Financeiras têm aproveitado a vulnerabilidade orçamentária de idosos para atraí-los para um novo tipo de empréstimo, semelhante ao crédito com desconto em folha de pagamento, porém com juros ainda mais altos.
No falso consignado, as instituições usam a margem do cartão de crédito para liberar dinheiro para esses consumidores.
A manobra tem ocorrido desde quando o governo ampliou o limite de endividamento de 30% para 35% da renda. No entanto, os 5% foram destinados exclusivamente para a amortização de despesas contraídas por meio de cartão.
Para driblar a regra do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), as financeiras forjam um débito no cartão e depositam a mesma quantia na conta-corrente do aposentado. Enquanto no tradicional empréstimo com desconto em folha o segurado paga juros médio de 2%, pelo falso consignado as taxas cobradas ultrapassam 3%.
Segundo o advogado previdenciário Rafael Vasconcelos, muitos idosos têm caído nessa armadilha. É uma dívida quase infinita. As financeiras, além de liberar um cartão já com uma alta dívida, dividem esse valor em várias parcelas.
Vasconcelos ainda revela que isso tem ocorrido quando o aposentado já está com toda a sua margem comprometida com empréstimos. Geralmente, as financeiras procuram esse aposentado para oferecer essa possibilidade. Muitos sem saber das consequências acabam aderindo, tornando-se escravos dos juros altos. Vi um caso de um consumidor que pagava parcela de R$ 50 para amortizar apenas R$ 2.
O advogado ainda conta que algumas financeiras têm feito renovação quase que automática dos empréstimos consignados depois que uma parte da margem é liberada. As empresas procuram o aposentado e dizem que há um recurso disponível para ele. A pessoa, endividada, acaba aceitando receber esse dinheiro.
Corda no pescoço
Com sete empréstimos consignados, um segurado do INSS, que preferiu não se identificar, relata que não consegue sair dessa condição de superendividamento. Ele tem empréstimo consignado desde 2002 quando se aposentou.
Recentemente, foi procurado por uma financeira que o ofereceu um empréstimo de R$ 8 mil. Ele aceitou a operação sem saber que a margem utilizada era do cartão de crédito. Como eu precisava, aceitei logo o dinheiro. Só vi depois que os juros estavam muito altos, afirma o aposentado que dividiu essa dívida em 72 parcelas.
Agora, para reduzir o custo alto dos juros que tem pagado, ele vai tentar portabilidade dos empréstimos para um banco que oferece condições melhores. A dificuldade é conseguir que a financeira libere minha dívida para outro banco. Já tentei várias vezes fazer a migração, mas sempre um empecilho aparece."
Confira as regras do consignado
Prazo
O prazo para pagar o crédito é de 72 meses.
Juros
As taxas máximas são de 2,08% para o empréstimo consignado e 3% para o cartão consignado. O beneficiário deve ficar atento, pois o custo efetivo total da operação não pode ultrapassar a taxa máxima.
Contrato só deve ser feito no banco
Para evitar fraudes, o INSS orienta os aposentados para que só solicitem ou renovem empréstimo consignado em financeiras conveniadas ou bancos, e não por meio de intermediários. O INSS disponibiliza no site www.inss.gov.br a lista de bancos e financeiras conveniados. O INSS proíbe a contratação de empréstimo por telefone.
Valor dos empréstimos
A margem consignável, que é o valor máximo da renda a ser comprometida, não pode ultrapassar 35% do valor da aposentadoria ou pensão recebida pelo beneficiário, sendo 5% exclusivamente para pagar dívidas no cartão.
Cuidado
O aposentado deve aderir ao consignado apenas em situações de extrema necessidade. É importante, nesse caso, evitar ofertas de crédito. Antes de fazer um empréstimo, é fundamental fazer um planejamento financeiro para saber se a dívida, a longo prazo, não vai comprometer as finanças.
Fique atento
Quando está com margem consignada toda comprometida, o aposentado é assediado a contratar empréstimos com desconto na conta-corrente no mesmo dia do depósito do benefício. Os juros desse empréstimo são mais altos.
Pesquise
Antes de contratar o empréstimo, é importante pesquisar as taxas de juros. Algumas financeiras não apresentam ao consumidor o custo total da operação, apenas as parcelas, escondendo que cobram as maiores taxas do mercado.
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