Publicado em 13 de março de 2020 às 20:31
Mesmo com a forte recuperação do Ibovespa nesta sexta-feira (13), a Bolsa brasileira registrou a pior semana desde a crise financeira de 2008. Desde segunda (9), o índice se desvalorizou 15,63% e terminou cotado a 82.677 pontos, o menor patamar desde as eleições de 2018, que elegeram Jair Bolsonaro presidente. >
A semana, marcada pela aversão a risco frente aos impactos econômicos do coronavírus, também foi uma das mais voláteis da história. Nesta sexta, o Ibovespa chegou a subir 15,4% na abertura e operar perto da estabilidade por volta das 12h30.>
O índice, contudo, voltou a ganhou força à tarde e fechou em alta de 13,91%. Na véspera, ele despencou 14,8% depois de dois circuit breakers - paralisação das negociações em quedas acentuadas, na pior queda diária desde 1998, ano marcado pela crise russa.>
"As pessoas aproveitaram para comprar coisas barata logo cedo, mas muita gente embolsou ganhos. Quem vai querer terminar o pregão posicionado hoje sem saber o que acontece sábado ou domingo? Melhor dormir tranquilo", afirma Henrique Esteter, analista da Guide. ?>
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Analistas apontam que a mínima do índice nesta sexta se deve à notícia da Fox News de que Bolsonaro teria testado positivo para o coronavírus. A informação foi negada pelo presidente.>
"Estamos enfrentando três fatores: a crise econômica, com dados e economia fracos, uma crise política, com conflitos entre o Congresso e equipe econômica atual e agora o coronavírus e a interrupção de atividades. Somamos a isso o clima de aversão global e temos o câmbio estressado", diz Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.>
Na última semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trocaram provocações acerca da responsabilidade sobre medidas para amenizar os efeitos econômicos do coronavírus. Segundo Guedes, no pior dos cenários, a economia brasileira pode crescer apenas 1% em 2020 devido a doença.>
Na quarta, o Congresso impôs derrota ao governo Bolsonaro ao derrubar veto do presidente Bolsonaro e ampliar o número de famílias atendidas pelo BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a quem está em situação de extrema pobreza.>
A medida aumenta o gasto do governo em R$ 20 bilhões por ano e coloca em xeque a sustentabilidade o teto de gastos, considerado essencial pelo mercado financeiro para deter a trajetória de endividamento do governo.>
Nesta sexta, o dólar subiu 1,02%, a R$ 4,8280, novo recorde nominal (sem contar a inflação). Na máxima do dia, a moeda foi a R$ 4,879. O dólar turismo está a R$ 5 na venda. Em casas de câmbio, é vendido acima desse patamar.>
Na sessão, o Banco Central (BC) vendeu R$ 2 bilhões em leilão de linha -venda com compromisso de recompra.>
Na semana, em que a cotação do dólar comercial superou os R$ 5 pela primeira vez na história, a moeda americana acumula alta de 4%. Essa é a maior valorização semanal desde novembro de 2019, quando Lula saiu da prisão em Curitiba, e Estados Unidos e China estavam em conflito pela guerra comercial entre os países. ?>
Nos últimos dias, o dólar e o Ibovespa também acompanharam movimentos globais. Com uma maior confiança na economia americana, o dólar ganhou força ante a maior parte das divisas globais, como o euro e a libra.>
Nesta sexta, o presidente americano, Donald Trump, declarou estado de emergência nos EUA, o que libera até US$ 50 bilhões em gastos. Ele também anunciou testes gratuitos para o coronavírus, que vão funcionar como um "drive thru", em que a pessoa não precisa sair do seu carro para que uma amostra seja recolhida.>
Mais cedo, a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, disse que a casa iria aprovar medidas contra a crise do coronavírus, independente das negociações com o governo de Trump. Além do teste gratuito, democratas querem licença médica paga e maiores benefícios para os desempregados.>
As medidas deixaram investidores mais confiantes. O rendimento do título do Tesouro americano disparou para 0,989% ao ano, maior patamar desde 4 de março. Dow Jones subiu 9,36%, S&P 500, 9,29% e Nasdaq, 9,35%.>
Na Europa, o índice Stoxx 600, que reúne as maiores companhias da região, subiu 1,4%. Londres teve alta de 2,46%, Paris, 1,83% e Frankfurt, 0,77%.>
O petróleo também se recuperou. O barril do tipo Brent subiu 4,43%, a US$ 34,69. A matéria-prima foi um catalisador das perdas desta semana depois que a tentativa da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de reduzir a produção e, assim, causar o aumento do preço do óleo, foi frustrada pela Rússia.>
Em resposta, a Arábia Saudita afirmou que aumentaria a oferta do combustível e reduziria o preço, o que fez a cotação desabar a níveis de 2016.>
Com o cenário negativo, a Petrobras perdeu R$ 102,6 bilhões em valor de mercado na semana, a maior desvalorização da Bolsa brasileira, segundo dados da Economatica. No ano a queda é de R$ 202,9 bilhões.>
A empresa agora está no mesmo patamar de junho de 2018, antes da corrida eleitoral. Nesta sexta, as ações preferenciais (mais negociadas) da companhia tiveram alta de 20%, a R$ 15,12. No dia anterior, haviam desabado 20,5%.>
Também na quinta, Estados Unidos e Europa tiveram a maior queda diária desde a Segunda-Feira Negra, em 1987, quando o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, desabou 22,61%. A desvalorização veio depois que Trump proibiu a entrada nos EUA de estrangeiros que tenham passado na Europa nos últimos 14 dias.>
A queda, contudo, foi amenizada pela injeção de US$ 1,5 trilhão em liquidez no mercado anunciada pelo Fed, banco central americano.>
Um rendimento maior do Tesouro é sinal de menor aversão a risco do mercado. Enquanto investidores estão mais confiantes e compram ações, muitos resgatam investimentos nesses títulos, que são mais seguros. O movimento faz o rendimento destes títulos subir.>
Com menor aversão a risco, o mercado voltou a precificar corte na Selic na próxima reunião do Copom. Segundo a curva de contratos de juros futuros, a redução deve ser de 0,25 ponto percentual, o que levaria a Selic para 4% ao ano.>
O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Defautl Swap) de cinco anos, medida acompanhada pelo mercado financeiro para avaliar a capacidade de um país honrar suas dívidas, caiu 16,5%, a 258 pontos, maior patamar desde outubro de 2018, período marcado pelas eleições presidenciais.>
Na véspera, ele saltou 42%, a segunda maior alta diária da história do índice, que surgiu em 2001.>
No exterior, o CDS do Chile caiu 6,5% e o da Argentina, 37%, enquanto o da Turquia subiu 8,5%.>
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