Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Star Wars: A Ascensão Skywalker" satisfaz, mas é covarde em suas escolhas

Filme que encerra a saga dos Skywalker, iniciada lá em 1977, faz escolhas seguras com medo de desagradar os fãs da franquia

Publicado em 19/12/2019 às 04h35
Atualizado em 19/12/2019 às 20h04
Filme "Star Wars: A Ascensão Skywalker". Crédito: Disney/Divulgação
Filme "Star Wars: A Ascensão Skywalker". Crédito: Disney/Divulgação

É difícil dar adeus a personagens e histórias icônicas. Lidar com a expectativa dos fãs, então, nem se fala. É uma questão de respeito a tudo o que foi contado e de recompensa àquelas pessoas que dedicaram horas, quicá dias ou meses de suas vidas acompanhando cada uma daquelas tramas e subtramas exploradas à exaustão pela cultura pop.

A saga dos Skywalker começou lá em 1977, com o primeiro "Guerra nas Estrelas". George Lucas criou um universo irresistível que misturava faroeste, ficção científica e cultura japonesa, algo como Hollywood não havia visto antes. Desde então todos sabem (ou deveriam saber) quem é Luke, Leia, Han Solo, Chewbacca ou Darth Vader, personagens que atravessaram gerações até chegar agora a "Star Wars: A Ascensão Skywalker", filme que conclui a história iniciada há 42 anos.

Novamente dirigida por J. J. Abrams ("O Despertar da Força"), a saga deixa um pouco de lado muito do que foi visto em "Os Últimos Jedi" (2017), filme que, apesar de vários problemas, tentou tirar a franquia do lugar seguro em que ela se encontrava após o nostálgico "O Despertar da Força" (2015), primeiro da nova trilogia. O problema é que o filme de Rian Johnson não foi bem recebido, fãs se sentiram incomodados, queriam a segurança, o conforto. Volta, então, J. J. Abrams.

Considerado por muitos um Midas e por outros um cineasta superestimado, Abrams entrega um "Star Wars" superseguro em "A Ascensão Skywalker", um filme com tudo o que o fã espera encontrar, que faz parecer que seu antecessor foi um acidente de percurso, um desvio para aumentar o caminho, mas algo tranquilamente contornável.

Assim, o novo "Star Wars" entrega o que promete: uma conclusão satisfatória para a jornada dos Skywalker, mas a que custo? Continuamos acompanhando a Resistência da General Leia (Carrie Fisher, em seu último papel) e a jornada de autoconhecimento de Rey (Daisy Ridley), uma história ligada pela Força à de Kylo Ren (Adam Driver).

Com muitas pontas soltas para amarrar, o roteiro engata acontecimentos e situações que façam caber nos 141 minutos de filme tudo o que se espera - estão lá as piadas, os personagens, as referências, as frases de efeito… É quase como se os atores em tela olhassem para o público e apontassem o dedo dizendo "essa é pra você. Obrigado". O público, satisfeito, responde, sorri, se sente correspondido.

O tempo que o filme gasta com isso, porém, não é recuperado; metade das aparições surpresas não fazem diferença alguma à trama. Dessa forma, "A Ascensão Skywalker" perde em drama e profundidade. Há pouco tempo para respiro, contemplação, conflitos. O público já sabe, antes de entrar na sala, que Rey será tentada pelo lado escuro da força e que Kylo Ren continuará com seus conflitos internos, mas são momentos mal-construídos e de resoluções quase imediatas. O mesmo acontece com o destino de um personagem, ainda no início do filme, quando não há tempo para imaginarmos o que aconteceu.

Filme "Star Wars: A Ascensão Skywalker". Crédito: Disney/Divulgação
Filme "Star Wars: A Ascensão Skywalker". Crédito: Disney/Divulgação

O que incomoda é a segurança das escolhas, pois o filme em momento algum surpreende ou se arrisca, uma coisa bem Disney mesmo. Os fantasmas ex-machina estão todos lá (claro), sempre aparecendo no momento certo, e sem surpresa alguma, para dar rumo à trama e colocar os protagonistas de volta no caminho certo. Há também o personagem que surge do nada e, de repente, sem ninguém nem perguntar, coloca tudo nos trilhos novamente.

Isso significa que o filme é ruim? Não. O novo "Star Wars" diverte e até satisfaz em sua conclusão. Os duelos com sabre de luz são excelentes, mais brutos, raivosos e carregados de emoção, bem diferentes do balé de computação gráfica que vimos em filmes anteriores - a luta sobre as ondas é impecável. O terceiro ato funciona, mesmo que careça de emoção, e o mesmo acontece com personagens novos como Babu Frik. A sensação, ao final, é de completude, mas não total.

A saga dos Skywalker chegou ao fim, mas isso obviamente não significa que não veremos novos "Star Wars". As possibilidades, no momento, não chegam a empolgar; como visto em "The Mandalorian" série do Disney+ sobre o caçador de recompensas que acaba com o famoso Baby Yoda em mãos, continua difícil dissociar a saga de seus personagens clássicos. Talvez seja a maneira Disney de fazer "Star Wars", ou talvez seja só o medo de arriscar, mas o universo criado por George Lucas oferece muito mais possibilidades do que as que têm sido exploradas.

"Star Wars: A Ascensão Skywalker" é  como um certo personagem do filme, que passa o tempo inteiro querendo dizer algo, mas nunca diz. É um produto seguro, mas que se beneficiaria de um comando disposto a assumir riscos e reinventar toda a franquia. J. J. Abrams não era esse cara.

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