrou três meses consecutivos de deflação (queda), de julho a setembro.>
O corte de tributos sobre os combustíveis veio em meio aos planos de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), que acabaram frustrados pela derrota para Lula nas urnas.>
Enquanto isso, os preços dos alimentos seguiram pressionados no país. Com chuvas intensas e registros de seca, o clima desfavorável reduziu a oferta de mercadorias e impactou os valores nas gôndolas dos supermercados.>
Além da questão climática, a Guerra da Ucrânia também gerou efeitos em 2022. O conflito elevou preços de commodities agrícolas e de insumos usados na produção de alimentos.>
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