No início da ensolarada tarde de quinta-feira, dia 7, recebi uma mensagem: “Augusto Nunes bateu no Glenn”. Corri pro Twitter pra entender e me deparei com uma lamentável imagem de Glenn Greenwald sendo agredido fisicamente pelo também jornalista Augusto Nunes ao vivo.
Em setembro, Augusto disse que o “juizado de menores” deveria investigar quem estaria cuidando dos filhos de Glenn e David Miranda, uma vez que este último é deputado federal e Glenn, segundo Nunes, “passa o dia dando chiliques no Twitter”. Ao estarem juntos na última quinta, Glenn perguntou a Augusto se ele ainda acreditava que o Ministério Público deveria investigar a situação dos filhos. Contrariado, Augusto respondeu que Glenn “não sabe identificar ironia” e “um ataque bem humorado”. Glenn, então, afirmou de forma incisiva que Augusto Nunes é um covarde. Já Nunes afirmou que “iria mostrar” a Glenn, momento em que passou a agredi-lo fisicamente.
Em nota após o ocorrido, Augusto Nunes afirmou: “não resisti ao que me sugeriam a voz dos instintos e honra ferida”. Eu não diria que foram os “instintos” que o levaram à agressão, mas sim sua covardia e o imaginário de masculinidade viril que move o cotidiano de homens como Augusto, que não aceitam serem contestados sob pena de sentirem sua honra ferida.
O mandato da masculinidade não suporta ser desafiado e, quando é, muitas vezes é externado com violência física, tendo como vítimas mulheres e homens que fogem do padrão vendido como aceitável pela sociedade. A família de Glenn e David desafia esse mandato. A atuação de Glenn, seja como um dos jornalistas responsáveis por divulgar informações de esquemas escusos dentro da operação que alterou a forma de pensar e fazer política no Brasil e, ainda, revelou o lado desumano de muitos brasileiros, seja como vencedor do prêmio Pulitzer por informar ao mundo o sistema de espionagem que o governo dos Estados Unidos fazia, faz com que fique visível a reação autoritária, covarde e violenta de homens que, assim como Augusto Nunes, acreditam no seu poder de cessar o embate de ideias com um tapa, saindo impunes.
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Glenn Greenwald parece não temer os desafios. Expôs um lado espúrio do Judiciário, participou de audiências no Senado e na Câmara sobre a “Vaza Jato”, esteve ao lado de alguém que usa a imagem de seus filhos para atacar aquele que acredita ser inimigo. Já Augusto Nunes e seus apoiadores, por não tolerarem o diálogo e o diferente, usam da violência para calar aquele que expõe opinião diversa e, assim, serão eternos covardes.
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