Publicado em 5 de abril de 2023 às 19:01
SÃO PAULO - A Bolsa fechou em baixa nesta quarta-feira (5), com os investidores reagindo principalmente ao anúncio de mudança na política de preços da Petrobras. Segundo analistas, o mercado sempre fica muito sensível a qualquer sinal de interferência política em estatais, especialmente na petroleira.>
O dólar também recua, assim como os juros, influenciados principalmente por dados da economia americana. Os números mostram uma desaceleração maior que a esperada pelos economistas.>
O Ibovespa fechou o dia em baixa de 0,88%, a 100.827 pontos. Na mínima do dia, o índice chegou a ficar abaixo dos 100 mil pontos. O dólar comercial à vista caiu 0,66%, a R$ 5,049. É a segunda vez no ano que o dólar fecha abaixo dos R$ 5,05. A primeira vez foi no dia 2 de fevereiro.>
Os juros futuros caíram, com mais intensidade nos vencimentos mais longos. Para janeiro de 2024, as taxas passaram de 13,23% do fechamento desta terça-feira (4) para 13,22%. Nos contratos para janeiro de 2025, os juros recuaram de 11,99% para 11,96%. No vencimento em janeiro de 2027, a taxa caiu de 11,99% para 11,93%.>
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Em entrevista ao canal GloboNews, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que haverá mudanças na política de preços da Petrobras. A empresa deixará de lado a paridade com os preços internacionais dos combustíveis e vai adotar um parâmetro baseado no mercado interno.>
Segundo Silveira, a medida deve provocar uma queda entre R$ 0,22 e R$ 0,25 no preço do litro do diesel. Ele chamou de "absurdo" a política de paridade internacional, e que a Petrobras terá que criar um colchão para amortecer as variações nos preços provocadas por crises internacionais.>
As declarações irritaram a cúpula da Petrobras, que se vê sob ataque do ministério desde o início da gestão. Executivos ouvidos pela reportagem dizem desconhecer a proposta do ministro e reclamam de ingerência do governo na companhia, por descumprir os procedimentos internos de aprovação e divulgação de decisões estratégicas.>
No início da tarde, a Petrobras confirmou em nota que "não recebeu nenhuma proposta do Ministério das Minas e Energia" e que eventuais propostas de política de preços "serão comunicadas oportunamente ao mercado, e conduzidas pelos mecanismos habituais de governança interna da companhia".>
Para Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, o anúncio representa uma "interferência política" do governo na Petrobras. "Isso acaba penalizando bastante as ações da empresa", afirma Bento.>
A reação da companhia às declarações do ministro ajudaram as ações a reverter a tendência de queda apresentada desde o início do dia, e aliviaram a pressão sobre o Ibovespa. Os papéis ordinários e preferenciais da Petrobras subiram 0,14% e 0,32%, respectivamente.>
Mas a Bolsa local sofre também com o aumento das preocupações com uma recessão da economia dos Estados Unidos, segundo Bento.>
Os impactos são sentidos especialmente por empresas exportadoras. A ação ordinária da Vale recuou quase 1,5%, e a ordinária da Suzano caiu mais de 3%.>
Um dado americano que chamou a atenção do mercado nesta quarta-feira foi o levantamento PMI do setor de serviços. Ele é medido em pontos, e quando fica acima de 50, indica expansão. Abaixo deste patamar, aponta retração.>
O PMI de serviços em março nos Estados Unidos ficou em 51,2 pontos, ante 55,10 em fevereiro. A média das projeções de economistas ouvidos pela Bloomberg era de 54,4 pontos.>
O mercado de trabalho também registrou forte desaceleração em março. O relatório ADP, que mostra como está a criação de vagas no setor privado americano, registrou a abertura de 145 mil postos de trabalho em março, ante 261 mil em fevereiro.>
André Fernandes, diretor de Renda Variável e sócio da A7 Capital, observa que os indicadores mais fracos da economia americana tem feito o dólar perder força globalmente. "Ao olharmos o DXY (índice que compara o dólar com uma cesta de moedas de países desenvolvidos), ele caiu mais de 2% em março", afirma Fernandes.>
Os indicadores divulgados nesta quarta-feira levam a uma chance maior, segundo economistas, de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) faça uma pausa no ciclo de alta dos juros.>
Mas Loretta Master, presidente do Fed de Cleveland, reforçou que os juros devem subir mais e ficar em patamares elevados por mais tempo, para levar a inflação à meta de 2% ao ano. Para analistas, os dados de inflação que serão anunciados na próxima semana terão peso importante na próxima reunião para decisão sobre juros, em maio.>
Em Nova York, os receios de que o país esteja perto de uma recessão pesaram mais que a perspectiva de pausa na alta dos juros. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,24%. Mas os índices S&P 500 e Nasdaq recuaram 0,25% e 1,07%, respectivamente.>
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