Publicado em 31 de julho de 2025 às 16:42
RIO DE JANEIRO - A taxa de desemprego do Brasil recuou a 5,8% no trimestre encerrado em junho, após marcar 7% nos três meses até março, que servem de base de comparação, segundo dados divulgados nesta quinta (31) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).>
O novo indicador é o menor da série histórica iniciada em 2012. Também é a primeira vez que a taxa fica abaixo de 6%. Até então, o menor nível havia sido de 6,1% até novembro de 2024.>
Os dados integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), cuja série histórica passou por atualização nesta quinta (31).>
O IBGE fez a revisão para incorporar as projeções populacionais mais recentes, publicadas pelo órgão em 2024. Essas estimativas levam em consideração o Censo Demográfico 2022 e outras fontes.>
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A atualização, porém, não provocou mudanças significativas nos resultados da Pnad, segundo o instituto. A taxa de desemprego pouco variou da série antiga para a nova.>
Houve diferenças mais nítidas em números absolutos, já que o Censo 2022 contabilizou menos habitantes do que o sinalizado nas estimativas anteriores, que eram usadas na pesquisa do mercado de trabalho.>
Isso, contudo, não alterou a "dinâmica" do emprego e da renda que já era observada na Pnad, conforme Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE.>
"As piores coisas continuaram na pandemia, e a recuperação veio posteriormente", disse. "Foi uma atualização de população", completou.>
A Pnad é uma pesquisa que trabalha com uma amostra que deve ser representativa dos domicílios brasileiros.>
Por isso, a atualização com base em projeções populacionais mais recentes é recomendada por especialistas.>
A taxa de 5,8% veio levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 6% até junho, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 5,8% a 6,2%.>
Beringuy afirmou que o mercado de trabalho segue mostrando resiliência no Brasil, embora alguns indicadores macroeconômicos não estejam dentro do que alguns analisas consideram mais adequado.>
"O crescimento acentuado da população ocupada no trimestre influenciou vários recordes da série histórica, dentre eles a menor taxa de desocupação", disse a técnica do IBGE.>
A população ocupada com algum tipo de trabalho foi estimada em 102,3 milhões de pessoas até junho. É o maior patamar da série.>
Houve crescimento de 1,8% (mais 1,8 milhão) ante o período encerrado em março, quando o contingente estava em 100,5 milhões, de acordo com a pesquisa atualizada.>
Na série antiga, antes da revisão, número de ocupados até março era estimado em 102,5 milhões.>
O aumento da população com trabalho foi puxado pelo grupamento que inclui atividades do setor público, com ênfase na área de educação. A alta do número de ocupados foi de 4,5% nesse conjunto (mais 807 mil).>
Já a população desempregada, que está à procura de trabalho, foi estimada em 6,3 milhões até junho.>
Houve recuo de 17,4% (menos 1,3 milhão) frente aos três meses anteriores, quando o contingente estava em 7,6 milhões, segundo os dados atualizados. Na série antiga, o número de desocupados era de 7,7 milhões até março.>
O desemprego costuma subir no início de ano com o fechamento de vagas temporárias e tende a cair nos meses seguintes, o que ocorreu no período até junho.>
O IBGE disse que o número de empregados no setor privado com carteira assinada renovou a máxima da Pnad: 39 milhões.>
Outro grupo que voltou a bater recorde foi o dos trabalhadores por conta própria, chegando a 25,8 milhões.>
A maior parte dos autônomos é formada por aqueles sem CNPJ, que atuam na informalidade. Eles são 18,9 milhões, o equivalente a 73,1% do total.>
Os trabalhadores por conta própria com CNPJ representam a minoria (26,9%), mas vêm em crescimento. Alcançaram o patamar de 6,9 milhões até junho, recorde da pesquisa.>
O avanço dos MEIs (microempreendedores individuais) pode explicar parte da corrida pela formalização, de acordo com o IBGE.>
O rendimento médio do trabalho da população ocupada também renovou a máxima da pesquisa.>
A renda foi estimada em R$ 3.477 por mês no trimestre até junho. O indicador teve crescimento de 1,1% em relação ao período finalizado em março (R$ 3.440).>
Com o avanço do emprego formal, a taxa de informalidade recuou a 37,8% até junho.>
O indicador estava em 38% no trimestre encerrado em março. Essa taxa mede a proporção de informais no total da população ocupada.>
Segundo o IBGE, o mercado de trabalho passa por recuperação nos últimos anos, após a pandemia.>
Economistas afirmam que esse movimento refletiu o desempenho aquecido da atividade econômica em meio a medidas de estímulo do governo federal.>
A geração de emprego e renda serve de incentivo para o consumo. A demanda constantemente aquecida, por outro lado, tende a gerar uma pressão sobre a inflação.>
Para conter o aumento dos preços, o BC (Banco Central) promoveu um choque na taxa básica de juros, a Selic. O ciclo de aumento da taxa foi interrompido na quarta (30), em 15% ao ano.>
A elevação da Selic encarece o crédito, o que desafia a expansão da economia e do mercado de trabalho.>
"A gente tem políticas fiscais e monetárias desarmoniosas no Brasil. Então, não adianta o Banco Central colocar a taxa de juros em 15% se o governo continuar a liberar verbas", diz o economista Bruno Imaizumi, da consultoria 4intelligence.>
"Vai continuar a estimular a economia artificialmente. Isso é positivo no curto prazo para o mercado de trabalho, mas é muito negativo no médio ou longo prazo", completa.>
Com a força da atividade econômica, Imaizumi prevê desemprego de 5,4% no trimestre até dezembro.>
Segundo ele, o envelhecimento da população também ajuda a frear a desocupação, devido à saída de idosos da força de trabalho. "Vai ser normal termos taxas menores de desemprego", afirma.>
Se outro indicador pesquisado pelo IBGE, a taxa de participação, repetisse a média de 2019 (pré-pandemia), a desocupação estaria próxima de 7%, e não em 5,8%, acrescenta Imaizumi.>
A taxa de participação mede o percentual da população de 14 anos ou mais que está inserido na força de trabalho. Esse grupo inclui as pessoas que trabalham (ocupadas) e as que estão à procura de vagas (desempregadas).>
No trimestre até junho, a taxa de participação subiu a 62,4%. O indicador, contudo, segue abaixo do pré-pandemia. Era de 63,6% em igual trimestre de 2019.>
Para Imaizumi, o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, traz risco a empregos no Brasil, mas de modo setorial. Ou seja, a ameaça seria mais restrita a setores diretamente afetados pela sobretaxa nas exportações ao mercado americano.>
"Acreditamos que o mercado de trabalho continuará forte ao longo de 2025", diz o economista Heliezer Jacob, do C6 Bank.>
"Nossa projeção é de que a taxa de desemprego encerre o ano próxima a 5,5%, patamar bastante baixo para os padrões históricos do país", completa.>
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