Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Um Lindo Dia na Vizinhança" é lição de 'good vibes' com Tom Hanks

Com Tom Hanks indicado ao Oscar, filme mostra a relação real entre um jornalista amargurado e um apresentador que sempre olha para o lado bom das coisas

Publicado em 28/01/2020 às 15h17
Atualizado em 04/02/2020 às 12h31
 Crédito: Sony Pictures/Divulgação
Crédito: Sony Pictures/Divulgação

Fred Rogers (1928 - 2003) é uma lenda americana. Por 23 anos ele foi apresentador do programa “Mister Rogers’s Neighbohood” (“A vizinhança do Mr. Rogers”, em tradução livre), uma atração infantojuvenil no qual tratava assuntos sérios com muita leveza em canções que formaram gerações nos EUA.

Lançado em 2018, o documentário “Won’t You Be My Neighbor?”, de Morgan Neville, mostra quem foi a figura de Rogers e seu legado na cultura americana - o filme, documentário de maior bilheteria na história dos EUA, entrou em várias listas de melhores daquele ano, inclusive na do ex-presidente Barack Obama. O filme chegou por aqui com o péssimo título de “Fred Rogers: O Padrinho da Criançada” e está disponível para compra e locação em alguns serviços de streaming, mas a verdade é que pouca gente se importa com Mr. Rogers no Brasil.

Talvez justamente por isso “Um Lindo Dia na Vizinhança” tenha tido um lançamento brasileiro tão acanhado. No filme de Marielle Heller, Tom Hanks vive o saudoso apresentador em uma atuação que lhe garantiu uma indicação ao Oscar. Não indicado desde “O Náufrago” (2001), Hanks agora disputa pela primeira vez a categoria de Melhor Ator Coadjuvante - sim, porque o filme de Heller não é sobre Rogers, mas sobre o efeito que ele causava nas pessoas.

Na trama, livremente inspirada em fatos, Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um premiado jornalista investigativo pautado para fazer um perfil de Fred Rogers para uma edição sobre heróis americanos. Excelente repórter, Lloyd tem personalidade difícil e se tornou uma persona não muito querida entre os possíveis entrevistados. O jornalista é cético, amargurado por problemas familiares, o tipo de pessoa que acreditaria que Mr. Rogers é um personagem e que tudo aquilo não passa de um teatro para agradar às crianças.

É sustentado sobre essa dinâmica que “Um Lindo Dia na Vizinhança” se desenvolve. Enquanto presenciamos a relação entre Lloyd e Rogers sendo construída, acompanhamos também como essa amizade interfere na vida do jornalista. Marielle Heller dirige com sensibilidade e estilo, recriando cenários do programa e até brincando com a linguagem com eficiência ao invés de construir uma narrativa 100% convencional; as trocas de cenas passando pelas maquetes são ótimas, assim como algumas sequências mais “estranhas”.

 Crédito: Sony/Divulgação
Crédito: Sony/Divulgação

Tom Hanks constrói um Fred Rogers impecável, dos trejeitos ao tom de voz calmo e à fala cadenciada. O personagem de Rhys obviamente é o oposto, sempre tenso, pronto para explodir e carregando o peso de um sujeito com problemas para se abrir até mesmo com sua esposa, Andrea (Susan Kelechi Watson). O elenco ainda é completado por Chris Cooper, que vive Jerry, pai do protagonista, personagem com pouco tempo de tela, mas uma figura importante na trama.

Longe de ser uma cinebiografia de Rogers, “Um Lindo Dia na Vizinhança” é uma versão romantizada da entrevista feita por Tom Junod para a “Esquire” - o jornalista pediu que seu nome não fosse utilizado, mas afirmou ter visto sua relação com o apresentador representada em tela.

Para o brasileiro, porém, que pouco sabe sobre Rogers, o filme é bom, mas não tão atrativo. A história é bonita, edificante, uma lição de vida etc. etc. etc., mas falta conexão, identificação do público com o catalisador dessas mudanças. Tom Hanks é um ótimo Mr. Rogers, mas isso pouco significa por aqui.

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