Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Truth be Told", da Apple, tem grande elenco, mas pouco foco

Série se aproveita da onda de podcasts sobre crimes nos EUA para contar uma história fictícia sobre um crime nem tão misterioso assim

Publicado em 11/12/2019 às 19h39
Aaron Paul em Truth be Told. Crédito: Apple
Aaron Paul em Truth be Told. Crédito: Apple

Em pouco mais de 40 dias de funcionamento, o Apple TV+ ainda não encontrou uma série que sozinha atraia o assinante ao serviço. Sim, “See” é legalzinha, “Servant” é interessante, assim como “For All Mankind”, e “The Morning Show”, com uma indicação ao Globo de Ouro, tem um elenco de fazer inveja (Steve Carell, Jennifer Aninston, Resse Witherspoon), mas é o suficiente?

“Truth be Told”, nova atração do serviço, é mais uma boa adição, mas também não é um grande chamariz. Produzida e roteirizada por Nichelle Tramble Spellman (“The Good Wife”), a série se baseia no livro “Are You Sleeping?”, de Kathleen Barber (não lançado no Brasil), e tem no elenco nomes como Octavia Spencer (“A Cabana”), Aaron Paul (“Breaking Bad”) e Lizzy Caplan (“Masters of Sex”).

A trama ficcional segue a tendência americana de podcasts sobre crimes reais. Hoje trabalhando como podcaster, Poppy (Spencer) cobriu, há duas décadas, com uma série de artigos, o caso do jovem Warren Cave (Paul), um condenado por homicídio. Agora com novas evidências surgindo, ela parece determinada a provar que ele era inocente das acusações e a mudar a opinião pública sobre o rapaz.

Ao contrário das produções em que se inspirou, como “Making a Murderer”, da Netflix, “Truth Be Told” comete um equívoco grave ao praticamente eliminar o mistério logo em seus primeiros episódios. Ao invés de apostar na dúvida, a série deposita suas fichas no desenvolvimento dos personagens, uma escolha louvável, mas que não funciona. As cenas que mostram a vida de Warren dentro da prisão, por exemplo, por mais sofridas que sejam, não apresentam nenhuma novidade, apenas seguem a cartilha do filme/série de prisão.

Lizzy Caplan vive gêmeas que lidaram com o trauma do passado de maneira distinta; uma seguiu com a vida enquanto a outra praticamente se tornou outra pessoa, com uma nova identidade, para não ter que conviver com as constantes lembranças. Os três episódios iniciais de “Truth Be Told” têm bons momentos quando apostam nessa dualidade, mas quase mergulham no melodrama gratuito ao tentar ir mais a fundo no drama familiar dos Buhrman.

Octavia Spencer em Truth be Told. Crédito: Apple
Octavia Spencer em Truth be Told. Crédito: Apple

O livro tem Warren como protagonista, mas a série opta por deixar o foco em Poppy. O problema é que a personagem não engrena - culpa do roteiro, não de Octavia Spencer. Na maior parte dos três primeiros episódios, a jornalista é vista tentando dar uma direção para sua família, seus relacionamentos com o marido e o pai, enquanto reinvestiga o caso de Warren. Parece várias séries em uma e nenhuma dela prende seu espectador.

A melhor das subtramas envolve o pai da protagonista e adiciona carga dramática à trama. A história também permite à série explorar questões de raça e classe nos EUA com uma tensão crescente entre os personagens antes próximos que ascenderam socialmente e os que continuam em situação delicada.

É óbvio que “Truth be Told” pode melhorar nos próximos episódios - foi assim com “The Morning Show” -, mas a série, até o momento, é um aglomerado de boas intenções mal executadas. Diálogos expositivos e uma trama que bisonhamente funciona melhor quando abandona seu centro e parte para os personagens periféricos.

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